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quarta-feira, 16 de março de 2016

nesta pequena aldeia

Ando muito atarefada com um novo e muito aliciante projecto que nada tem a ver com a maternidade nem com a minha profissão, é uma coisa da minha vida dupla e que me faz sentir muito eu, muito a Cipreste ela própria e isso é tão bom, tão revigorante.

Adiante.

Venho dar espreitadas aos blogs dos meus vizinhos e hoje senti o meu coração quentinho.

A Olívia escreveu uma carta à mãe de coração e eu senti-me ali, dentro daquele círculo. Sei que não fui chamada para a conversa, não tinha de ser. Sabemos que fazemos parte de uma comunidade quando nos sentimos parte daquele grupo de pessoas. Senti-me parte de um voto de compreensão e entre-ajuda, para lá das diferenças que são naturais entre as pessoas.

Li a carta e senti-me ao lado da Olívia a dizer à mãe de coração «Estamos aqui, um por todos e todos por um».

Somos poucos*, ou eu é que não os encontro, nesta blogosfera dos pais através da adopção, mas a sensação de comunidade começa a estar lá para mim. A sensação de viver numa pequena aldeia.

It takes a village, diz uma expressão popular em língua inglesa, omitindo o final da frase, pois está lá implícita... to raise a child.

É necessária uma aldeia para criar uma criança.
E garanto-vos que neste mundo da adopção isso se sente de forma muito intensa.
encontrei esta imagem num blog, sem refª ao autor
diz a imagem que a expressão é de origem africana...

Hoje inauguro esta etiqueta - It takes a village, em honra desta pequena comunidade amiga de que me vou sentindo parte.

Bom dia, vizinhos,
Cipreste

* um dia destes vou fazer um apelo à reunião de todos os links da adopção, portugueses, que conheçamos

quarta-feira, 2 de março de 2016

Só mais uma coisinha

Sobre a adopção por casais do mesmo sexo.

Fujo do encaixe dos casais do mesmo sexo como sendo aqueles que serão a tábua de salvação para as crianças que estão no espectro das não desejadas pelos outros candidatos. Esta ideia é feia, injusta e preniciosa tanto para os casais do mesmo sexo quanto para as crianças.

Atenção que, quando digo que se não sou a favor da institucionalização das crianças havendo quem que as queria adoptar, amar e criar, então sou a favor da adopção por casais do mesmo sexo, não estou a resumir a minha visão, nem o leque de crianças a que se possam propor, do direito dos casais à adopção daqueles que mais ninguém quis (dói só de escrever, imagino que doa de ler, mas é ou não é a verdade? Porra.). É apenas um exercício no ponto de partida para a reflexão no assunto.

Acredito não só que esses casais têm o mesmo direito de acesso que eu como também acredito no seu direito a desejar, por exemplo, um bebé.

Espero que agora não se banalize esta imagem de que os casais do mesmo sexo são aqueles que vêm para adoptar os que mais ninguém quer.
Bom, se acontecesse seria uma bela lição para todos os normodependentes, isso era.

O que quero dizer é que não vejo esta conquista dos direitos dos casais do mesmo sexo para além do interesse superior da criança, vejo-a como um interesse superior do amor, isso sim.

A conquista da adopção por casais do mesmo sexo deve ser vista à mesma luz da adopção com quaisquer outros candidatos, de todas as perspectivas - direitos e deveres, claro.

Agora cito-me doutro texto :P
(eu sei, citar-se a si próprio é uma espécie de prática de presunção e água benta)



Digo eu, que às vezes me sinto parte duma minoria na forma como encaro a adopção.
É preciso assumir que isto trata de ideias de supremacia e, em nenhuma situação, deixar que a supremacia dos direitos individuais se sobreponha à supremacia do direito da criança.

Alguém se junta em coro comigo?

Bom dia,
Cipreste

terça-feira, 1 de março de 2016

welcome willkommen bienvenue bienvenido bem-vindo


Escrever o post de ontem e responder agora a um comentário fizeram-me reparar que, de facto, eu que tomo tantas posições, ainda não tinha tomado esta: Bem-vindos, novos candidatos à adopção em Portugal!

Eu acredito nisto: O que faz uma família é o amor.

Finalmente, Portugal juntou-se ao rol de países que permitem a adopção por parte de casais formados por pessoas do mesmo sexo. Ufa. Finalmente, deixou-se de confundir a orientação sexual com a capacidade de parentalidade. Que bom. 

Já o tenho dito várias vezes, gosto de viver neste tempo. Para lá de todas as barbáries que nos sejam contemporâneas e novas face ao passado, vivemos tempos de maior abertura para compreender, respeitar e aceitar a diversidade. Ufa.

Há 10 anos, eu tentava ter uma conversa com alguém sobre a possibilidade de casais formados por pessoas do mesmo sexo poderem adoptar e era quase linchada. Só podia ter esta conversa em meios muito restritos. Hoje, já o podem fazer legalmente. Caramba, isto é uma coisa boa.

Estou feliz e dou as boas vindas aos casais formados por pessoas do mesmo sexo que eventualmente venham aqui parar para conversar sobre adopção. 
Nunca foi nosso objectivo especificar, nem afunilar, o tipo de adopção de que se fala aqui e gostamos e queremos falar com todos. 

Este mundo é muito grande  e tem imensas particularidades, mas essas não devem ser motivo para nos separarmos por grupinhos, antes devemos unir-nos - pais em casal do mesmo sexo, pais em casal de sexos diferentes, pais em adopção individual, pais através da adopção internacional, pais através da adopção na área das necessidades especiais, padrinhos civis, famílias de acolhimento, etc. 

Todos, antes de mais, devemos unir-nos para melhor compreendermos e sabermos como estar na adopção que, por si só, é já bastante difícil, não precisamos de cisões e pseudo-polémicas ;)

Estou curiosa por verificar as adoaptações das equipas para tal, nomeadamente para o aumento do fluxo que imagino que vá acontecer no número de candidaturas. Espero bem que esta alteração à lei venha a ser acompanhada do devido equipamento das equipas, nomeadamente em recursos humanos.


Uma vez mais, welcome willkommen bienvenue bienvenidos bem-vindos  :) falem connosco.

Cipreste

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

and the Oscar goes to...


Inside Out
directed by Pete Docter and Ronnie del Carmen


Divertida Mente



Já tinha prometido falar dele (aqui e ali).
E queria passar-vos cada parte do filme, analisando-o e explicando detalhadamente porque é que quando o vi me emocionei tão completamente, e porque é que achei (e bem) que este era o filme que eu ia passar a usar para abordar a adopção com os meus filhos. Queria, mas não consegui o tempo para o fazer e sou uma chata sempre a queixar-me disto, segue o que consegui escrevinhar.



Eu sei, é como em tudo, o que o filme nos fornece dá para ajudar qualquer criança (e adulto) a compreender uma série de fenómenos do nosso comportamento.

Ok e adiante. Eu. Aqui. Falo das particularidades da adopção.

O filme nem sequer aborda a adopção. Eu sei.

