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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

cenas dos próximos episódios

Vai sair um post sobre como afinal, sim, as crianças conseguem ser muito mázinhas umas com as outras e, não, não estou a falar das honestidades que as crianças dizem de forma cómica aos 3 anos. Estou a falar de crianças da faixa etária dos 10 anos.



Há duas semanas, a Magnólia teve um dos encontros receados e esperados por nós: uma fuinha menina, na escola, perguntou-lhe se não se sente inferiorizada por ter sido adoptada.
Dentre as perguntas sobre se conhece os seus progenitores e se não tem saudades, lá veio a derradeira sobre uma pretensa inferioridade.






O ano passado já tinha havido um episódio semelhante, mais imediato. Ela esperava-me ao portão da escola e uma colega chamou-a a brincar, ao que respondeu que não podia porque esperava a sua mãe. A ranhosa da cachopa respondeu-lhe «Quer dizer, estás à espera da tua “mãe”» fazendo o gesto de aspas com os dedos ao dizer mãe.


Deslarguem-me, senão eu... !


Depois venho cá dizer como lido com isto.


Para mostrar à Magnólia como pode neutralizar em si os actos passivo-agressivos as inconveniências dos outros.


E sentir-se mais tranquila e confiante e com as armas a bagagem necessária para ir lidando com este tipo de investidas. Dou-lhe sugestões sobre como pode lidar com a situação no momento.


Ela acaba sempre estas conversas com um olhar sereno, abraçada a mim, e eu com planos maléficos para ir lá dar cabo daquela gente toda sensação de missão cumprida.


Para já, e porque acordei com isto (não sei bem porque) vim dar um cheirinho do tema e partilhar convosco a minha irritação.


Bom dia a todos,
Cipreste

quinta-feira, 1 de maio de 2014

A Narrativa

A nossa vida enquanto possíveis pais adoptantes, é um processo constante, presente em cada momento da nossa vida. Estou então a fazer um trabalho de Teoria da Literatura, para um projecto de vida. Estudo os conceitos de Narrativa e leio: «os elementos narrativos estão na base de qualquer tentativa de informação e esta é a parte importante do conteúdo normal da comunicação; sendo a significação a estrutura central da via comunicativa, a condição de formação da mensagem (constituída a partir do signo)».
Falamos pois de literatura e romance, mas imaginei a vida de um adoptado e a sua concepção de linha de vida e na forma como lê os signos – como interpreta o que se passa à sua volta.
Para nós, existe uma fractura, um momento, em que a vida dessa(s) criança(s) passa a fazer parte de outra vida, a nossa e a dele(s). Mas será assim? Do ponto de vista da criança, existem dois momentos distintos, todos parte da mesma narrativa: a vida após nascimento, com a sua família original, onde aprende os primeiros sinais do mundo; a vida institucionalizada, onde se dá uma estruturação (ou desestruturação ) da vida anterior e que não o prepara para  a vida seguinte. Depois destes dois, vem o mais complexo, a vida depois - que será onde nós entraremos. Imaginar a complicação da desconstrução signica de estar, sentir e actuar, na cabeça da criança pode aproximar-se do atroz. Toda a sua estrutura consciente e subconsciente, gerará nos primeiros tempos – e nos outros seguintes – uma enorme bolha de conflitos interiores para descodificar mensagens, que podem ir do mais simples ao mais complicado: da rotina familiar do pequeno-almoço (onde há atrasos, interligações familiares, mudanças de planos, etc.), à forma de estar em família à noite, para fazer trabalhos de casa, brincar, arrumar, conversar em família, receber instruções sobre rotinas e aspectos comportamentais, etc.
Estarei longe de imaginar a velocidade, a quantidades de pensamentos contraditórios, o instinto a mandar ir para um sítio, a consciência a mandar ir para outro, o conflito interior e a quantidade de sentimentos associados: o medo, a frustração e a raiva, o aprender a gerir a ansiedade, a vontade de comer, a vontade de brincar, a vontade de dizer algo que está preso há muito tempo (há tempo demais), saber se gosta, se pode falar, se pode ser honesto, se esconde, se diz, se não diz, se faz, se não faz,…
A narrativa não é só um «processo de comunicação», mas para o adoptado, a sua história, de variações, interrupções, cisões desse processo comunicativo e de compreensão do mundo à sua volta. Tudo isto ainda na infância ou adolescência, numa perspectiva de passado, o agora e o futuro, nesse «lugar por excelência da manifestação da experiência humana no tempo».
A gestão da narrativa nestas crianças é a arte de lidar com o tempo, de gerir a irreversibilidade do mesmo, ficcionando ou criando uma série de ilusões, numa estratégia para organizar o caos.


E até vos deixo uma música (e um vídeo), que nem são do meu género, mas que gosto bastante e que acrescenta alguma coisa à reflexão que podemos - se queremos - fazer do texto acima: