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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

sushi, sashimi, gengibre e wasabi

Estas têm sido umas semanas muito particulares. Anda aqui qualquer coisa a acontecer. Sinto que se está a dar uma viragem nesta família, nas pessoas desta família. Não sei a ordem dos factores, se é cada um que está a aclimatizar-se ou se é a família como um todo e que depois proporciona as condições a cada membro para a sua adaptação. Há-de ser, certamente, uma miscelânea.
Esta semana soube-me bem, soube-me a real. Não foi sempre bonita, há, aliás, uma coisa que me anda a incomodar muito e que não sei como solucionar. A minha mente parece aquelas passagens nos filmes, em que fazem retrospectivas em flash. Não sendo propriamente uma semana bonita, foi uma semana real, franca.


Ontem, para tornar esta numa semana ainda mais especial, fomos jantar fora e depois ao teatro.

Há determinadas coisas que só dizemos aos meninos antes de acontecerem para eles não andarem a antecipar. Temos de ter especial atenção com o Chaparrito, fragiliza-se muito com qualquer coisa que sirva para se questionar, para se sentir inseguro e isto pode concretizar-se, por exemplo, em mau comportamento na escola nesse dia. Assim, só lhes dissemos cerca de meia-hora antes de sair de casa. A minha mãe está cá e ficou com eles. Ainda o Chaparro lhes estava a dizer e já eu via os olhos do Chaparrito a ficar vermelhos. Veio logo para o meu colo e começou a chorar copiosamente. Pumba. Olhei o Chaparro com aquele olhar de “fiquemos em casa” e ele retribuiu-me com o outro olhar, o de “nem penses”. 
A última vez que a minha mãe estivera cá eu tinha feito destes planos e anulei-os precisamente porque achei o Chaparrito mais frágil naquele dia. 
Se o Chaparro não se impusesse é bem capaz que este ciclo nunca mais fosse interrompido. 
Quando saímos de casa o pequeno já estava bem disposto, mas isso não o impediu de me lançar o seu olhar de cachorrinho quando saí, e olhem que ele é, por definição, de tipo cachorrinho do mais fofinho que há.

Já no restaurante, estava cheia de dor de consciência, sentia um ímpeto enorme para me levantar e zarpar para casa. Era quase um sofrimento. Só quando lhes telefonámos para dar as boas noites, antes de ir para a peça, é que relaxei.

Comentei que era a primeira vez que ia comer japonês desde a chegada dos meninos. Comecei a fazer contas de cabeça e questionei o Chaparro - olha lá, quantas vezes fomos ambos jantar e a um espectáculo, desde que temos os meninos? 
Ora… noves fora…. nada. 
Era a primeira vez. Ontem foi a primeira vez que saímos os dois para um programa completo desde que tivemos os meninos. Já fomos à vez. E já tínhamos ido ambos ver um espectáculo de dança, tendo a minha mãe ficado com eles, mas jantámos em casa e saímos 15 minutos antes da hora deles de deitar.

Ontem, matei saudades de sushi, sashimi, gengibre e wasabi, acompanhados de chá de jasmim. 

O tema de conversa começou por ser disperso, mas acabámos com uma conversa muito profunda sobre os nossos filhos e os últimos tempos, o nosso processo, e o de cada um de nós enquanto pais. Comovi-me em vários momentos. Demos as mãos, como sempre, mas ontem éramos mesmo só nós dois. Vimos uma peça. Lavei a alma e cheguei tão feliz a casa para ir espreitar os meus filhos a dormir.


Na verdade, eu tenho dois bebés com 1 ano e 4 meses, faz todo o sentido que só agora comece a sair.
Não é assim com todos os pais?

Cipreste

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

projecto para este fim de semana

Vou *tão* propôr isto à família. 
E já estou toda excitada a pensar no jarro e nos berlindes... na imagética disto tudo. Muito bom :) gosto tanto destes encontros entre necessidades e respostas criativas.

Ainda por cima... eu adoro berlindes mas nunca soube brincar com eles, eis a oportunidade para dar uso a eles :))))

Baseado-me na ideia original, mas dando-lhe o nosso toque, estas são as minhas ideias:

- propor a tarefa à família como forma de irmos observando a evolução das nossas atitudes - deixando  a definição dos critérios para decisão em conjunto - por exemplo, quantos berlindes se colocam/retiram no jarro conforme as atitudes que determinaremos

- arranjar um local acessível e visível que permita o acumular de jarros

imagem encontrada no pinterest, sem referência à origem...
- à medida que cada jarro se enche, encerra-se e começa um jarro novo - pensei nisto como forma de permitir que os berlindes se tornem num símbolo, ou seja, aquilo que foi construído não se destrói - e para que possam verificar que, mesmo havendo alguns momentos de retrocesso, o que vinga é a construção; ao longo do tempo, acho que pode ser positivo ir vendo o acumular de jarros, até que decidamos que já não precisamos do seu simbolismo podendo, então, fazer algo com os berlindes que entretanto ficarão a embelezar aquele "canto"

Depois posso vir cá dizer-vos os critérios que definimos.