O filme começa com uma situação de separação. Riley sai da sua terra natal, "perde" as suas referências de infância, "perde" a segurança daquilo que é garantido (ou, pensava ela que era), é deslocada para uma cidade desconhecida e vê-se obrigada a fazer um luto do antes e a (re)construir uma série de edifícios para o depois. Alguém consegue ver aqui uma relação com a adopção? Vejo braços no ar? Vejo.

Vejo a retirada da criança do ambiente que conhece e onde se sente segura - é bem certo que aquilo que nós entendemos como segurança pode ser muito diferente do que uma criança negligenciada entende como tal. Mas, apesar disso, essa segurança é para si bem melhor do que o medo do desconhecido, do que perder as suas referências. É bem certo que, no filme, Riley se mantém com os pais, eu não disse que o filme é a adopção preto-no-branco, disse que podemos fazer muitas analogias.

Vejo a chegada a uma nova casa (centro de acolhimento, pais adoptivos), a uma nova escola, a uma nova cidade (até a pizza é diferente! Quem é que se lembra de pôr brócolos na pizza, pelo amor de deus!).

O luto do que ficou para trás, a casa, os amigos, a escola, o desporto, todas as fundações das suas memórias são abaladas (uma vez mais, não, não estou a esquecer os pais quando digo “todas”).

Ruptura. Dor. Incompreensão. Confusão. Medo. Negação. Revolta. Coragem. Luto. Gestão. Processo. Descoberta. Readaptação.

Tristeza.

Todo o processo que se dá de seguida pode ser usado como metáfora para quem, como eu, tem filhos adoptados em idades que já permitam elaborações sobre as suas emoções.

Eis um exemplo duma conversa com a Magnólia, usando o filme, mais coisa, menos coisa, foi isto:

- A Riley também não sabia muito bem como lidar com todas as coisas - as emoções novas, para ela. A determinada altura, ela própria nem sabia bem como reagir, dizia e fazia umas coisas um bocado descabidas (sorrisos). Na verdade, eu acho que o que estavas a fazer era a tentar mandar a tristeza embora, não? E talvez precises dela, para arrumar esse assunto. Lembras-te da Alegria? Ela pensava que a Tristeza não podia tocar em memórias da categoria “boas memórias”, como se as fosse estragar... De facto, as memórias podem tornar-se diferentes consoante aquilo que vivemos, mas não tem de ser catastrófico. Eu penso que se não aceitares que tens saudades de determinada pessoa, por exemplo, e que essa saudade vem acompanhada de uma pontinha de tristeza, então, vai tonar-se num mau-estar a andar sempre aí a incomodar-te, como uma pedrinha no sapato. A Alegria deve deixar a Tristeza fazer parte. TU deverás aceitar a tristeza. Quem sabe, até, possas deixar a Zanga espreitar um bocadinho. Sei lá, deixa entrar todos os que estão a bater à porta. Logo vês como os geres (e rimos). A tua base, a tua essência é de pessoa de bem com a vida. Eu sei que hás-de encontrar o caminho, a forma de estar com todas as emoções de que és capaz. E nós estamos sempre aqui, para partilhares, para conversares quando te sentires confusa.

Bem-dita Riley e respectivas emoções. São evocadas tantas vezes nesta casa.

Agora, não consigo explicar melhor, estou aberta à discussão. Posso dar muitos outros exemplos do Divertida Mente aplicado à adopção.

Volto a esta citação que já tinha usado: in real life, sadness prompts people to unite in response to loss.

E, depois, este personagem que é o Bing Bong, por si só, já devia fazer-lhe valer o "Oscar" ;)

sou apaixonada e vidrada neste ser tonto e doce, alegre, inocente, generoso e altruísta
meio elefante, meio golfinho e cauda de gato, feito de algodão
simplesmente, derrete-me e põe-me um sorriso na cara :)


Para já, vinha mesmo era dizer-vos quem ganhou os “Oscares” :)

Cipreste


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

às vezes, não, não está tudo bem

Tenho lido tanto sobre como lidar com as contrariedades na parentalidade que já tudo me parece a mesma coisa. Neste momento, sinto que a informação está emaranhada num rolhão ali entre o meu cérebro, o meu coração e o meu botãozinho da reacção.

Educar é difícil, muito difícil.
E eu vivo com esta nuance da educação na adopção.

Muitos me dizem que ah, e tal, educar é difícil, ponto. Independentemente de o fazer num contexto de adopção. Sim, mas não.
Quando fizemos uma das formações com a equipa de adopção, tivemos um exercício sobre crenças e mitos. Lembro-me de me quedar muito tempo sobre esta questão: há diferenças entre as famílias adoptivas e as famílias biológicas. Parece fácil de entender, isto, não é? Porém a questão toca ali nas nossas convicções de tipo “ora essa, somos como qualquer outra família”. Da mesma forma como poderá reagir uma mãe a quem eu diga que acho que tem o trabalho mais facilitado por o seu filho ter vivido sempre consigo – não obstante a eventualidade de ter dificuldades próprias. Pois, são diferentes. As famílias, os filhos. A semelhança está no amor.

Quando me frustro e me zango com os meus filhos, quando arrefeço e me arrependo de morte, há uma pedrinha especialmente aguçada que me magoa a alma, a pedrinha da adopção. A pedrinha que me lembra que, não obstante estarmos todos a fazer o nosso melhor, o melhor deles é muito mais esforçado e dorido e doloroso e corajoso do que o nosso. E lembro que não detenho a informação “toda”. Que a codificação, processamento e tradução que fazem das minhas abordagens não está munida da total confiança de que sou deles, toda deles. 
Eles sofreram quebras, rupturas, interrupções no processamento, no seu desenvolvimento de competências que incluem, por exemplo, a confiança no adulto, na sua permanência.
Caramba, eu decorei isto a primeira vez que o li: a vinculação só é considerada completa aos dois anos após a adopção. Mais coisa, menos coisa, ok. Antes decorei a teoria, agora já percebi isto na prática, na pele, já o senti, já sei que é verdade, que não é um mito.

E falho na mesma,
E continuamos, ainda assim, com toda a bagagem que nos permite, pasme-se, reagir como se fôssemos pais biológicos. Os nossos botõezinhos não sabem que estes filhos não estiveram sempre connosco. Aos nossos botõezinhos só deve chegar a informação do amor, digo eu.

Zangarmo-nos com um filho, esquecermo-nos pela milésima vez da promessa de que não voltamos a gritar é normal, é humano. No entanto, quando há uma lacuna na história da família, essa humanidade assume em nós pais uma transformação que faz pesar terrivelmente a dor da nossa falha - como uma quebra na promessa que fizemos aos nossos filhos. A promessa do amor. Nós sabemos que, não obstante o ralhete, os continuamos a amar, mas nunca temos a certeza de como fica a certeza deles.
Depois, a vozinha cá dentro grita-nos e arranjamos maneira de inserir no meio do ralhete “a mãe ama-te muito, não se trata disso, trata-se de não estar nada satisfeita com o teu comportamento”. Ah, e nem sempre a vozinha chega a tempo, e nessas vezes ficamos ainda pior. Na fossa, como se dizia quando eu era adolescente, ficamos na fossa.

