segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

acho que o vou pedir ao pai Natal

Apaixonei-me por um boneco da Imaginarium: é a cópia do meu Chaparrito!


Tudo, os olhitos, o penteado, os acobreados do cabelo, o arzinho tão simpático e doce. Ainda por cima, veste como ele, mesmos tons, riscas... oh, coisa-mais-boa-da-mãe :)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

solidão (e outras formas de mau-estar) na missão da parentalidade

Dei comigo a fazer coisas que jamais imaginei fazer (talvez até jurasse que nunca o faria): gritar aos meus filhos e... (engolir em seco antes de escrever isto)... dar-lhes palmadas.

Sim, já dei palmadas aos meus filhos e não me orgulho de o dizer. 
Não, não passei a acreditar nas palmadas pedagógicas e, sim, continuo a achar que ninguém tem o direito de violentar ninguém - quer seja verbal, quer seja fisicamente.

E agora, onde fica a minha incoerência?
Fica num buraco triste e sem fundo. Fica numa desilusão imensa de mim para mim. 
Mora nos momentos de desespero em que cresce uma distância imensurável entre aquilo em que acredito e a urgência em mostrar-lhes que determinado comportamento é inadmissível.
E respondo com um comportamento também inadmissível.
Será que, afinal, acredito na palmada pedagógica? É que, reparem, luto contra a ideia de que a minha palmada foi um acto incontrolável. Eu não sou como os protagonistas da violência doméstica que depois se mergulham em choros e pedidos de desculpa, eu não digo que não o queria fazer (não o desejava fazer, mas sabia o que estava a fazer).
Afinal, quem comanda o quê nestes momentos? O desespero. É o desespero que toma conta de nós, é a ideia de "último recurso". E quando caímos em nós, pensamos que não pode ser. Sendo bem certo que a palmada surge após a escalada de comportamentos abusivos e repetidos por parte das crianças, há sempre hipótese de fazerem pior, e depois o que fazemos? Mais palmadas? Até doer a sério? Não, não pode ser.
E, assim, damos por nós num lugar solitário e dorido e de arrependimento atroz: falhámos numa das promessas mais importantes, falhámos num dos princípios mais básicos na nossa ética de vida. E cresce uma dor profunda dentro de nós. Olhamos os nossos filhos e pensamos coisas terríveis sobre os danos possíveis da palmada. (não, não me escondo atrás do "eu levei palmadas e não estou traumatizada")
Olhamos os nossos filhos e não nos resta mais senão aceitar a nossa humanidade, que nada mais é do que a prova da nossa imperfeição. Olhamos os nossos filhos e sentimos a urgência de compaixão: para com eles e... para connosco.
Voltamos a fazer votos com as nossas convicções - depois de as confirmarmos de nós para nós (haverá quem as mude e passe a incluir a palmada no seu repertório?).
Isto tudo dói terrivelmente. Por esses dias, fugimos de toda a informação sobre a parentalidade positiva e com apego e não é por tentar negar esses princípios - é por nos sentirmos indignos da companhia de quem se mostra mais capaz do que nós.
O amor entretanto sobrepõe-se e recomeçamos o regresso à sensação de sermos também dignos.
E todo este caminho é tão solitário.

Esta solidão tem muitas portas por onde entra: os juízos de valor, por exemplo, que já nos magoaram profundamente. Se já é difícil que as pessoas sejam compassivas na parentalidade biológica de cada um, garanto-vos que na parentalidade através da adopção o não são de forma implacável. Principalmente as pessoas que têm dificuldade em aceitar quem vive de forma diferente à sua. Sentimos nos seus olhares, ouvimo-lo nas suas palavras e recebemo-lo como balas no peito através de algumas atitudes - que nos doem mais ainda quando são direccionadas aos nossos filhos: primeiro atiram e só depois perguntam. E eu deixei de responder. Fechei a loja para quem me julgou implacavelmente e me deitou ao chão em três tempos morais. Acabou. Porque há limites para os falsos humildes, os falsos simples. Há limites para o espaço que damos aos passivo-agressivos das nossas vidas. Há limites para a benevolência perante atitudes sobranceiras e que trazem mau-estar de facto. Cada um que se amanhe com as suas inseguranças, mas que não as imponha aos outros por causa de serem diferentes.

E, assim, damos por nós numa solidão maior. É bem certo que é uma solidão também escolhida, mas não deixa de ser um lugar difícil.