Bom dia, bom fim-de-semana,

Cipreste

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Nós e este blog

Na primeira pessoa do singular
Cipreste, porque afinal sou a mais faladora deste blog :)

Escrevo este texto no rescaldo de grandes eventos nas nossas vidas e da vontade de escrever sobre esses e outros assuntos.

Escrevo este texto porque é uma coisa que eu faço: escrever textos.
Não me estou a justificar, estou a fazer outra coisa que faço amiúde: questionar-me.
Enquanto escrevo, tenho ideias já formadas, formo ideias novas, mudo de ideias, transformo certezas em incertezas e vice-versa. São as minhas ideias e as minhas opiniões e é tudo parte de um processo dinâmico. Aceito e assumo mudanças de perspectiva. Não tenho intenção que alguém viva sob os meus princípios. Aceito opiniões respeitosas. Aceito discordar. Aceito críticas e sugestões. Não aceito imposições e não tenho muita paciência para pessoas que revelam não estar disponíveis para sair das suas zonas de conforto e olhar outros cenários. Detestaria que toda a gente fosse como eu, gosto que o mundo seja diverso. Estou nisto como no resto, com uma ética de vida que pressupõe fazer o bem (seja lá o que isso for, não é?). Os efeitos de quem venha tresler são da inteira responsabilidade de quem o faça.

Este texto serve também para organizar ideias sobre privacidade e partilha.
Não gostando muito de epítetos, mas de forma a facilitar a expressão, digamos que sou uma pessoa extrovertida e muito aberta, gosto muito de conversar, adoro conversar, adoro relacionar-me com o outro. Isto não faz de mim uma pessoa que não goste de estar sozinha: eu gosto – muito – de estar sozinha e não me rodeio de pessoas para mascarar inseguranças e outras dificuldades que uma psicologia de almanaque pretendesse diagnosticar.
Portanto, sou uma pessoa extrovertida e muito aberta, gosto muito de conversar, adoro conversar, adoro relacionar-me com o outro, mas isso não faz com que tudo o que partilho seja tudo e o todo sobre mim e sobre a minha vida, nem quer dizer que o que se possa ler escrito por mim, na primeira pessoa, permita um conhecimento de mim, da Cipreste. Acima de tudo, o que me importa é assumir tudo o que escrevo aqui perante os meus. Uma vez mais, não, não me estou a justificar por expôr pormenores e pensamentos, estou a fazer outra coisa que faço amiúde: questionar-me. Quem sabe um dia algo me leve a mudar de ideias (lá está) e decida ser imperioso apagar isto tudo.


Na primeira pessoa do plural
Posto isto, este texto serve também de explicação e apelo.

Explicação - estas pessoas que poderão ler aqui também somos nós mas não é tudo sobre nós, falta aqui a pele, o olhar, a voz e tanto mais. O que poderão ler aqui é apenas uma parte das nossas vivências e ideias, tirar daí conclusões sobre as nossas pessoas será porventura precipitado e decerto incompleto.

Apelo - acaso consigam, através da leitura de eventos ou das imagens aqui partilhadas, identificar-nos, por favor, não revelem publicamente a nossa identidade porque:
- Alguém pode ter a veleidade de fazer a confusão que tentamos evitar com a explicação dada sobre achar que fica a saber tudo sobre nós e as nossas vidas
- Se escrevemos aqui de forma anónima é porque é assim mesmo que desejamos estar aqui ;)
- Existem situações específicas e sérias que exigem que nenhum de nós esteja identificado

Somos pessoas que escrevem. 
E assim se vai alimentando este blog, um texto de cada vez, uma reflexão de cada vez, uma partilha de cada vez.
E o nosso desejo para com quem está aí desse lado é que desfrutem. Se assim o desejarem, conversem connosco, partilhem de volta com outras experiências, etc.
E, se por um acaso nos identificarem, venham dizer-nos olá :) Pode ser através do endereço odiatesejalimpo@gmail.com ou através dos contactos pelos quais nos conhecem ;) Acima de tudo, pedimos-vos discrição.
Obrigado,
Esta família de árvores

quarta-feira, 23 de abril de 2014

É preciso assumir que isto trata de ideias de supremacia

~ ~ ~

Há uns anos, após um passeio à beira-mar com uma amiga, deitámo-nos naquela linha de fim de rebentação, recebendo sol e água simultaneamente. Não sei como foi que, num ambiente tão descontraído, veio à baila uma conversa profunda sobre a existência. Às tantas, a minha amiga remata com a sua sentença de fútil em comparação comigo (não sei se eu seria, por antónimo, “útil”), – «Porque, ao contrário de ti, eu sou uma egoísta e uma irresponsável, não me preocupo com nada, só me interessa viajar, concertos, roupas, jantares e copos». Refutei veementemente os títulos com que se presenteara, a frase dela estava correcta excepto apelidar de egoísmo e irresponsabilidade a caracterização que fazia dos seus objectivos de vida.