Bolas, amamo-los, são os nossos filhos, queremos o melhor do mundo para eles e fazemos isto. Bolas.

E, reparem, a informação que me chega diz que não devia reagir assim, não é? Porque já sei... os actos dos nossos filhos não o são “contra nós”, nem os nossos filhos nos amam menos por não seguir as nossas ordens orientações. Também sei que ficam aflitos e que ficam angustiados (oh, céus, angustio só de escrever isto).
Tantos livros e blogs e esses modernos trainers de famílias e cursinhos e quejandos já mo repetiram. Todos. E nenhum deles o fez com um traço sequer de originalidade que o distinguisse dos outros porque estão estamos todos a falar do mesmo: da humanidade de cada lado da parentalidade, de pais e de filhos. Das expectativas dos pais, do esforço e dedicação dos pais que, muitas vezes, parece cair em saco roto, do cansaço da associação a todas as outras tarefas da vida, da necessidade de colo dos filhos e da imaturidade neuropsicológica própria da idade dos filhos e, e, e que, afinal, só queremos, todos e cada um de nós, apenas... ser amados (no meio destas vírgulas todas que não consigo anular).


Hoje (ontem, escrevo já depois da meia-noite), zanguei-me com ambos meus filhos. Não quis gritar e consegui, hoje consegui, mas nem por isso fui mais simpática. Eles ficaram tristes, eu fiquei triste. Senti um desalento enorme, senti um cansaço enorme.

Às vezes, é muito difícil conciliar o colo todo que se tenta recuperar, com o colo do dia, com as coisas “normais” das crianças, com as coisas “extra” dos nossos filhos em particular, com a sopa, com os deveres, com as nossas coisas.
Às vezes, ficamos muito longe da teoria lógica que todos os experts que referi acima compilaram sobre o que é isso de vivermos em amor e comunhão.


Nesses dias, só me sobra assumir que fiz o meu melhor*, que amanhã quero procurar ser melhor do que fui hoje. E ir espreitar os meus filhos a dormir antes de me deitar.

* o problema é esta sensação de que o nosso melhor não chega, de que o nosso melhor pode fazer mal aos nossos filhos. Oh, angústia...




Nesses dias, tenho tolerância zero a pessoas que falam à professor Eduardo Sá, porque me fica sempre a parecer que, pese embora admitam que somos todos humanos e falíveis, o tom de voz parece dizer-me “ok, eu estou a desculpar-vos por serem assim defeituosos, e só assumo que sou humano por misericórdia com todos vós - mortais”.

Nesses dias, apetece-me dirigir a minha exasperação a algo, sei lá, a alguém. Alguém que não seja os meus filhos. Por isso, mantenho esta irritaçãozinha de estimação com a voz de expert maior do professor e evoco-a. Porque representa para mim todos aqueles que falam como se tivessem a situação milagrosa para isto e eu começo a suspeitar que ela, afinal, não existe. Que temos apenas de aprender a viver com isto e com a possibilidade do dia seguinte.

Vou calar-me, vou espreitar os meus filhos a dormir. 
Estou ansiosa por abraçá-los de novo pela manhã.

Carpe Diem,
Cipreste


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

cenas dos próximos episódios

Vai sair um post sobre como afinal, sim, as crianças conseguem ser muito mázinhas umas com as outras e, não, não estou a falar das honestidades que as crianças dizem de forma cómica aos 3 anos. Estou a falar de crianças da faixa etária dos 10 anos.



Há duas semanas, a Magnólia teve um dos encontros receados e esperados por nós: uma fuinha menina, na escola, perguntou-lhe se não se sente inferiorizada por ter sido adoptada.
Dentre as perguntas sobre se conhece os seus progenitores e se não tem saudades, lá veio a derradeira sobre uma pretensa inferioridade.






O ano passado já tinha havido um episódio semelhante, mais imediato. Ela esperava-me ao portão da escola e uma colega chamou-a a brincar, ao que respondeu que não podia porque esperava a sua mãe. A ranhosa da cachopa respondeu-lhe «Quer dizer, estás à espera da tua “mãe”» fazendo o gesto de aspas com os dedos ao dizer mãe.


Deslarguem-me, senão eu... !


Depois venho cá dizer como lido com isto.


Para mostrar à Magnólia como pode neutralizar em si os actos passivo-agressivos as inconveniências dos outros.


E sentir-se mais tranquila e confiante e com as armas a bagagem necessária para ir lidando com este tipo de investidas. Dou-lhe sugestões sobre como pode lidar com a situação no momento.


Ela acaba sempre estas conversas com um olhar sereno, abraçada a mim, e eu com planos maléficos para ir lá dar cabo daquela gente toda sensação de missão cumprida.


Para já, e porque acordei com isto (não sei bem porque) vim dar um cheirinho do tema e partilhar convosco a minha irritação.


Bom dia a todos,
Cipreste

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

mágoas


Já ultrapassei muitas das mágoas dos últimos anos. 

Há uma que é um pau-de-dois-bicos: a minha esterilidade.

Assim mesmo, com o nome à antiga. Fui estéril. Sou um campo estéril. 
O meu ventre foi estéril, não me serviu de nada, só me serviu para sofrer física e psicologicamente.

Nem sequer o parirás com dor me calhou.

O tempo passou. Tornei-me mãe. O meu coração tem filhos. E deixei de ter as dores físicas.

Sinto agora serenidade na forma como convivo com a infertilidade e o fim dessa história com a histerectomia, mas não sinto serenidade quanto ao facto de não ter sido eu a gerar, carregar, parir e amamentar os meus filhos. 
Estes filhos. 
Os meus filhos.
Magoa-me não ter sido eu. 
Se são meus - que são, não me faz sentido não ter sido eu a gerar, carregar, parir e amamentá-los. 
É como um buraco na realidade.


Ainda não consegui solucionar isto nem sei se é um desgosto que alguma vez venha a estar arrumado e num lugar de convivência sã com os factos.

Não são só os meus filhos que têm mágoa de não ter fotografias suas de quando eram bebés, eu também tenho - especialmente de fotos destas: mãe e filho, após o nascimento.

Tenho mágoa de não poder dizer: fui eu que fiz os meus filhos.
Estão a ver estes dois seres tão maravilhosos, alegres, compassivos, divertidos, disponíveis, bondosos, generosos? Queria gritar: FUI EU QUE OS FIZ.

Não o posso dizer, não fui eu, de facto, que os fiz.

Será egoísta? Não sei.
Sou consciente de que não tem nada a ver com querer anular a existência dos seus progenitores nas suas narrativas. Não tem a ver com as pessoas do passado, tem a ver comigo e com uma lacuna que existe na biologia dos meus sentimentos. 

Às vezes, penso que, no caso de algum dos meus filhos vir a ter os seus próprios filhos, essa imagem - deles com os seus filhos recém-nascidos (embora ambos digam que quererão adoptar, mas isso são outros quinhentos) - com os meus netos, possa vir a redimir a ausência da nossa. 
Não sei explicar onde fui buscar esta ideia, é até uma ideia que mais me parece ser uma fantasia. 
E agora estou a partilhar as minhas fantasias com pessoas que nunca vi? Oh céus, acho que ao contrário do que sempre pensei, afinal a escrita tornar-nos-á inconscientes? :)

Eu avisei, isto é um pau-de-dois-bicos, não há saída racional possível para este assunto, nem forma coesa de eu o conseguir explanar. 
Pelo menos por agora, porque é uma mágoa e as mágoas são tão só isso: dor de alma, desgosto. 
E a dor de alma não me deixa falar com nexo.

