Mostrar mensagens com a etiqueta compaixão. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta compaixão. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 16 de março de 2016

nesta pequena aldeia

Ando muito atarefada com um novo e muito aliciante projecto que nada tem a ver com a maternidade nem com a minha profissão, é uma coisa da minha vida dupla e que me faz sentir muito eu, muito a Cipreste ela própria e isso é tão bom, tão revigorante.

Adiante.

Venho dar espreitadas aos blogs dos meus vizinhos e hoje senti o meu coração quentinho.

A Olívia escreveu uma carta à mãe de coração e eu senti-me ali, dentro daquele círculo. Sei que não fui chamada para a conversa, não tinha de ser. Sabemos que fazemos parte de uma comunidade quando nos sentimos parte daquele grupo de pessoas. Senti-me parte de um voto de compreensão e entre-ajuda, para lá das diferenças que são naturais entre as pessoas.

Li a carta e senti-me ao lado da Olívia a dizer à mãe de coração «Estamos aqui, um por todos e todos por um».

Somos poucos*, ou eu é que não os encontro, nesta blogosfera dos pais através da adopção, mas a sensação de comunidade começa a estar lá para mim. A sensação de viver numa pequena aldeia.

It takes a village, diz uma expressão popular em língua inglesa, omitindo o final da frase, pois está lá implícita... to raise a child.

É necessária uma aldeia para criar uma criança.
E garanto-vos que neste mundo da adopção isso se sente de forma muito intensa.
encontrei esta imagem num blog, sem refª ao autor
diz a imagem que a expressão é de origem africana...

Hoje inauguro esta etiqueta - It takes a village, em honra desta pequena comunidade amiga de que me vou sentindo parte.

Bom dia, vizinhos,
Cipreste

* um dia destes vou fazer um apelo à reunião de todos os links da adopção, portugueses, que conheçamos

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

carta aberta a quem passa por aqui e deixa um pouco de si

Já falei aqui várias vezes sobre porque escrevo, porque partilho o que escrevo. “Várias vezes” porque me questiono amiúde sobre o assunto. Porque muitas coisas deste fenómeno da convivência no mundo virtual me trazem constantemente em espanto. Em espanto pela dimensão de compaixão que se consegue encontrar.

Tenho as minhas opiniões, mas para lá disso há discussões que não me interessam. E não me interessa discutir se as pessoas são falsas atrás de um monitor ou se assumem várias personas. Nem me interessa o marketing ou rankings bloguísticos (que, atenção, acho perfeitamente legítimos e sei que há quem viva disso).

É bem certo que se identificam também esses fenómenos.
Em relação ao primeiro, já tive algumas desilusões, mas essas são com pessoas que conheço na vida real cujas personas virtuais me deixam constrangidas. Tenho pena, pronto, porque se me arrefece a admiração que tinha por essas pessoas, pela sua humanidade. Custa-me porque quase sempre interpreto como um sinal de mal-estar consigo próprio.
Quanto ao segundo fenómeno, não me constrange, quando muito provoca-me vergonha alheia. Custa-me ver as pessoas em bicos-dos-pés. 

Uma atenção que resulta de um estímulo que não corresponde à verdade, mas apenas a uma imagem construída para seduzir, só pode ser vã.
Parece uma solidão aflita. Uma solidão que se procura combater com uma busca por uma atenção imediata.



Eu sofro de solidão.

Tenho solidão profissional porque sou a única no meu local de trabalho, um sítio onde as pessoas são simpáticas mas estranhamente muito (tão demasiadamente) desligadas umas das outras. Tenho solidão por distância geográfica da família. Tenho solidão porque a minha melhor amiga vive nos antípodas.

Mas não me quero deixar enganar com companhia frugais.

Não sei dizer filosoficamente o que é a verdade, mas sei o que sinto no coração como sendo “de verdade”. E sou uma sôfrega por momentos verdadeiros.
Por isso, mesmo que tivesse algum interesse - para ganhos (sociais, económicos, de visibilidade, etc.) secundários em cativar, seria incapaz de o fazer passando uma mensagem falseada do que vou sendo, de como vou estando nas coisas. É-me contranatura. Como se, se assim o desejasse fazer, os meus dedos se paralisassem no momento de escrever o texto falacioso.