Entretanto, fiz escolhas conscientes e calculadas. Mantenho todas as pessoas nos meus círculos, apenas umas estão nos círculos mais interiores enquanto outras passaram para círculos mais afastados do meu centro.

Dei com esta moça há algum tempo - cujo site certeiramente se chama "famílias imperfeitas", diz umas coisas que me têm ajudado. Fala desta solidão que  creio que todos, em alguma altura, já sentimos. Fala de algo que nunca devemos deixar de fora desta equação e cuja expressão em língua inglesa exprime muito bem: it takes a village (to raise a child) - a comunidade...



Cipreste

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

e a tentar fazer o encaixe de tudo isto

uma coisa por publicar, com o editor à espera; umas (novas) arrumações que planeei para a nossa sala de forma a podermos fazer ioga e meditação em família; a reestruturação que fiz nos nossos hábitos alimentares e consequente logística; a mudança do meu horário de trabalho implicando almoço em casa 4xsemana (ora com um filho, ora com o outro) e consequente logística; o vídeo/performance que está por fazer há 2 anos (dois - anos!); momentos para estar comigo e com o (luto d') o meu pai; acabar de ler o raio do livro que estou a adorar mas que me adormece, como qualquer outra leitura me adormece assim que caio na cama (vou começar a ler no carro, nos momentos em que espero os meus filhos entre escola-actividades); isto tudo sem sequer falar do meu trabalho (o de ganha-pão) porque aqui listei apenas o que faço na vida familiar e nos meus "passatempos".
e, depois, existe ainda muito eu, eu tudo e cada coisa, eu mulher, eu pessoa, eu casa, eu mundo. vai daí, dou de caras com este excerto:


in História de Quem Vai e de Quem Fica de Elena Ferrante via Não mudes nunca


pronto, ok, seu sei, nem sequer estou afilta e não, não penso que se esteja a perder um génio e sim, eu sei que estou a viver o que sonhei e sim, está a ser muito bom mas uma pessoa, às vezes, deve parar e verificar em que direcção está a seguir 
e, se necessário, dar uns toques no volante
a bem dizer, sou mãe há um ano e perdi um bocado de mim no momento inicial em que era preciso estar com a atenção virada para a adaptação dos meus filhos, agora começo a reencontrar-me nalgumas esquinas e está a ser muito bom
muito bom mesmo
um ano é pouco, bem sei, mas eu tinha saudades de mim
era só isso 

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

cá ando, neste emaranhado

já que não tenho tempo, fica aqui uma ideia do que eu gostaria de conseguir fazer e vir dizer, pela mãe preocupada:

Eu, que tantas birras e amuos tenho aturado aos adultos, não compreendo que dificuldade é esta, pisada, repisada e perversamente alimentada, em entender quem acabou de chegar ao mundo e demora a incorporar códigos, rotinas e convenções.
Não se aguenta mais esta conversinha da treta, lucrativa, bem falante e livresca, sobre disciplina e autoridade. Dissertam sobre educação e amor como quem dá dicas para abrir latas de atum sem verter óleo, mas as latas de atum são todas iguais e saem de linhas de montagem com idêntica mecânica, o que não se aplica à humanidade (por enquanto).
Em todo o caso, que valor tem isto num mundo onde os adultos andam desorientados, desfocados, gastando rios de dinheiro em paliativos, terapias, workshops, esperando receber em três tempos dos céus, dos gurus ou dos manuais a serenidade, a compaixão e a gentileza que nem têm tempo para dar aos outros? Quantos adultos conheço que dizem "por favor" e "obrigada"? Quantos vão dormir a bem? Quantos aceitam aquilo que é facto, o trânsito parado, o dia de chuva, a constipação que já atacou? Quantos não têm achaques nervosos a cada contrariedade? Quantos não vivem para alimentar os próprios caprichos, futilidades, gadgets, acessórios, roupinhas? Quantos não sofrem de um narcisismo crónico que mal disfarçam nas conversas de café e na urgência em aderir a nobres causas? Quantos não viram costas e fecham a cara, só pelo desagrado do que acabaram de ouvir? E quantos não se satisfazem depois a rogar uma praga, a espalhar um boato, a maldizer e vomitar palavrões?
Qualquer criança sabe - porque sente - que não se pode confiar em nada disto. Talvez ajude deixar de esperar se portem como macaquinhos amestrados, como brinquedos programáveis, como estabilizadores das nossas próprias emoções. Talvez ajude aceitar que são gente. E então tudo se aquieta, o que não significa que se resolva.»