Talvez passe :)

Bom dia a todos,
Cipreste

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

a adopção - tema a tema

Eu tinha tantos planos para vos escrever nestas mini-férias de Carnaval, mas estivemos demasiado ocupados aos mimos e abracinhos pelo que os posts ficaram em banho-maria.
Sei que é uma queixa recorrente da minha parte, mas reparem nos posts que tenho em rascunho e respectivos temas em lista de espera:

Enxoval – quando nos tornamos pais de uma semana para a outra e temos de 1. Montar quarto e 2. Ter roupa e brinquedos à espera do(s) filhos(s)

O álbum de apresentação dos pais aos filhos

Álbum de vida, a continuação após o centro de acolhimento

Dias D - o primeiro encontro entre pais e filhos e todos os outros primeiros dias

As abordagens das equipas de adopção - o passo-a-passo visto cá deste lado

O encontro com a figura misteriosa “O Juiz” 

O grande dia - receber o cartão de cidadão, a imensa força da identidade

e, precisamente... identidade na adopção

Vinculação – o (duro) processo do parto de uma família

A relação entre o filme Divertida Mente e a adopção (não me esqueci que te devo uma resposta, Joana)

Outra resposta que te quero escrever, Joana, ou antes, não é bem uma resposta, mas tenho este tema em espera também – A mãe perfeita e outros perfeccionismos

Malditos pesadelos, homens e monstros maus!

Adopção aberta - afectos e laços e o seu lugar no presente

O cordão umibilical com o centro de acolhimento

Traumaversary

Adopção de crianças "mais velhas"

Adopção e escola

Adopção e... o resto da sociedade

Muitas novidades da Magnólia
E tantas outras do Chaparrito

~  ~  ~

Para já, deixo-vos com 2 curtas deliciosas do passado fim-de-semana:

Falávamos da evolução da espécie humana ao jantar (não me lembro como surgiu o tema) e a Magnólia muito confusa: 
- Mas a minha catequista de antigamente disse-me que foi o Edgar e a Eva que blábláblá…

Afinal, havia outro e nós não sabíamos :D


Ainda ao jantar, comentei “dá chuva” para o fim-de-semana pelo que seria provável o adiamento do cortejo de Carnaval. Mas o Chaparrito elucidou-me:
- Não, não, mamã, eu vi o tempo e eles dão arco-íris para sábado e para domingo
- Hm?
- Sim, sim, eu vi, tinha um sol e chuva 

Family- Rainbow Happiness, 2012

Há lá coisa mais boa?

Até já,
Cipreste

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

dores muito específicas e muito sérias

Ler blogs ou livros de pessoas que foram adoptadas, os seus testemunhos de como viveram (e têm vivido) a condição de pessoa adoptada, tem sido o melhor e mais duro exercício para mim, enquanto a mãe adoptiva.

O meu maior desejo, a minha luta é manter-me sempre com a mente aberta e procurar uma certa clarividência nesta missão de ter as decisões de vida dos meus filhos nas mãos.

O meu maior receio é um dia perceber que de alguma forma os impedi de viver, de sentir a sua existência de forma plena.

Quando os nossos filhos precisam de colar peças do seu passado, não nos estão a rejeitar, estão a tentar sarar e o nosso papel é lamber-lhes as feridas.

Para além da validação das suas narrativas, um caminho que vamos seguindo é este, que verbalizamos junto deles sempre que surge (ou se repete) alguma dúvida:

- Ninguém manda no teu coração. O que tu sentes, só a ti diz respeito e ninguém, ninguém tem o direito de qualificar os teus sentimentos.

E rematamos sempre com:

- Se nos nossos corações cabem três filhos - tu e os teus irmãos, porque é que não pode haver lugar no teu para mais do que um pai ou mais do que uma mãe, por exemplo? Afinal, tu também amas mais do que um irmão, não é?




É preciso sentir as dores, é preciso deixar de enfiar as coisas num buraco escuro. É preciso caminhar lado-a-lado com eles. Se necessário, partir mesmo com eles à procura de respostas.
Já li testemunhos de adultos que foram adoptados em bebés e que descreviam sensações como de "membro fantasma" que relacionavam com a ausência de um (ou ambos) progenitores na sua história. Já li demasiados testemunhos sobre a sensação de se viver em dormência, aparentando ser a pessoa mais de bem com a vida, para fechar deliberadamente os olhos a isto. O suicídio e a automutilação têm números específicos de incidência em adolescentes adoptados (sendo bem certo que não estou a falar de números de Portugal, que nem sei se existem).

Não escrevo isto porque esteja alarmada (senão não o escrevia) nem para assustar ninguém, é apenas um resumo-muito-resumido do que sinto quando leio adultos ou adolescentes relatar a dor de lhes ter sido privado viver a sua narrativa completa em detrimento de terem de viver o sonho dos seus pais adoptivos.

É preciso abrir os braços a tudo o que os nossos filhos são, a toda a história que trazem consigo.
Quando nos propomos adoptar, temos de ter o coração aberto para a entrada nas nossas vidas não só dos nossos filhos, mas de todos a quem amam e cujo bem estar é necessário ao seu.

Não, a parentalidade na adopção, não é igual à parentalidade na biologia.

Cipreste

p.s. deixo este link - Lost Daughters, apenas como um ponto de partida para quem esteja interessado na temática; conheço outros lugares, com outras perspectivas, mas as dores são "as mesmas"

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

o meu deus das pequenas coisas

Os bracitos dele à volta do meu pescoço.
Eu digo "boa noite, dorme bem".
Ele responde, em sussurro, "vou gostar sempre de ti".


Esta cena aconteceu quando os meus filhos estavam connosco há sensivelmente 2 meses. Não foi inédita, pois os meus filhos fizeram-nos juras de amor desde o primeiro dia - mesmo antes de saber o que é isso de gostar de nós, de cada um de nós.

Esta promessa teve a beleza da genuinidade, da simplicidade de não dizer "para sempre" mas apenas "sempre".

Anteontem, preparávamos a roupa para o dia seguinte, para a escola, e ele ficou muito contente quando viu que lhe punha as calças de tipo fazenda e a camisa de que tanto gosta - são parte da primeira roupa que lhe demos e com que veio para casa. Ficou contente e disse "oh, obrigada, mamã", na verdade, ele já usou esta roupa várias vezes para a escola (o meu filho adora camisas e gosta de as levar para a escola). Disse-lhe que não precisava agradecer mas respondeu-me que queria  fazê-lo e disse-me "Sabes, às vezes, quando falamos coisas destas, fico assim com lágrimas nos olhos".

Olhei o meu filho, estava, de facto, com os olhos húmidos.