Isto tudo para dizer que, por estes dias, tenho sido especialmente agraciada com comentários e emails tão generosos da vossa parte.

Fazem-me sentir tão grata, tão satisfeita e confirmada por fazer esta partilha. 
Tão acompanhada.

Os gestos que vêm daí, desse lado, têm contribuído para diminuir a minha solidão.


Não sei quantos são os nossos visitantes. Criei uma página no facebook, mas o que faço é só linkar os posts daqui. Não vejo sentido nela, não me apetece dinamizá-la com outros posts efémeros. Talvez acabe com ela um dia destes. Criei a página do pinterest, mas já percebi que aquilo é uma espécie de emprego a tempo inteiro de link-atrás-de-link e não me posso perder por lá. Vou partilhando alguns dos posts/temas no fórum do website da Associação Portuguesa de Fertilidade quando acho que pode ser um mote para encetar alguma conversa. Muito de vez em quando, participo no grupo de Famílias Adoptantes em Portugal no facebook, mas nunca linkei lá o blog para não ser identificada. Ao longo do tempo, tenho mostrado o blog a algumas (poucas) pessoas conhecidas. A alguns amigos e familiares, uns creio que se esqueceram que ele existe, outros não sei se o lêem, mas não me dão feedback nesse sentido. Apenas a minha querida amiga me vai dando um retorno e, às vezes, até comenta. Recentemente, partilhei o blog com a nossa equipa de adopção, com a equipa do centro de acolhimento onde os nossos filhos viveram e com a minha psicóloga. Mais ou menos, é isto, é este o universo por onde ando e com quem partilho. Bastante restrito, portanto.

Não me interessa saber quantos são, interessa-me saber quem são. E eu já sei o que preciso de saber: são pessoas como eu. Pessoas que procuram um pouco mais de mundo na internet. Pessoas que tiram tempo para ler os outros. Pessoas que se emocionam como eu quando lêem da felicidade, da tristeza e da aflição dos outros. Pessoas que querem as coisas por inteiro, sem cortes no feio, no que é, afinal, também parte da nossa humanidade. Pessoas que sentem necessidade de deixar uma palavra sem saber bem o quê, como “oh, que lindo”, “obrigada”, “desejo-vos tudo de bom”, “vamos rezar por vós” ou “mandar energias positivas”. Pessoas que se lembram de nós, mesmo não nos conhecendo, quando vêem algo na rua que os fez lembrar um post nosso (isso não acontece só comigo, pois não?).
Pessoas.
Pessoas que encurtam um pouco a solidão umas às outras.

Hoje, já me fizeram chorar com um comentário, com a imagem cheia de esperança que me deixou. Obrigada, Ana G.

Obrigada a todos os que têm tomado tempo a ler e a dizer-nos que estão aí.
Obrigada pela companhia, muito, muito obrigada.

Que o dia vos seja limpo,
Cipreste

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

limpar janeiro

Janeiro, cumprindo o papel de mês das resoluções (antes das decepções), costuma ser mês de limpezas e arrumações.
O mês de janeiro é muito mal visto. Diz que é o mês em que ganhamos menos, é o inverno nu e cru, sem as luzes de natal. Em janeiro do ano passado, eu estava a entrar num buraco fundo, escuro e frio. 
A iniciar a vida sem o meu pai, no meio de destroços, com as mãos cheias da missão de criar e amar os meus filhos recém-chegados.

Cheguei a cair na cama uns dias, desesperei, pensei que não saía de lá e que não reencontraria a alegria de viver.
Fiquei doente. O meu corpo falou tão alto que o médico chegou a pensar que seria uma pneumonia.
O meu filho ficou doente.
Hoje tenho a certeza de que, sendo a esponja emocional que o meu filho é, essa foi a causa da maleita dele e não a tal virose. Febres repetidas que nos passavam rasteiras, mais de uma semana - quase 24 horas sem febre, subitamente olhava-o, a sua face rosada indicava-nos nova urgência de um duche, pijama lavado, cama, mais uma dose de ben-U-ron.
Deixava-os na escola às 9 e ia tomar café com o Chaparro, fumava dois cigarros de seguida e regressava a casa. Quando entrava, o silêncio era um silêncio novo. Era frio. Era implacável. Era solitário.
Comecei a afastar-me de algumas pessoas. Não muitas, mas eram aquelas com quem pensava contar para o bem e para o mal.
Mas o mal foi outro e senti urgência em proteger-me e aos meus.

