quarta-feira, 22 de julho de 2015

curtas

Chamo os meninos mas só ela comparece. Pergunto por ele ao que ela me informa que hoje ele só responde por "fada", chamo pela fada e lá surge por detrás da cortina com as asas e as antenas* de fada na cabeça

*a mim, parecem antenas, mas não sei se as fadas têm antenas

domingo, 19 de julho de 2015

ambições

"só" queria conseguir isto:

«Ser “desnecessária” é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos,(...) Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não pára de se transformar ao longo da vida. (...) O que eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis. Pai e mãe – solidários – criam filhos para serem livres.»

via este link, que não refere a autoria do texto

sábado, 18 de julho de 2015

ambições


Dos novos dilemas que surgem com a maternidade: fazer conviver a sofreguidão por livros de poesia com a sofreguidão por livros "infantis".


curtas

Enquadramento da situação: ter uma mãe que fala português e um pai que fala alentejano

Os efeitos do bilinguismo, numa prova de nêsperas, a minha filha diz: É bom! Só que ainda não consegui perceber bem se sabe a maçã ou a pêro.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Vou ali (e acolá) e já venho

Olá, olá

Só para dizer que o blog está em auto-gestão ("postagem" agendada), andamos a mil, motivo pelo qual temos deixado comentários e emails por responder. Voltamos já-já para vos dar as novidades das últimas duas semanas (e da próxima!) :)
Bom fim de semana!
Cipreste




do léxico do Chaparrito

Obrigadação
Resmate
Desfender
Desquecer
Canguruja

quarta-feira, 8 de julho de 2015

curtas

07h15
Dar um beijo ao Chaparro. Lembrá-lo dos pormenores logísticos do dia. Dar outro beijo ao Chaparro.
Espreitar os meninos. Dormem ferrados.
07h20
Descer as escadas, engolir uma taça de cereais.
07h25
Pegar na trouxa, ouvir os passos de alguém no andar de cima. O «Bom dia, mamã» que se ouve ensonado. Chegar-me ao corrimão, «Quem está aí?», «Sou eu, mamã.», diz ele ensonado, «Estou na casa de banho», explica. «Bom dia, filho, a mamã já não consegue ir aí acima, estou mesmo de saída para apanhar o autocarro», «Está bem, mamã, até logo, tem um bom dia», «Para ti também, amo-te muito».

Fazer a viagem com um sorriso "parvo" na cara, rever cada segundo de beleza, dar graças por isto. Por tudo.
E o pormenor atencioso «tem um bom dia».
E a doçura ensonada com que repete «mamã».
Oh céus, quanta ternura consegue uma mãe aguentar?

This is bliss.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Criar

Quando me dei com dois filhos no regaço não foi no amor de mãe que pensei, não foi isso que senti em primeiro lugar. Quando me dei com dois filhos no regaço foi a possibilidade o seu sofrimento que tomou conta de mim.
É óbvio que, se falamos de uma situação de adopção, estamos a falar de perdas específicas, mas não falo apenas do evidente sofrimento que se adivinhará a quem o percurso de vida familiar tenha sido interrompido precocemente. Falo do sofrimento natural e inerente a todos nós.
A primeira vez que me deparei com uma situação de stress da minha filha, com aquele corpo magro a tremer e ela a encostar-se a mim como se quisera entrar por mim adentro, senti que ia desfalecer, pensei mesmo que ia desmaiar. Quis fugir. Não era possível que o sofrimento daquele ser pudesse influenciar de tal forma a minha capacidade respiratória. Mas foi – é – possível.


Tenho dois filhos maravilhosos. São as pessoas mais corajosas que conheço. São pessoas de bem com a vida.
São os meus heróis.