Abracei-o. 
Disse-lhe "É porque estas coisas te dão conforto, ficas feliz, comovido. São lágrimas de alegria, não são, filho?".
"São, mamã, é bom", respondeu, abraçando-me com os bracinhos mais maravilhosos do mundo.

Ali fiquei, suspensa, com os olhos marejados destas emoções todas. Não são todas boas. Sei que é bom o valor que o meu filho dá às pequenas coisas. Vibra quando os pais dão um beijo, por exemplo. - acho que um dos seus maiores tesouros de segurança é a relação dos pais.
Porém, dói-me porque penso que uma criança não deveria de se comover por ter o básico.

Assim vamos andando, sempre de lagrimita ao canto do olho.

Cipreste

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

cruelmente simbólico

Isto é real, é duro, as crianças andam de lar em lar com as suas coisas em sacos de plástico e é tããooo estupida e cruelmente simbólico



Ando há que tempos para vos falar da vinda para casa - passos preconizados, enxoval, etc. Achei espectacular que a Assistente Social do CAT nos tenha dito que deveríamos ter uma mala de viagem para trazer as coisas dos nossos filhos para casa. Muito simbólico, um cuidado que nos comoveu.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

coragem major ~ coragem minor

Por vezes, sinto-me tão perdida. Tão longe das soluções que passam pela expressão “basta fazer isto ou aquilo” e, pronto, “já está!”. Para além de me sentir perdida, também me chego a sentir mal por  achar que não estou a encontrar no amor a solução para os problemas dos meus filhos. A ideia de que o amor tudo cura é muito linda, mas não encaixa milagrosamente no quotidiano das nossas dores. Quando vemos os nossos dias a seguir rumos dolorosos e amamos, mas não conseguimos que esse amor cure, acabamos a colocar em causa a nossa capacidade de amor. Será que isto é amor? É que, repare-se, se o amor tudo cura e eu não estou a curar ninguém, então isto não deve ser amor.

É. É do camandro.

Uma pessoa lê estas afirmações: “A ideia da não vinculação é monstruosa para a espécie humana” e que “para desenvolver-se bem, toda a criança precisa que alguém esteja louca por ela”(aqui). E fica a questionar o seu amor. Será que amo mal? Será que não lhes mostro que sou louca por eles? Num instante, estamos a pensar, oh, não, estou a fazer mal aos meus filhos. Eles portam-se assim porque se sentem mal-amados e eu sou a pior mãe do mundo.

É. Tenho dias assim. Depois eles sorriem e abraçam-se a mim e acontece uma palhaçada qualquer e sobrevivo novamente a mim.

~ ~ ~

Ultimamente, comecei a reler alguns dos meus posts pré-filhos e tenho tido felizes encontros. Nem sequer posso dizer que tenho engolido muitas das minhas palavras ;) afinal, a maternidade não me veio mostrar assim tanta incoerência. Na verdade, e já que estamos a falar das diferenças antes-depois, posso declarar que a grande diferença é a forma como encaro as opiniões alheias. Antigamente, avançava com a minha opinião, mas restava uma dúvida pesada sobre a opinião alheia, agora, embora reste sempre uma dúvida – que considero a dúvida razoável, senão seria uma tola cheia de certezas, avanço de forma firme.
Uma pessoa que não se munisse deste mecanismo nunca poderia sobreviver no dias em que pensa que ama mal e recebe simultaneamente opiniões alheias destrutivas.

Adiante. Ao reler os posts, tenho encontrado um ou outro excerto muito certeiros. Sobre os últimos tempos por cá, este que já partilhei ontem:

“Compreender quem somos é um processo difícil – mesmo quando temos histórias familiares intactas, longa e discriminadamente detalhadas. Quando não temos nada disso, compreender quem somos é muito mais difícil. Não admira que não se queira falar do assunto o tempo todo. É uma tarefa árdua. É um trabalho doloroso. Mas não devemos concluir que o assunto não interessa só porque ela não fala dele. Ela está a tentar perceber quem é, mesmo que não fale disso todos os dias. ”(aqui)

Adoptar crianças “mais velhas” tem a benesse de encontrarmos pessoas que já conseguem elaborar sobre as suas emoções. Se o fazem são outros quinhentos, pelo menos já têm a bagagem neuropsicológica para tal.
Assim são os meus filhos: com competências para elaborar sobre as suas emoções. E o mais lindo é que gostam de o fazer.

Há dias, a nossa assistente social, em resposta ao nosso email periódico em que enviamos notícias com fotografias, respondeu “os vossos filhos estão lindos e cheios de competências”.

Ena! Pensei… os meus filhos… cheios de competências. Uau, isto soou-me bem, muito bem, tão bem. Uma mãe precisa de ouvir estas coisas.

E é mesmo verdade que estão cheios de competências.

Como todas as mães, antes de o ser, sonhei muito com o que gostaria de fazer com os meus filhos. Sonhei com a música que aprenderiam, que ouviríamos, os concertos a que iríamos. Sonhei com a partilha que faríamos com eles dos nossos passatempos. Os nossos passatempos, meus e do Chaparro, passam maioritariamente pela área das artes. Apreciamos muito o conciliar das artes à natureza, praia, bosque, etc. Assim, damos uns toques na fotografia, escrita, instalação, leituras públicas, e participamos na organização de eventos relacionados.
Várias vezes por semana, os meninos fazem actuações para nós que passam pelo teatro e pela música. Agora começaram a compor! É mesmo admirável porque nenhum de nós lhes deu alguma vez tal ideia. Levamo-los a ateliers de ilustração, teatro, música, etc. Vamos a concertos, às vezes, várias vezes por semana, pois na escola da Magnólia são muito activos e são quase sempre de entrada livre. E eles adoram. Vibram. Desde a música clássica ao jazz. E sabem estar numa sala de espectáculos. Vêm para casa e mimetizam tudo. O Chaparrito é especialmente delicioso a imitar músicos e maestro.

Posso dizer que os nossos filhos abraçaram incondicionalmente o nosso amor pelas artes e tiram verdadeiro prazer delas.

Depois, há dias inteiros em que a televisão não é ligada. Obviamente que é por princípio nosso, como o hábito é que faz o monge, quando éramos só nós dois já havia este registo cá me casa. Liga-se quando é para se ver algum programa em específico. Se já fizeram os tpc, se já se estudou instrumento, se a mesa está posta para o jantar, ok, vemos um pouco do zigzag (depois há também o pormenor de que não temos tv-cabo). Com sorte, apanhamos o ioga que eles adoram fazer.

Ainda mantemos os nossos filhos ignorantes quanto às outras tecnologias – smartphone, tablet, computador. Vêem nos nossos, connosco, e não jogam. Não tenho qualquer dor de consciência em relação a isto e sei que rapidamente apanharão o comboio quando começarem. Além disso andam aí umas manchetes nos jornais a falar dos perigos da utilização destes dispositivos antes dos 12 anos – right on! Estamos dentro do prazo.

Não tenho pressa para estar a falar com os meus filhos e ter como reacção o silêncio acompanhado de uma expressão de dormência deles perante um écran. Aliás, eles sabem que se não nos respondem a chamamentos enquanto vêem televisão que esta é desligada imediatamente.
Somos muito maus, muito intransigentes. Já sabemos.