Hoje, à distância, compreendo alguns desses desencontros como meras negligências sem qualquer fundo de mau-querer (pelo contrário) ou mesquinhez, infelizmente, receio que um desses grandes desencontros seja nada menos do que o culminar de anos de episódios aparentemente ultrapassados, mas que apenas revelavam uma incompatibilidade intrínseca. Vou vivendo uns dias mais conformada, outros menos. Há dias em que consigo ser empática e sentir compaixão pelas batalhas alheias, mas há outros em que... não consigo. Nesses dias percebo que não ultrapassei o que sinto como uma traição à minha confiança. Percebo que não se põem pedras sobre (determinados) assuntos e vou vivendo com isto em mim.
Demoro tempo a arrumar os assuntos, porque gosto deles bem arrumados. Crescer, porém, é também assumir que há assuntos que nunca serão arrumados como gostaríamos. Por exemplo, sei que jamais me será possível falar sobre isto com as pessoas em questão. Porque estamos em comprimentos de onda diferentes, porque creio mesmo que só contribuiria para um maior desentendimento. Mas não posso tirar estas pessoas totalmente da minha vida.
E depois vem janeiro e acordam estas memórias no meio de novos eventos, novas falas, novas ausências.

E tenho cada vez mais a certeza disto: quero tanto quebrar este ciclo.
Não quero que os meus filhos herdem isto. Isto, não.
Isto não é fácil, há dias que são realmente muito duros. A luta interior pode ser mesmo muito grande, pois mantermo-nos fiéis aos nossos princípios assim como a questão que fazemos por manter a educação dos nossos filhos o mais genuína possível leva-nos a sítios de confronto muito bruto.

Cito de cor o professor João dos Santos: educar é fazer falhar a educação que nos deram.

Quero quebrar este ciclo e o principal ingrediente para isso é estar atenta, ser consciente da replicação de atitudes dentro do círculo de pessoas a quem me refiro – eu incluída.

Esta é uma luta à qual fugi durante anos, acho que era desnecessária ao nosso crescimento. Muito menos deveria ser necessária a expressão "luta".

Duas coisas e o alerta para não apelidar estes factos de ambivalência:
- Já o disse antes, detesto a obediência mas dou por mim a fazer mais uso dela do que alguma vez imaginei. 
- Tenho a minha atenção toda voltada para isto: o livre arbítrio dos meus filhos. 

Acho que é aqui que reside o maior equívoco, pois o meu compromisso é com eles, com os meus filhos. Que ninguém confunda a minha missão em mostrar aos meus filhos as hipóteses de escolha que têm com o reconhecimento de que são senhores dos seus dias. Repare-se: estou a falar das pessoas mais corajosas que já conheci, estou a falar das pessoas mais maravilhosas que conheço. E nada, nem ninguém, deverá confundir isto.  
Tenho de limpar janeiro. Para nós, por nós.

My friend's kid is going places


Bom dia, boa semana,
Cipreste

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

solidão (e outras formas de mau-estar) na missão da parentalidade

Dei comigo a fazer coisas que jamais imaginei fazer (talvez até jurasse que nunca o faria): gritar aos meus filhos e... (engolir em seco antes de escrever isto)... dar-lhes palmadas.

Sim, já dei palmadas aos meus filhos e não me orgulho de o dizer. 
Não, não passei a acreditar nas palmadas pedagógicas e, sim, continuo a achar que ninguém tem o direito de violentar ninguém - quer seja verbal, quer seja fisicamente.

