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quinta-feira, 3 de setembro de 2015

sigh

Pois… a escola e os métodos de ensino.

Se me ponho a pensar muito, fico angustiada com o tema “escola”. Como disse ali, a escola é um assunto muito próprio na adopção. Poderia ficar horas a falar disto. Tenho tantas ideias, tantas horas de leitura e reflexão, tantas opiniões e dúvidas - e a sensação da certeza de que estamos a fazer tudo ao contrário do que deveria ser feito. E não tenho tempo para me empenhar em fazer a viragem no paradigma em que estamos. (eu sei, eu sei, também me enjoam um bocado os conceitos como “paradigma” e prometo que não vou usar a palavra começada por “e”)

Dizia que não tenho tempo. Nós não temos tempo. Na nossa família, tratamos o tempo nas palminhas. Ele passou-nos rasteiras e estamos num caminho que nos pode induzir em erro e ficar na ideia de que poderemos recuperar (d)o passado que não nos foi permitido. Assim, temos de estar sempre muito atentos para não resvalar em ideias de “recuperação” mas antes concentrarmo-nos na nossa caminhada - para a frente com aquilo que temos porque o passado foi lá atrás.
Bonito, não é? Fui eu que inventei agorinha mesmo.
Mas não serve.
Não serve porque se a Magnólia não conseguir encaixar as divisões com números decimais não vai ser capaz de fazer não-sei-o-quê e depois nunca vai conseguir aquele trabalho. Estão a ver o filme? E damos por nós, ali, a treinar e a treinar e a treinar. A inventar exercícios práticos com coisas do nosso dia-a-dia a ver se a coisa fica mais natural, etc. Mas nunca sem largar a sensação de que isto de aprender deveria ser muito mais giro do que isto que estamos a fazer e nem por isso ajuda nesta coisa da atenção-concentração-memória. E depois também damos por nós a mandar estas ideias todas à fava. E depois damos por nós no mesmo sítio e a não econtrar formas muito alternativas, embora não competitivas, de estar.

Os meus filhos, como todos os irmãos, são pessoas muito diferentes entre si. Não têm problemas de aprendizagem, apenas tiveram percursos escolares diferentes porque fizeram o início do percurso em diferentes momentos das suas vidas. Ela teve um início mais atribulado, ele quando começou já se encontrava, pelo menos, “protegido”.
Ela é criativa, rica em histórias e sonhos. Ela surge com soluções improvisadas muito boas. Ela não escolheu violino ou piano, ficou desde logo bem definido que o seu interesse era por instrumentos de sopro. E chegou inclusive a dizer-me que “além disso” desejava um instrumento portátil, que pudesse “levar para os sítios”. Acabou por fazer audições para clarinete e fagote. Ficou aprovada para ambos e entrou em fagote. E eu dou por mim deslumbrada com esta ideia da minha filha tão tendencialmente fashion escolher um instrumento tão low-profile e fico assim… deslumbrada. São maravilhosas as nuances que definem a personalidade de cada pessoa. E as nuances que definem as personalidades da minha filha são, de facto, encantadoras.
É a Magnólia.

Ele é aquilo a que lá em casa chamamos “uma personagem”. A sério, o nosso filho é o máximo. Desde as suas expressões faciais, aos gestos que faz com as mãos quando tenta relatar algo, às questões complexas que coloca sobre a vida, é tudo tão delicioso nele. Adora matemática, especialmente os problemas. E adora ler. E adora escrever cartas. Ele gosta de aprender mas detesta os inícios, reage mal à dificuldade inicial antes daquele estado de habituação ao tema. Foge, chora, diz que nunca vai ser capaz, inventa desculpas e, no limite, passa por preguiçoso. Uma pessoa tão inteligente que prefere passar por preguiçoso a dar o salto e mostrar o prazer que tem em aprender. E depois, vamos no carro, ouvimos piano e ele chama-me para me explicar uma coisa da “música quando não faz barulho, estás a ver, mamã?” e eu entro em sintonia com o Universo e sinto toda a gratidão dos tempos por o meu filho acabar de inventar, naquele momento, a noção de silêncio e compassos de tempo.
É o Chaparrito.


Portanto, demos por nós com dois filhos cheios de vida para aprender, em idade oficial escolar, e com o ano lectivo começado. Demos por nós com uma escola a 150 m de casa e com vaga para ambos. Damos por nós neste sistema fechado, de ensino rígido e antiquado. Tivemos sorte, é preciso dizê-lo, com as professoras. O Chaparrito teve mesmo muita sorte, mais ainda do que a Magnólia que calhou com uma professora especial que não é capaz de falar dos meninos sem se comover. Estamos a falar de duas cinquentonas, não estou a falar de noviças que “ainda” se comovem. Reparem: a professora do Chaparrito tem-se correspondido com ele por carta durante as férias (um dia destes digitalizo-as e coloco aqui).

Não critico as pessoas, critico o sistema. Não compreendo como é que mantemos este sistema tão pouco natural. Não compreendo com tal intensidade que me dá vontade de fazer birra e bater com os pés. Depois, leio coisas destas e fico com vontade de chorar e de ir embora. (ainda por cima, eu, que não tenho aquela coisa de ter ídolos, sou uma espécie de fã da Tilda Swinton!)

Já pensei no ensino doméstico, mas isso dá para outro post, a conclusão foi de que: para já, e aqui, não dá.

E ficamos sem saídas, suspirando de alívio por, ainda assim, os nossos filhos conseguirem safar-se (como nós) neste sistema, não sendo daquelas crianças que acabam encaixadas no rótulo do deficit de atenção e hiperactividade ou da dislexia. 
Nuns dias tenho de fazer mais esforço do que noutros para me conformar que não tenho como oferecer alternativas mais simpáticas e naturais para que os meus filhos façam o seu percurso de aprendizagem escolar.



Noutros dias, o Chaparro pergunta-me “porque suspiras tanto hoje?”.

Cipreste