As crianças só querem ser felizes. As crianças não querem
chatear a cabeça a ninguém.
Ontem, vi um meme no facebook que era assim:
Ciclo da vida em 3 passos
1º nascemos
2º que raio é isto?
3º morremos
O meu pai disse-me, quando percebeu que já lhe restava pouco
tempo de vida - olha que a vida são só 2 dias, eu pensava que eram 3, mas são
mesmo só 2.
E é isto.
Nascemos, chateamo-nos e morremos. Não sei, nem me interessa
explorar, se foi sempre assim, se alguma vez o Homem soube viver e se
desaprendeu, etc. Acho mesmo que cada época tem as suas coisas boas e as suas
coisas más e que não é possível fazer comparações. Se o mundo vai acabar um dia
destes, ora porque implode, ou é invadido por marcianos ou outros, ora porque o
próprio homem se aventure numa 3ª guerra mundial, também me interessa pouco.
Não hei-de ficar cá para a semente, nem me sentirei sozinha
no inferno, certamente.
Uma amiga publicou um livro lindo e sereno, o ano passado. É
um livro onde se vive devagar, ou antes, onde se vive. Spoiler: acaba assim “as
pessoas deveriam ser deixadas em paz”.
E é isto, também.
E, também ontem, outro meme no facebook sobre a grande salganhada de competências aparentemente necessárias para se ser pai/mãe hoje em dia me fez rir de mim, de todos nós. Aquele riso de quem já está no limiar ora da loucura, ora de baixar braços e desistir.
Uff.
Estou cansada. Estamos todos cansados.
Não estou para aqui a desbaratinar como se eu fora uma carta
fora deste baralho. Aliás, às vezes, penso que sou eu que estou a dar cartas
neste eterno complicar da vida.
A verdade é que ainda não encontrei a solução para as
coisas. A verdade é que tantas vezes ando com o coração nas mãos. A verdade é
que, demasiadas vezes, me apetece fugir. Tornar-me uma espécie de auto-excluída
da sociedade. Mas lá me vou lembrando que não posso fazer isso aos meus filhos.
Será que não tenho estofo para a vida? Serei uma fraca de
espírito? Sim, questiono-me. Já o disse aqui várias vezes, não sou uma pessoa
toda resolvida que já percebeu como é que isto funciona e só anda para a
frente. Não, sou uma barata tonta, é ver-me a inverter marcha, andar para a
frente, recuar, tomar outro caminho. Tudo, menos a, que me parece confortável, sensação de andar para a frente, em linha recta, tranquilamente, sem
sobressaltos.
Não sei como é a vossa vida, mas a minha está sempre a
mostrar-me como “oh, vês como podia ser pior do que há uma semana? Toma lá um
novo sarilho e embrulha.”. Não estou a exagerar. Sendo bem certo que estou
consciente de que as minhas escolhas nunca foram no sentido de uma vida despreocupada,
também não era preciso exagerar. Há dias em que a dose é de tal modo violenta
que ando com o estômago embrulhado.
É nesses dias que digo ao Chaparro “vamos embora”. Às vezes,
ele diz “vamos”, outras vezes responde com a pergunta “para onde?”.
Chiça, mundozinho hostil, este. Quando foi que nos tornámos tão cruéis? Eu acho que a
resposta a esta pergunta é a afirmação definitiva “nunca fomos bondosos”. Num sentido
lato, comunitário.
Quantos fenómenos há de comunidades que tentaram e falharam?
Então, se a solução também não está numa nova fórmula de comunidade, como é que poderemos
viver nesta eterna investida de uns para os outros? Na defensiva? Não posso,
não consigo, recuso-me.
Eu acredito nas pessoas.
Mas o que quer isto dizer - acreditar nas pessoas?
Acredito, acima de tudo, que não sou a única pessoa a querer
o bem comum, para além do meu.
O bem comum, o que é isto? É viver e deixar viver.
Voltamos ao início, não é? Então, porque não o fazemos,
porque somos tão cruéis uns com os outros? Ou, será que faço parte de um grupo
de pessoas tão sensiveizinhas, umas imaturas, sei lá, que deviam mais era
crescer e aceitar o mundo tal como é?
Uff.
Pode ser, sim, em parte. Mas também não é a resposta definitiva,
pois se é verdade que me reconheço uma beca ingénua, também é verdade que sei
identificar maldadezinhas desnecessárias.
O mundo avança e não espera por nós. Quem já perdeu um ente
querido sabe disto. É assim, ponto. Mas eu penso que este facto não deveria
servir para justificar porque avançamos tantas vezes sem poder abrandar o passo
esperando por aqueles que não são como a grande maioria no ritmo.
Existe uma grande maioria de “nós”, sim. E existem milhentos
grupos de minorias que sofrem por não ter o mesmo ritmo, mas o mundo não se
compadece com minorias.
Enfim, este rol de ideias que vos trago hoje é uma grande salaganhada que
provavelmente não se percebe e serve para desabafar sobre as provações a que os
meus filhos estão sujeitos no dia-a-dia. Não lhes bastasse a vida lhes ter sido
penosa na sua primeira fase, quando se tentam pôr de pé o mundo não espera por
eles e rasteira-os, atropela-os, fá-los sentir diferentes, de facto. E eles
confirmam “sou diferente”. O pior é o fluxo habitual das ideias “sou diferente,
de facto, por isso todo o mal que me aconteceu, a culpa é minha, não presto,
não mereço ser feliz” e, vai daí, o que se faz? Mais asneira. É um ciclo bem
tramado de interromper, considerando que nós pais, ainda por cima, não somos
perfeitos pelo que nem sempre temos a atitude que melhor serviria ao bem-estar dos nossos filhos. Fónix, pá. (pardon my french)
Suspiro.
Haja a noção de que hoje é um novo dia. A lembrança do
pequeno-almoço-banquete que a minha filha me preparou ontem de manhã, levantada
com a ansiedade desde as 6h30 e a preocupação do meu filho com o mundo:
Há dias…
- já se sabe quem é o presidente da república de França?
- vai a empate
- quem e quem?
- Macron e Le Pen (já intrigada por não me lembrar de lhes
falar nisto)
- podias ir a França votar no Macron para a Le Pen não
ganhar
(WTF?! Onde é que o puto foi dar conta disto tudo?)
expliquei-lhe a necessidade de se ser cidadão do país para votar nas suas
eleições
Ontem à tarde…
- já se sabe se foi o Macron que ganhou?
(a sério? Ninguém referiu as eleições, a tv esteve desligada
o dia todo excepto para o zigzag)
Hoje de manhã, ao pai…
- já se sabe se foi o Macron que ganhou?
- sim
- ainda bem, é menos mau para os refugiados
(sim, ele disse isso, ele estava preocupado com isso!)
E é isto, amigos. É isto.
Mais, só mesmo lembrarmo-nos a cada
dia de que somos imperfeitos (por isso se inventou deus) e que cada pessoa que
atravessa o nosso caminho trava as suas batalhas, respirar antes de responder
ou reagir aos outros. Quero tanto ser melhor pessoa. Quero tanto ser melhor
mãe. Sei onde falho. Sei onde deveria ser melhor para os fazer sentir mais seguros e em que, ainda assim, vou falhando. Bolas!
E, ainda assim, sou recebida assim no dia da mãe:
As crianças só querem ser felizes. As crianças não querem chatear a cabeça a ninguém.
Bom dia a todos,
que o dia vos seja limpo,
Cipreste