E agora, onde fica a minha incoerência?
Fica num buraco triste e sem fundo. Fica numa desilusão imensa de mim para mim. 
Mora nos momentos de desespero em que cresce uma distância imensurável entre aquilo em que acredito e a urgência em mostrar-lhes que determinado comportamento é inadmissível.
E respondo com um comportamento também inadmissível.
Será que, afinal, acredito na palmada pedagógica? É que, reparem, luto contra a ideia de que a minha palmada foi um acto incontrolável. Eu não sou como os protagonistas da violência doméstica que depois se mergulham em choros e pedidos de desculpa, eu não digo que não o queria fazer (não o desejava fazer, mas sabia o que estava a fazer).
Afinal, quem comanda o quê nestes momentos? O desespero. É o desespero que toma conta de nós, é a ideia de "último recurso". E quando caímos em nós, pensamos que não pode ser. Sendo bem certo que a palmada surge após a escalada de comportamentos abusivos e repetidos por parte das crianças, há sempre hipótese de fazerem pior, e depois o que fazemos? Mais palmadas? Até doer a sério? Não, não pode ser.
E, assim, damos por nós num lugar solitário e dorido e de arrependimento atroz: falhámos numa das promessas mais importantes, falhámos num dos princípios mais básicos na nossa ética de vida. E cresce uma dor profunda dentro de nós. Olhamos os nossos filhos e pensamos coisas terríveis sobre os danos possíveis da palmada. (não, não me escondo atrás do "eu levei palmadas e não estou traumatizada")
Olhamos os nossos filhos e não nos resta mais senão aceitar a nossa humanidade, que nada mais é do que a prova da nossa imperfeição. Olhamos os nossos filhos e sentimos a urgência de compaixão: para com eles e... para connosco.
Voltamos a fazer votos com as nossas convicções - depois de as confirmarmos de nós para nós (haverá quem as mude e passe a incluir a palmada no seu repertório?).
Isto tudo dói terrivelmente. Por esses dias, fugimos de toda a informação sobre a parentalidade positiva e com apego e não é por tentar negar esses princípios - é por nos sentirmos indignos da companhia de quem se mostra mais capaz do que nós.
O amor entretanto sobrepõe-se e recomeçamos o regresso à sensação de sermos também dignos.
E todo este caminho é tão solitário.

Esta solidão tem muitas portas por onde entra: os juízos de valor, por exemplo, que já nos magoaram profundamente. Se já é difícil que as pessoas sejam compassivas na parentalidade biológica de cada um, garanto-vos que na parentalidade através da adopção o não são de forma implacável. Principalmente as pessoas que têm dificuldade em aceitar quem vive de forma diferente à sua. Sentimos nos seus olhares, ouvimo-lo nas suas palavras e recebemo-lo como balas no peito através de algumas atitudes - que nos doem mais ainda quando são direccionadas aos nossos filhos: primeiro atiram e só depois perguntam. E eu deixei de responder. Fechei a loja para quem me julgou implacavelmente e me deitou ao chão em três tempos morais. Acabou. Porque há limites para os falsos humildes, os falsos simples. Há limites para o espaço que damos aos passivo-agressivos das nossas vidas. Há limites para a benevolência perante atitudes sobranceiras e que trazem mau-estar de facto. Cada um que se amanhe com as suas inseguranças, mas que não as imponha aos outros por causa de serem diferentes.

E, assim, damos por nós numa solidão maior. É bem certo que é uma solidão também escolhida, mas não deixa de ser um lugar difícil.

Entretanto, fiz escolhas conscientes e calculadas. Mantenho todas as pessoas nos meus círculos, apenas umas estão nos círculos mais interiores enquanto outras passaram para círculos mais afastados do meu centro.

Dei com esta moça há algum tempo - cujo site certeiramente se chama "famílias imperfeitas", diz umas coisas que me têm ajudado. Fala desta solidão que  creio que todos, em alguma altura, já sentimos. Fala de algo que nunca devemos deixar de fora desta equação e cuja expressão em língua inglesa exprime muito bem: it takes a village (to raise a child) - a comunidade...



Cipreste

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

compaixão. firmeza. pro-actividade.

Partindo do princípio de que não há receitas ideias e/ou 100% eficazes no que respeita a educação parental na adopção, vou coleccionando algumas e fazendo a minha "manta de retalhos".
Gosto desta máxima: Tenha compaixão. Seja firme. Seja pro-activo.

Cipreste