Para mim, isto é claro como água:
– As pessoas são responsáveis na proporção do cumprimento dos compromissos que assumem.
– As pessoas são egoístas na proporção do prejuízo dos outros em favor da satisfação das suas necessidades acima-de-tudo.

A minha amiga é professora e assume a sua função muito competentemente. A minha amiga diverte-se muito e não prejudica ninguém em função do seu divertimento. A minha amiga consome aquilo que consome, sejam concertos, roupa ou copos, com o dinheiro que ganha do seu trabalho. A sociedade ensinou a minha amiga a apelidar-se de egoísta e irresponsável. Eu chamo a minha amiga de amiga e, fossem necessários epítetos face ao seu estilo de vida, diria “responsável” e “hedonista”. E dispensamos sentimentos judaico-cristãos de culpa. 

~ ~ ~

Hoje de manhã, enquanto tomava café no bar do meu local de trabalho com duas colegas, surge o assunto das barrigas de aluguer. As campainhas tocaram cá dentro, mas não tive a esperteza de sair de cena. Diz a colega nº1 que acha muito bem que se autorizem as barrigas de aluguer que é para ver se eles (“eles” quem?) aprendem(!), que é para não demorarem tanto tempo a dar bebés para adopção. Segurem-me senhores. (subitamente, preciso de um cigarro) Acreditam que eu respondi? Pois. Disse umas coisas sobre a adopção não ser uma fábrica de bebés para satisfazer a frustração biológica dos adultos. Mas ela insistiu e contou a história de uma amiga que visita uma menina numa instituição, uma menina que hoje tem 4 anos e que é visitada por este casal desde que tem 1 anito e meio, mas que o juiz nunca mais a liberta para a adopção. Pum. E eu, de rajada: que essas visitas, com esse objectivo, são exactamente o que não deveria acontecer. Esse casal pensa o quê? Que não precisa de estar em lista de espera junto do resto da plebe? Que simplesmente escolhe a criança que quer e depois é só reclamar dos tribunais? Que essa coisa que se diz da adopção ser uma solução de vida para as crianças em primeiro plano e não uma solução para os adultos que querem ser pais não é apenas uma coisa que se diz, pois que tem fundamentos lógicos, legais e éticos muito sólidos. Que quem quer adoptar tem de respeitar a lei. Que não é ético tornar-se família amiga com o primeiro objectivo da adopção. Existe o ser-se “família amiga” e, depois, existe o ser-se família de acolhimento, o ser-se candidato ao apadrinhamento civil ou à adopção. Não existe o escolher-se a criança e visitá-la com vista à adopção, fora do circuito estabelecido, que parte da Segurança Social e que é esta que escolhe o casal para a criança e não o contrário.
ISTO NÃO É DISCURSO PARA FAZER O BONITO. Isto não é um discurso vazio sobre o SUPERIOR INTERESSE DA CRIANÇA.
(definitivamente, depois disto hei-de cravar um cigarro a alguém) 


Vamos a ver, todos já ouvimos falar de histórias de crianças cuja vida está "empatada" em instituições à espera de serem “libertadas” para adopções. A lei provavelmente deveria ser revista, sim. Mesmo considerando a melhor instituição possível, concordamos que as crianças devem ter o direito a uma família, o direito a crescer num ambiente que lhe proporcione um crescimento saudável, e quando falamos de saúde estamos também a falar de saúde emocional, certo?
Há um mundo de coisas para dizer sobre isto, mas a principal lição a tirar é que a adopção deve existir, em primeiro plano, para assegurar uma família à criança. Dito de outra forma, a adopção não serve, em primeiro plano, para proporcionar filhos aos adultos. Não pode haver equívoco em relação a isto.

