Estas têm sido umas semanas muito particulares. Anda aqui
qualquer coisa a acontecer. Sinto que se está a dar uma viragem nesta família,
nas pessoas desta família. Não sei a ordem dos factores, se é cada um que está
a aclimatizar-se ou se é a família como um todo e que depois proporciona as
condições a cada membro para a sua adaptação. Há-de ser, certamente, uma
miscelânea.
Esta semana soube-me bem, soube-me a real. Não foi sempre
bonita, há, aliás, uma coisa que me anda a incomodar muito e que não sei como
solucionar. A minha mente parece aquelas passagens nos filmes, em que fazem retrospectivas em flash. Não sendo propriamente uma semana bonita, foi uma semana real,
franca.
Ontem, para tornar esta numa semana ainda mais especial, fomos jantar fora e depois ao teatro.
Há determinadas coisas que só dizemos aos meninos antes de
acontecerem para eles não andarem a antecipar. Temos de ter especial atenção com o Chaparrito,
fragiliza-se muito com qualquer coisa que sirva para se questionar, para se sentir
inseguro e isto pode concretizar-se, por exemplo, em mau comportamento na
escola nesse dia. Assim, só lhes dissemos cerca de meia-hora antes de sair de
casa. A minha mãe está cá e ficou com eles. Ainda o Chaparro lhes estava a
dizer e já eu via os olhos do Chaparrito a ficar vermelhos. Veio logo para o
meu colo e começou a chorar copiosamente. Pumba. Olhei o Chaparro com aquele olhar de “fiquemos em casa” e ele retribuiu-me com o outro olhar, o de “nem penses”.
A última vez
que a minha mãe estivera cá eu tinha feito destes planos e anulei-os precisamente
porque achei o Chaparrito mais frágil naquele dia.
Se o Chaparro não se
impusesse é bem capaz que este ciclo nunca mais fosse interrompido.
Quando saímos
de casa o pequeno já estava bem disposto, mas isso não o impediu de me lançar o seu olhar de cachorrinho quando saí, e olhem que ele é, por definição, de tipo
cachorrinho do mais fofinho que há.
Já no restaurante, estava cheia de dor de consciência,
sentia um ímpeto enorme para me levantar e zarpar para casa. Era quase um
sofrimento. Só quando lhes telefonámos para dar as boas noites, antes de ir
para a peça, é que relaxei.
Comentei que era a primeira vez que ia comer japonês desde a
chegada dos meninos. Comecei a fazer contas de cabeça e questionei o Chaparro -
olha lá, quantas vezes fomos ambos jantar e a um espectáculo, desde que temos
os meninos?
Ora… noves fora…. nada.
Era a primeira vez. Ontem foi a primeira
vez que saímos os dois para um programa completo desde que tivemos os meninos. Já
fomos à vez. E já tínhamos ido ambos ver um espectáculo de dança, tendo a minha
mãe ficado com eles, mas jantámos em casa e saímos 15 minutos antes da hora deles
de deitar.
Ontem, matei saudades de sushi, sashimi, gengibre e wasabi, acompanhados
de chá de jasmim.
O tema de conversa começou por ser disperso, mas acabámos com
uma conversa muito profunda sobre os nossos filhos e os últimos tempos, o nosso
processo, e o de cada um de nós enquanto pais. Comovi-me em vários momentos. Demos as
mãos, como sempre, mas ontem éramos mesmo só nós dois. Vimos uma peça. Lavei a alma e cheguei tão feliz a casa para ir
espreitar os meus filhos a dormir.
Na verdade, eu tenho dois bebés com 1 ano e 4 meses, faz todo
o sentido que só agora comece a sair.
Não é assim com todos os pais?
Não é assim com todos os pais?
Cipreste