O nosso início de vida foi como o é a vida no seu todo:implacável. Estávamos juntos há menos de um mês quando o estado de saúde do meu pai se começou a agravar até que nos deixou, ainda não havia passado dois meses da nossa vida em comum. Ao entrar numa vida nova e totalmente desconhecida com sonhos de serem um príncipe e uma princesa, prontos para viver felizes para sempre, os meus filhos vieram encontrar uma mãe em lágrimas.
Assim, a nossa vida começou com risos e choro à mistura, com conversas sobre o amor e sobre a tristeza. Afinal, não estavam ali apenas duas crianças de luto pela sua vida anterior, mas uma família inteira de luto.

Dou comigo, assim, no lugar em que me questiono como posso criar os meus filhos para saber estar de bem e conviver naturalmente com o sofrimento próprio da vida. Sinto, assim, que a dimensão do amor pelos filhos não passa, para mim, por descrições cor-de-rosa sobre como seria capaz de dar a minha vida por eles ou que os filhos é que vêm dar sentido à nossa vida. Aliás,sempre achei que existir para dar sentido à vida dos pais é no mínimo, e para começar, uma herança demasiado pesada para um filho.
Adiante.

Não deixo de ler o que posso sobre pedagogia, o que não é o mesmo que dizer que ando à procura da teoria acertada para educar. Para lá do ensino das boas maneiras à mesa, a educação para a vida nada tem que ver com discursos e é quando nos vemos mergulhados no meio destas emoções todas que damos verdadeiro sentido ao “educar através do exemplo”.
É óbvio que temos desejos para o tipo de pessoa que gostaríamos que os nossos filhos crescessem para ser, para além das suas essências próprias, mas nada mais do que o básico: ser boa pessoa, honesto, amigo, trabalhador, etc.


Passam 8 meses desde que a minha vida mudou para sempre – assim mesmo, com todo o dramatismo próprio à frase que acabo de escrever. 
Assinalo os dois grandes marcos desta viragem da minha vida: a confirmação de que a aprendizagem sobre o bem-querer vem do bem-querer ele próprio e não de palavras vãs, precisamos de actos coincidentes com as palavras; e a constatação de que o meu bem/mau-estar vai estar para sempre a passo com o destes dois seres maravilhosos que entraram de rompante na minha vida.

Este texto que linko resume o que tentei dizer neste post, de uma forma que receio ter sido atabalhoada mas que penso ser útil na partilha de experiências e dúvidas que cabem a muitos de vós que estão deste lado comigo. Acima de tudo, é sobre a nossa capacidade de luta contra o sofrimento de um filho quando percebemos e aceitamos que a vida (também) é sofrimento e que é possível conviver e rir com ele sem ter de decretar derrotas antecipadas à morte – pois esta é a única coisa que não tem remédio.

Brian Rea

«The most optimistic people often struggle the hardest. They can’t quite square what’s going on in the world with their beliefs, and the disparity is alarming.
(...)
In retrospect, my poetry project was a harmless sideline that kept me benevolently out of her way as she struggled not just to see the horizon but to march bravely toward it.»




Cipreste



domingo, 5 de julho de 2015

regressar à labuta

Foram 5 meses de licença de maternidade. A nossa opção foi de 150 dias [120+30(criança "extra")] a 100% do meu vencimento. Não partilhámos a licença, lembram-se que o Chaparro havia perdido o emprego? Pois, aconteceu tudo ao mesmo tempo para não ser monótono :P

Adiante, o que vinha dizer é que tive de regressar e embora goste do meu trabalho e dos meus colegas e tal, confirma-se o que sempre suspeitei antes de ser mãe: gostava de ser uma stay-at-home-mom.