Portanto, juntando este não desperdiçar tempo frente a écrans à tal resposta positiva que eles têm aos estímulos artísticos, é um corrupio de espectáculos em nossa casa.

Há duas semanas, fomos a Serralves porque tinha de ver a exposição da Helena Almeida (acabava nesse fim-de-semana). A Magnólia foi simplesmente maravilhosa. Interpretou as séries dela de forma deslumbrante. Usou espontaneamente as palavras “luto”, “ferida”, “belo”. As pessoas que passavam por mim deviam ficar ofuscadas com o brilho que saía dos meus olhos.
Fizemos fotografias interpretativas das obras frente a elas, assumindo posições muito engraçadas. Frente ao “abraço” fizemos uma fotografia com os quatro abraçados. Acho que a determinada altura andava uma pessoa a perseguir-nos e ficou felicíssima por poder tirar-nos essa foto.

A semana passada, a Magnólia "enviou-nos" um convite para uma exposição que montou no corredor. Deviam ver. Ok, depois fotografo para verem, como ainda está patente, posso voltar lá. Chama-se "sentimentos" e está dividida em várias ilustrações com placas identificativas - incluindo nome da autora e ano de nascimento (tão sweet :) ). O nome das obras passa pela designação "etapa" que se segue pela ordem com números romanos e depois a explicação de tipo "se pensas que não sabes dançar, põe música e começa a mexer-te, vais ver que sabes dançar". Ficámos de queixo caído.

Isto tudo para dizer que tenho andado a rondar uma certas e determinadas questões junto da Magnólia e comecei a usar estas competências. Afinal, a arte serve para quê?

Não se esqueçam de que estou a falar disto: “Compreender quem somos é um processo difícil – mesmo quando temos histórias familiares intactas, longa e discriminadamente detalhadas. Quando não temos nada disso, compreender quem somos é muito mais difícil. Não admira que não se queira falar do assunto o tempo todo. É uma tarefa árdua. É um trabalho doloroso. Mas não devemos concluir que o assunto não interessa só porque ela não fala dele. Ela está a tentar perceber quem é, mesmo que não fale disso todos os dias. ”(aqui)

Esta semana, aconteceu algo extraordinário: a Magnólia contou-me pormenores da sua vida anterior que não constam dos relatórios oficiais. Estou a falar de factos que vão além de relatos do quotidiano.
Digo-vos que isto não é nada fácil.

A Magnólia gosta muito de usar a expressão “pozinhos mágicos”.
Eu disse-lhe que, se eu pudesse ter os pozinhos mágicos, utilizá-los-ia para que ela nunca tivesse tido de viver estas coisas. Ordenaria que ela tivesse sido sempre feliz desde o seu primeiro minuto, que nunca tivesse tido que ser “retirada” e que ainda hoje fosse muito feliz com as pessoas do seu passado, mesmo que o preço fosse viver a minha vida sem ela. Fiz questão que compreendesse que não estava a dizer que abdicaria dela. Ela compreendeu, acenou a cabeça à medida que as lágrimas lhe corriam pela face. As minhas já corriam há uns segundos.

Fizemos um acordo, propus-lhe um novo exercício. Uma nova tentativa para ver se conseguimos transformar um comportamento que ela tem e que a prejudica. Aceitou. Estamos agora neste novo tempo. Estou cautelosa. Já falhámos tantas vezes. Mas sinto cada vez mais a solidez disto tudo.



A adopção é uma coisa violentíssima. Para todas as partes. E não há texto ou palavra amiga que nos consiga fazer vislumbrar o quão violento pode ser tudo isto. Desde o amor ao aceitar a instalação de dores novas e permanentes.

É precisa coragem, sim senhora. Vejo muitos pais adoptivos dizer que se sentem ofendidos quando alguém lhes gaba a coragem. Compreendo ao que se referem: a coragem das crianças é ainda maior do que a nossa. Mas esta não deixa de ser também uma coragem.

Se as queremos distinguir, chamemos-lhe coragem major e coragem minor, então.

Sim, a coragem dos nossos filhos é major

Caramba, imaginem-se: ok, achámos que aquelas pessoas não sabiam amar-te e cuidar-te devidamente, trouxemos-te para esta casa e agora que te sentes seguro aqui vais embora e viver com estes senhores, que não conheces de lado nenhum, mas a quem vais chamar de pai e mãe, e que têm mil sonhos e expectativas para o que querem que tu sejas enquanto filho deles.

É isto que acontece. Por mais conscienciosos que tentemos ser, vamos também com a nossa bagagem de expectativas. 
E deve ser mesmo muito brutalmente assustador para uma criança e, sim, a coragem deles é maior do que a nossa.

Nem por isso, a nossa deixa de o ser. Eu, que sempre achei que encarava as emoções de frente (hahaha) e que sempre gostei de dar nome às coisas para procurar compreendê-las, tenho levado com cada safanão emocional que até fico a ver estrelas.
Enfrentar as dores dos nossos filhos é coragem, sim. É uma bela coragem e a minha vida é bela acima de tudo por causa da coragem que os meus filhos necessitam de mim. Não estamos curados da vida, nunca estaremos, mas caminhamos juntos e com coragem para o que der e vier.


Deixo-vos com um excerto a que volto muito.

«Deitei-me no chão, e não é fácil. É preciso ter sido queimado por muitos nomes, ter esquecido e relembrado a delicadeza, o sangue, a ironia, paisagens e transmutações, as formas, as vozes. Como se pudéssemos existir sem qualquer herança, com a fortuna apenas de um tesouro criado pela solidão. Deitado na terra, respiro contra o chão vivo; e como estou com a cara muito junto ao chão, o sopro bate na terra e volta-me à cara. É ainda assim uma bela coragem.»
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Herberto Helder in Photomaton & Vox


Cipreste



quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

solidão (e outras formas de mau-estar) na missão da parentalidade

Dei comigo a fazer coisas que jamais imaginei fazer (talvez até jurasse que nunca o faria): gritar aos meus filhos e... (engolir em seco antes de escrever isto)... dar-lhes palmadas.

Sim, já dei palmadas aos meus filhos e não me orgulho de o dizer. 
Não, não passei a acreditar nas palmadas pedagógicas e, sim, continuo a achar que ninguém tem o direito de violentar ninguém - quer seja verbal, quer seja fisicamente.