Falando daqueles que partem para a adopção com uma história de infertilidade por detrás, nós, os adultos temos de aceitar a nossa história, temos de aceitar as condicionantes que nos impediram da descendência biológica. Para ser bruta, em inglês, dizemos “get a grip”. Há que aceitar a realidade e encetar o luto da maternidade, ou paternidade, biológica. E, se pensarmos em recorrer à adopção para substituir o filho biológico tudo vai ser muito mais difícil e pode mesmo correr mal. Quando pensamos em adopção, sonhamos com maternidade e/ou paternidade, e é assim que deve de ser, é um sonho de constituir família - é certo, e o sentimento é que conta - é certo, mas convém estarmos muito conscientes de que é um sonho diferente. Não é pior nem é melhor, mas é definitivamente diferente.

Na adopção não há uma barriga, nem um parto, nem amamentação, nem comparações de parecenças com o pai ou a mãe. Na adopção há, de um lado, um ou dois adultos que desejam ter um filho e, do outro lado, há uma criança que carrega uma mochila cheia de histórias. Do outro lado, não há uma tábua-rasa que vem satisfazer um capricho. Do outro lado, há uma criança que precisa de ajuda para crescer, para aprender a confiar que nem todos os adultos são violentos ou negligentes ou omissos. Do outro lado, há uma criança que, de ter vivido tantos anos numa instituição, não sabe o que é ficar de pijama a comer porcarias (entenda-se guloseimas e afins) e a ver televisão o dia todo. Do outro lado, há uma criança que não sabe o que é poder ir ao frigorífico servir-se daquilo que lhe apetecer, mesmo que mais tarde lhe doa a barriga, porque o frigorífico não é seu e as horas das refeições estão escritas num papel oficial, junto com a ementa do mês e os horários das funcionárias. Do outro lado, se é que alguém os aconchega ao final do dia, não é sempre a mesma pessoa, e essa pessoa está apenas a cumprir uma profissão. Do outro lado, não houve a satisfação das necessidades ao desenvolvimento físico e emocional sem contratempos, sem preocupações de se passar fome ou de ser vítima de violência física e/ou psicológica. Do outro lado, ninguém diz "Não faz mal, a mãe/pai está aqui". Do outro lado, há muito provavelmente o sonho de ter uma família, de se ser protegido e não pode haver, nem há, espaço para aquilo que foi o nosso sonho da barriga, do parto, da amamentação, das comparações de parecenças com o pai ou a mãe. A esta altura, os sonhos que os adultos tiveram não interessam para nada.

A vida não me foi fácil e não me deu uma coisa que sonhei ter, pois, de facto, não foi. Mas eu tive um pai e uma mãe e muito amor e muita protecção e muito riso e muito saber o que é chorar todos juntos, todos juntos – um por todos e todos por um. Tenho a obrigação de ser consciente, altruísta e responsável. Se a vida não me deu o que eu queria, não posso usar a vida de uma criança para tentar fazer uma substituição disso. Nem que o tentasse fazer, seria impossível substituir um sonho com outro. Ah, e tal, posso ficar pelos cantos a suspirar pelo que não tive, é legítimo. Por outro lado, se eu mexer uma palha para tentar substituir o meu sonho usando a vida de uma criança através da adopção, então, meus senhores, poderão apelidar-me de egoísta e irresponsável. A verdadeira, e não a minha amiga de que falei no início do texto.

Eu sei que há muitas variáveis e História por detrás desta salganhada toda que é a adopção, mas os pontos têm de ser colocados nos i. Não se pode iniciar a adopção em equívoco acerca dos direitos nela implicados. Já li demasiadas histórias para tentar escapar ao reconhecimento do que é a adopção para o adoptado. Na adopção, os candidatos têm a obrigação de se informarem. Hoje em dia, temos informação grátis e acessível para todos e não concebo que alguém alegue que não sabe onde ir ler sobre adopção. É preciso procurar saber o que é isso do desenvolvimento, do crescer-se como adoptado, do direito à história natural e aos dados genéticos, do direito aos laços que se desejam. É preciso pôr-se o bem-estar dos filhos à frente do nosso – uma coisa que os pais costumam fazer, certo? Mas, do que tenho lido, sinceramente, fico a pensar que muitos pais adoptivos quando dizem que amam os seus filhos como se tivessem nascido de si, esquecem-se de que (1) eles não nasceram de si, pelo que (2) os seus filhos têm direito à sua história.


Quando chegamos a estes lugares de reflexão, digo-vos que tudo o que foi um dia o sonho de ter um bebé fica noutro universo.

Ficam, assim, a saber que estou a marimbar-me para a problemática dos casais que esperam tantos anos para adoptar um bebé.

A adopção não é uma construção à semelhança duma qualquer supremacia do sonho biológico, mas antes a responsabilidade de assumir o superior interesse do adoptado.

A adopção não é uma alternativa à biologia e eu gostava tanto de viver numa sociedade que compreendesse isto.


Cipreste