Não estava era à espera de, às 8h, quando coloco o dedo no sistema de identificação biométrica já estar com saudades da minha gente.
Resta-me adaptar até que me saia o euromilhões ou tenha uma qualquer epifania.
Enquanto isso, dou por mim murmurando a toada desta canção ao longo do dia.

sábado, 4 de julho de 2015

ai, ai, cupido

De pequenino se torce o coração

dia 1
ele: A MB anda sempre atrás de mim, é um castigo!
eu: Está apaixonada por ti?
ele: Sim.
eu: E tu também gostas dela?
ele: Eu não!

dia 2
ele: A MB não me larga!
eu: Será que não gostas nem um bocadinho dela?
ele: Eu não!

dia 3
eu: O que estás a fazer?
ele: Um livro.
eu: Ah, que giro, e para quem é?
ele: Para a MB.
(acresce a informação de que a capa do livro estava crivada de corações)

Entretanto, contabiliza as namoradas, diz que foram 12 só este ano lectivo (incluíndo uma menina da 3º ano) :/

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Conselhos totalmente grátis

Hoje começamos esta rúbrica muito atrevida: conselhos básicos não solicitados.
Porque sim. Ao estilo pouco modesto de "quem vos avisa, vossa amiga é".

Primeiro conselho, dirigido a candidatos à adopção:

Confiem na vossa equipa de adopção e estejam disponíveis para observar os eventos por todas as perspectivas possíveis. Tenham a mente aberta. Sejam sinceros e não tentem esconder informações ou dúvidas por receio que possam ser utilizados contra vós. Não fujam. Não tenham medo de considerar hipóteses justificativas que normalmente não seriam contempladas no vosso círculo de reflexão. A equipa é o vosso grande aliado e será porventura quem melhor compreenderá as vossas dificuldades.
Acima de tudo, não se esqueçam que na adopção os comportamentos de todos, e especialmente das crianças, não podem nem devem ser lidos pelo mesmo manual do que o de crianças não-adoptadas.
Sim, educar um filho por adopção tem diferenças e elas devem ser consideradas, o que não significa que os filhos sejam tratados (ou amados, é melhor deixar a ressalva para alguém mais sensível) de forma diferente do que "outros" filhos.



Portanto...
Confiem na vossa equipa de adopção e partam para a adopção com a mente aberta

facebook


Para muitos utilizadores como nós o feed do facebook funciona como um aviso de actualização de sites que seguimos. Por isso, resolvemos criar uma página para o blog. É apenas mais uma ferramenta para facilitar a comunicação e nós temos o vício de facilitar a comunicação :)
Estamos aqui. Até já.


quinta-feira, 2 de julho de 2015

8 meses

Tenho tanto para vos contar que é difícil decidir por onde começar. Os últimos 8 meses foram muito intensos - tão difíceis e tão especiais. Resolvi começar com isto que escrevi e dediquei à minha família no dia em que entregámos no Tribunal de Família e Menores a petição para a adopção plena dos nossos filhos. É uma espécie de exercício em forma de resumo poetico-prático:


Superior Interesse do Amor

Outubro
O telefone tocou
Magnólia e Chaparro Júnior
A hora em que nos vimos pela primeira vez
Papá, mamã
Filha, filho

A vinda para casa
A primeira noite
O primeiro choro
A primeira dor
O primeiro dia de escola
O medo a instalar-se dentro de todos nós

Novembro
Conhecer o mano mais velho e a paixão imediata
Viva a capacidade de amor das crianças
Tios, primos, avós – e a última fotografia tirada com o meu pai
E o resto da vida a acontecer
O primeiro internamento do avô, duas semanas após estarmos juntos
Prepararmo-nos para o pior
Disse o médico
Preparar a rede para o pior
Conhecer a família alargada
Conhecer os amigos dos pais

Os primeiros recados na caderneta dele
A primeira chamada da professora à escola

Dezembro
O segundo internamento do avô
A dor dos dias seguintes
O testemunho do último suspiro do meu pai querido:
Adeus, paizinho,
Não vás, por favor, não vás
Até sempre, paizinho