E agora, onde fica a minha incoerência?
Fica num buraco triste e sem fundo. Fica numa desilusão imensa de mim para mim. 
Mora nos momentos de desespero em que cresce uma distância imensurável entre aquilo em que acredito e a urgência em mostrar-lhes que determinado comportamento é inadmissível.
E respondo com um comportamento também inadmissível.
Será que, afinal, acredito na palmada pedagógica? É que, reparem, luto contra a ideia de que a minha palmada foi um acto incontrolável. Eu não sou como os protagonistas da violência doméstica que depois se mergulham em choros e pedidos de desculpa, eu não digo que não o queria fazer (não o desejava fazer, mas sabia o que estava a fazer).
Afinal, quem comanda o quê nestes momentos? O desespero. É o desespero que toma conta de nós, é a ideia de "último recurso". E quando caímos em nós, pensamos que não pode ser. Sendo bem certo que a palmada surge após a escalada de comportamentos abusivos e repetidos por parte das crianças, há sempre hipótese de fazerem pior, e depois o que fazemos? Mais palmadas? Até doer a sério? Não, não pode ser.
E, assim, damos por nós num lugar solitário e dorido e de arrependimento atroz: falhámos numa das promessas mais importantes, falhámos num dos princípios mais básicos na nossa ética de vida. E cresce uma dor profunda dentro de nós. Olhamos os nossos filhos e pensamos coisas terríveis sobre os danos possíveis da palmada. (não, não me escondo atrás do "eu levei palmadas e não estou traumatizada")
Olhamos os nossos filhos e não nos resta mais senão aceitar a nossa humanidade, que nada mais é do que a prova da nossa imperfeição. Olhamos os nossos filhos e sentimos a urgência de compaixão: para com eles e... para connosco.
Voltamos a fazer votos com as nossas convicções - depois de as confirmarmos de nós para nós (haverá quem as mude e passe a incluir a palmada no seu repertório?).
Isto tudo dói terrivelmente. Por esses dias, fugimos de toda a informação sobre a parentalidade positiva e com apego e não é por tentar negar esses princípios - é por nos sentirmos indignos da companhia de quem se mostra mais capaz do que nós.
O amor entretanto sobrepõe-se e recomeçamos o regresso à sensação de sermos também dignos.
E todo este caminho é tão solitário.

Esta solidão tem muitas portas por onde entra: os juízos de valor, por exemplo, que já nos magoaram profundamente. Se já é difícil que as pessoas sejam compassivas na parentalidade biológica de cada um, garanto-vos que na parentalidade através da adopção o não são de forma implacável. Principalmente as pessoas que têm dificuldade em aceitar quem vive de forma diferente à sua. Sentimos nos seus olhares, ouvimo-lo nas suas palavras e recebemo-lo como balas no peito através de algumas atitudes - que nos doem mais ainda quando são direccionadas aos nossos filhos: primeiro atiram e só depois perguntam. E eu deixei de responder. Fechei a loja para quem me julgou implacavelmente e me deitou ao chão em três tempos morais. Acabou. Porque há limites para os falsos humildes, os falsos simples. Há limites para o espaço que damos aos passivo-agressivos das nossas vidas. Há limites para a benevolência perante atitudes sobranceiras e que trazem mau-estar de facto. Cada um que se amanhe com as suas inseguranças, mas que não as imponha aos outros por causa de serem diferentes.

E, assim, damos por nós numa solidão maior. É bem certo que é uma solidão também escolhida, mas não deixa de ser um lugar difícil.

Entretanto, fiz escolhas conscientes e calculadas. Mantenho todas as pessoas nos meus círculos, apenas umas estão nos círculos mais interiores enquanto outras passaram para círculos mais afastados do meu centro.

Dei com esta moça há algum tempo - cujo site certeiramente se chama "famílias imperfeitas", diz umas coisas que me têm ajudado. Fala desta solidão que  creio que todos, em alguma altura, já sentimos. Fala de algo que nunca devemos deixar de fora desta equação e cuja expressão em língua inglesa exprime muito bem: it takes a village (to raise a child) - a comunidade...



Cipreste

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

o que eu gostava mesmo

Era de ter tempo e tranquilidade para me sentar a escrever (a melhor forma que tenho para arrumar as ideias sobre as quais matuto) acerca desta dualidade de ser uma pessoa que, por um lado, acredita numa parentalidade que se baseia na confiança e responsabilização das crianças por forma a dar-lhes a liberdade que merecem, mas que, ao deparar-se na parentalidade na adopção, se vê no papel que parece ser o da helicopter mom a quem todos gostam tanto de atirar pedras (sendo eu a primeira).
Gostava de escrever sobre como se vê a olhos nus o resultado do "tempo de qualidade" com os filhos.
A sério, os meus bichinhos têm um botão vermelho que liga assim que se passam uns dias menos "dedicados no tempo".
Aquela máxima de que os nossos filhos não precisam de bens materiais mas antes do nosso tempo é a mais pura das verdades.
Fizemos contas, muitas contas, pedi redução do meu horário e vou ter 3 tardes por semana para estar com eles, só com eles.
É agora ou nunca, é o tudo pelos meus filhos.
Os meus bichinhos.
Percebem? Não claro que não, pois se nem sequer estou a tocar o assunto pela rama.
Isto não é fácil, sabemos que há um comboio que nunca mais vamos apanhar (em comparação com as famílias biológicas) mas a vida deixa-nos sempre com o barómetro da biologia nas mãos e, embora o amor seja igual, nas nossas famílias - as famílias adoptivas, as coisas não são iguais às outras famílias.

O que eu gostava mesmo era de ter tempo e tranquilidade para escrever sobre isto e sobre como, oh, sim, é nisto tudo que acredito - obrigada, pai à paisana por nos arrumar assim estes assuntos tão bem arrumadinhos (no pun intended) (ah, e outro, oh, sim, eu também tenho especial embirração com os pontos de exclamação, principalmente quando vêm aos trios).

Enfim, o que eu gostava mesmo era de ter tempo e tranquilidade para escrever sobre isto.

Até já, ou assim,
Cipreste

sábado, 17 de outubro de 2015

Sábado em Outubro

Um medley de Sábados de Outubro

Finalmente, Sábado. O Sábado exige nada menos do que uma maiúscula. O Sábado suporta tudo. Ao Sábado, conseguimos tudo.
Resta decidirmos entre ficar na cama ou fazer tudo.
Estou indecisa.
Aqui me exponho: sabe-me bem a cama. É o melhor lugar do mundo.
Ouvir os miúdos no quarto deles a continuar o jogo de ontem à noite, daqueles livros maravilhosos que os nossos amigos M.S. - nossos eternos fornecedores de roupa, livros e brinquedos, nos deram.
São tão cromos os meus filhos, são tão maravilhosamente cromos. Quando não estão na escola ou a estudar em casa, ora brincam aos professores, ora escolhem jogos didácticos, ou, não sendo didácticos, encontram aprendizagens em tudo. Tão maravilhosamente cromos, os meus filhos. Estou na cama e oiço-os, ela descreve o sistema digestivo, eles riem de algo que não apanho. Estou na cama e oiço os meus filhos a rir. São bons amigos, tomara que assim continuem, penso. Na minha cama – o lugar onde posso fantasiar conciliações e utopias, o lugar onde me sinto genuinamente grata.
Espero que os miúdos venham ter à nossa cama.
Não existe lugar mais redentor do que a cama do Sábado de manhã, albergando a família toda, em diálogos desconexos de obrigações.
Por outro lado, a manhã do Sábado, quando passada do lado de fora das camas, permitem o resto do universo em possibilidades. Ou, então: o sofá.
O melhor que existe para aprimorar o cenário descrito acima é a passagem directa para o sofá. Seja com uma taça de cereais, seja com o resto do bolo de chocolate que sobrou das comemorações da data especial de ontem. Com leite frio e desenhos animados da RTP2.
E a confirmação de que certas opções acabam bem. Tivéssemos TV-Cabo e teríamos de lidar com diplomacias para a escolha entre aquilo que consideramos minimamente construtivo e as parvoeiras que vislumbramos nas poucas vezes que nos quedamos em tv-cartoons e quejandos.
Continuemos a viagem de Sábado: cama, família toda, parlapiê com paródia, sofá, leite frio, desenhos animados, e bolo de chocolate.
Agora o café.
Não é Sábado de manhã se não houver cheiro a café. Um grande sim com ponto de exclamação para o café.
Siga. Deveres da escola. Que é para estarmos descansados amanhã.
Ela tem o primeiro teste para a semana, História e Geografia de Portugal. Ensinei-a a fazer resumos, digo-lhe «Lembras-te do que fizemos com Português? Faz o mesmo para HGP.» e ela dá saltinhos de contente. Apetece-me dizer «A sério, Magnólia?!», com aquele ar de pré-adolescente ainda-não-enjoada que ela faz - «A sério… mãe?!» e dá ênfase a “mãe” ou “pai” consoante a situação, e lá vai, toda empertigada.
Dá saltinhos de contente por ter de fazer resumo da matéria de HGP. O pai vem dizer-me que o pequeno está frustrado porque teve 3 erros no ditado. Agora que experimentou o sabor de ter “Zero erros! Parabéns!”, tem de aprender a errar como Beckett. Segue uma conversa sobre a perfeição e sobre a espera por Godot. São tão maravilhosamente cromos os meus filhos.
Quem dera poder dizer que fui eu que os fiz.
Mercado Municipal. Mercearia, padaria e talho do nosso bairro. Encontrar o P e a J, a R e o Super-V para outro café na esplanada. Ligar à Je ao J, saber se estão por cá. Dar um salto ao mercadinho biológico. Fazer o tal panelão de sopa. Deixar a sopa para depois e decidir colocar queijo e pão e uvas e laranjas e água e vinho num saco, seguir para o parque depois de ligar à F e ao A para virem ter connosco. A Magnólia pede para levar o fagote e nós ficamos a olhar um para o outro sem saber o que responder. O fagote toma o lugar do nenuco. Seguir. Deixá-los andar descalços no parque, contra as crenças portuguesas sobre as constipações. Rir, comer, beber, dormitar. As mãos dele sobre mim, sempre as mãos dele sobre mim. À medida que se conversa, a minha pele acarinhada e eu a sentir-me amada, nunca mais abandonada e muito menos em Outubro.
Seguir para casa a meio da tarde, passar pelo centro comercial e comprar as sabrinas para ela. Não temos sapatos de Domingo que lhe sirvam e vai precisar para a audição. Pretas ou azul-escuras? Quem disse que preto ou azul-escuro é entediante? Ora, que parvoíce, penso enquanto escolhemos as azul-escuras e ela segura o saco, feliz com a compra.
Chegados a casa, enrolamos massa folhada com Nutella. Os croissaints (ou coraçãs, como ele diz) ficam prontos em 5 minutos.
Pomos a mesa para o lanche. Comemos. Ela diz que vai estudar fagote. Cada um pega em pequenas tarefas sabendo que o momento vai ser desse instrumento grave que entrou de rompante nas nossas vidas. Eu leio, ele responde a emails, o pequeno pega nos legos ou na enciclopédia de instrumentos musicais – continua a dizer que quer tocar tuba. Quer percussão e tuba. Ela prepara o fagote e começa. Dó dó dó ré mi fá mi ré dóóó. E nós acompanhamos mentalmente. O irmão manda bitaites acertados e nós dizemos-lhe que tem de ser a mana a perceber isso. Ela percebe, ela sabe. Continua, dó dó dó ré mi fá mi ré dóóó. É tão maravilhosamente croma a minha filha. Diz piadas relacionadas com o fagote. Falta pouco para começar a dizer piadas que nenhum de nós na família há-de perceber. Ri-se de si. Frustra-se com o som que não sai como quer. Repete e diz “outra vez”. E eu de lágrimas nos olhos. Poucas coisas comovem como uma criança que tenta e repete para ser melhor.
Acaba o estudo. Desmonta o fagote, limpa o fagote, arruma o fagote à medida que diz “o meu fagotinho”. Não é dela, é alugado. Um dia, quem sabe…
Digo-lhe que vi no facebook que no dia 11 foi dia do fagotista, mostro-lhe este vídeo. Os fagotistas são tão maravilhosamente cromos. Onde já se viu uma flashMob de fagote. Rio muito. Rio muito alto. (Não costumo rir muito. Ou costumo? Não sei. Acho que rio pouco.)
Chamo-os para o sofá, vou buscar o portátil, com um de cada lado, vemos vídeos alternadamente. Um de judo, um de fagote. Ele espanta-se com os judocas, ela faz reparos sobre a posição do queixo daquele fagotista. Puxamos a manta, começa a arrefecer e vemos a vinha-virgem à nossa janela, está a mudar de cor. Há-de ficar vermelha daqui a poucas semanas. Bela.
Ao final da tarde, as minhas amigas vão mandar uma mensagem a dizer que estão no café, para eu ir lá ter. Ele vai insistir para que eu vá. Nuns Sábados irei, noutros não. Está tudo bem quando os amigos esperam por nós.

É Outono, é Outubro, é Sábado. Para sempre, Outubro será um mês major. Por estes dias, assinalam-se muitas datas para a nossa família. 
Sofro porque é verdade que o meu pai já não me vai chamar com a sua voz. Sofro porque me custa cada vez mais a distinguir do sofrimento que vejo no dia-a-dia no meu trabalho.
Esta é a minha vida, sempre muito cheia, sempre muito rica. Cantada por Maria Bethânia. Eu a viver emoções non-stop.
Chegar-se-á a hora de jantar e ele vai dizer que, porque não lhe apetece fazer nada, não quer que mais ninguém faça e há-de buscar algo para comermos. Não nos apetece ir fora. Mas somos sortudos, embora faça contas e queira poupar, ainda podemos buscar um frango ou uma pizza. Temos muitos agasalhos.
É Sábado e faremos planos para visitar algum museu amanhã, ou almoçar com a avó de um lado ou os avós do outro. Temos saudades tuas, pai.
Às vezes, é preciso dizer as coisas a fingir na segunda pessoa do singular.
Fez 4ªfeira um ano do primeiro dia doutro resto da minha vida, fez ontem um ano que vi a fotografia mais importante da minha vida (dito assim mesmo sobre a importância) e fez um ano que tivemos uma falsa esperança de viver um pouco mais sem a dor persistente da ausência.
Hoje é Sábado. Vou ali viver e sonhar. Vou pesquisar o preço dos bilhetes para concertos de ano novo e sonhar com viagens que não faz mal que não possamos fazer, porque o Sábado é nada mais do que a lembrança do cuidar diário. O sábado é nada mais do que a celebração do que se construiu nos outros dias.

Bom fim-de-semana,
Cipreste

p.s. talvez dever-se-ia chamar este blog Outubro a Outubro ;)