O pai que os foi buscar ao campo de férias do Natal e lhes disse
“O avô foi embora, nunca mais vai estar connosco”
E a dor dos dias seguintes
O funeral a assinalar o nosso aniversário de casamento
As datas, sempre as datas
Ficarem ao cuidado da família alargada, sem ainda terem estado longe de nós
Os dias seguintes
O meu aniversário e um bolo absurdo com velas
E o Natal mais triste de sempre
(Era para ser o Natal mais feliz de sempre)
O Natal mais triste de sempre
As datas, sempre as datas
E os foguetes de ano novo que se ouviam
Na casa onde o silêncio reinava entre as nossas lágrimas
As datas, agora a contar para trás no que é a memória do meu pai

E o resto do mundo, ingrato, que não parou solenemente

E um Inverno duro e confuso
Os dias mais confusos de sempre
Cheios de medo e incompreensão

A questão: como era possível que aquilo fosse o resultado da minha busca de vida

Janeiro, Fevereiro
Tanta dor
Tanta força a ser necessária
E o amor a tentar pôr-se em bicos dos pés
E os dias com as suas coisas práticas a intrometerem-se
Era necessário assegurar
Refeições, roupa, trabalhos de casa, educação, regras, estabilidade
Amor

E a negridão a aproximar-se para dentro de mim
(Mas o amor já estava em bicos dos pés)
E precisar de ouvir: estão a fazer um bom trabalho
Precisar de votos de confiança, receber silêncio e ausências
Eu caio
E, um dia, receber uma carta generosa
De uma pessoa inesperada
(És uma boa mãe)
Guardar essa carta como um tesouro
E dar graças pelas pessoas bondosas
Levanto-me e grito
Deixo de precisar daqueles que não fazem um extra mile
Nem geográfico, nem emocional
Hoje e para sempre
Contar comigo e com o meu amor
E com as pessoas bondosas

Compaixão e saber perdoar

Março
Dizemos em voz alta: somos um rochedo
«Somos um rochedo.»

O primeiro dia do pai
E o amor
«O amor.»

Abril
Ele faz anos
Nós desdobramo-nos para lhe mostrar: amamos-te
Muito
Três festas: uma no dia, com os amiguinhos
Outra no Sábado seguinte, com os familiares
E no primeiro dia de aulas após as férias da Páscoa
Três festas, três bolos
E ele segue, com o terceiro bolo, a caminho da escola
Com a ajuda do pai, e diz-lhe:
A mãe é uma pessoa amorosa a fazer bolos de anos.

Confirmo o meu sonho:
Ser uma mãe-sempre-em-casa
Mas não posso
Regresso ao trabalho
Regressam alguns pesadelos nocturnos
Resolve-se com dormidas a quatro
Madrugada fora
Viva a cama dos pais
Abaixo quem julga as opções alheias

Ainda Abril:
Os nossos corações dão de si
Libertos do medo
Serenos

Maio
O primeiro dia da mãe
E o amor
Recebo outra carta: dela
«Mãe», diz-me ela, «amo-te»
Duas páginas repletas de juras de amor
Trago-a comigo, para ler em momentos de medo

Serenidade em pleno
Nos corações
Todos
Nos nossos sorrisos
Nos abraços matinais
Viver, agora e para sempre
Até que a morte nos separe

Junho
Ufa, a canseira de final de ano
Somos, como suspeitávamos que iríamos ser,
Pais participantes, lavamos tachos
Servimos sardinhas no arraial da festa de fim de ano
E saímos da escola à meia-noite
Damos um duche a duas crianças felizes que se deitam
Consoladas
Para ter sonhos bons
Abaixo os pesadelos

Lemos cerimoniosamente, na petição ao tribunal,
Escrita com a ajuda da jurista da nossa equipa de adopção:
Superior Interesse da Criança
E choramos
Da solenidade e da verdade
Desta expressão escrita agora dentro da história das nossas vidas

Tantas primeiras vezes, verdades e erros,
Tudo junto e plenamente humano
No superior interesse do amor
Hoje e para sempre
Que a morte só há-de separar-nos dos nossos abraços.

Cipreste

faltam aqui as patinhas do Freixo :)