sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Uma mãe normal, uma boa mãe

«I knew I would be hard. I knew. I knew. I knew. But I didn’t know it would be like this. There are no words to describe how bad I’m coping. This is all so much more impossible than I expected. What is wrong with me, with us? (…)
“I wanted to be a different sort of person, “ I say. “It was so important to me to be a good mother. I’ve only had these babies for a week, and I feel like they have sucked my soul. I’m already a terrible mother. How can I have let the rot set in so quickly? Shouldn’t there have been a honeymoon period?”
Mum disagrees with me, gently, and tells me that I’m not a terrible mother. I appreciate the effort, but I know she’s lying; that’s what a good mother would do in this situation.
“I am,” I say. “I know it. I’ve got these two tiny babies, and they are so vulnerable, but they are so needy and I just can’t handle it. I resent them already. I know they need all of me but I don’t want to give it to them. They cry, and when I hear it my heart sinks. I don’t want to feed them again.”
“No,” she says “that doesn’t make you a bad mother. That makes you a normal mother. What makes you a good mother is that you don’t want to do it but you do it anyway.”»

p.141/142


Claudia Chapman in Hypothetical Future Baby - An Unsentimental Adoption Memoir


autora do blog my fascinating life

* * *

Periodicamente, tentaremos partilhar livros que vamos lendo. Começamos com esta semana de excertos diários do "nosso primeiro livro sobre adopção".

2ª-feira - A ideia de um filho
3ª-feira - Fazer *algo*
4ª-feira - Cansaço, a miscelânea de emoções
5ª-feira -Toda as adopções começam com uma história de perda

Cipreste

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Todas as adopções começam com uma história de perda

«We ask for information about the children’s past, how they have found themselves here, why it is that they are likely to grow up in England with two white strangers. Desta tells us their history and I connect this heart-breaking story with the two tiny infants sleeping downstairs, I don’t know how to bear it. All adoption starts with loss is something I have known ever since we started on this path, but the abstract idea of loss feels a lot less horrifying than the real personal story that will put these children in my arms.»

p.114


Claudia Chapman in Hypothetical Future Baby - An Unsentimental Adoption Memoir


autora do blog my fascinating life

* * *

Periodicamente, tentaremos partilhar livros que vamos lendo. Começamos com esta semana de excertos diários do "nosso primeiro livro sobre adopção".

2ª-feira - A ideia de um filho
3ª-feira - Fazer *algo*
4ª-feira - Cansaço, a miscelânea de emoções


Cipreste

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Cansaço, a miscelânea de emoções


«I’m sick of crying, and I’m sick of trying to hold in the tears. I’m sick of whining about it. I’m sick of doubting myself, and wondering if I can ever be a good parent to an adopted child when the adoption process makes me so unbearably angry. You make me question myself and my choices and lose all my self-control.»
p.77


Claudia Chapman in Hypothetical Future Baby - An Unsentimental Adoption Memoir


autora do blog my fascinating life

* * *

Periodicamente, tentaremos partilhar livros que vamos lendo. Começamos com esta semana de excertos diários do "nosso primeiro livro sobre adopção".

2ª-feira - A ideia de um filho
3ª-feira - Fazer *algo*


Cipreste

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

And sometimes we think we are not ok but really we are

Queria conseguir dizer do impacto que isto tem tido na minha vida, mas não sei se consigo. De cada vez que começo a teclar sobre esta moléstia, começo a chorar e não consigo avançar. Apago tudo e vou fazer outra coisa qualquer. Geralmente essa coisa qualquer é comer chocolate. Embora saibamos que a nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer, um chocolate é um chocolate é um chocolate. Mimo, precisamos de mimo e de compreensão. E eu tenho isso. Tudo. E nem assim posso considerar que lido bem com isto. E daí, o que será lidar bem com isto? Um chorrilho de lugares comuns construídos na base da culpa judaico-cristã, é o que vos digo.

Cenário: passar-se mal todos os meses desde os 14 anos (menarca aos 13), muitos dos meses tendo de recorrer ao hospital para controlo da dor, sofrer hemorragias imensas, ter anemia, chegar à estação em que se planeia engravidar e os meses e os anos passam, sem filhos, mas com dores. Queixa-se de não ter filhos e ainda por cima ter dores e ter de ouvir a besta o diplomado em medicina a dizer “Não sei porque se está a queixar, 70% das mulheres férteis queixam-se de dores menstruais.”. Onde diabo terá aquele energúmeno diplomado em medicina ido buscar aquela estatística?

Após o 4º médico e mais 12 anos, alguém propõe um diagnóstico pela primeira vez: ENDOMETRIOSE.

Então, isto tem nome? E não é normal, é uma doença? Não é um tanto ou quanto exagero chamar-lhe doença? Agora que me habituei a dizer que é normal. Afinal, são só dores e hemorragias incapacitantes e causa de infertilidade.

Começam agora a ver onde encaixa o chorrilho de lugares comuns construídos na base da culpa judaico-cristã?

Fomos convencidas durante anos de que as nossas condições são nada mais do que a paga por sermos mulheres. No meu caso, mais de metade da minha vida tem sido marcada pela endometriose. Façam contas, sou uma quarentona (enxuta!) e comecei nestas andanças aos 14. A primeira vez que acordei com dores não fazia a mínima ideia do que se passava comigo. Tenho tão presente essa madrugada, a minha confusão sobre o que sentia, decidir se deveria acordar os meus pais, a ida ao hospital e o alívio após a medicação. E nunca mais parou. Quer dizer, intervalou há cerca de 15 anos após uma intervenção cirúrgica por laparoscopia, mas voltou passados uns anos.

Gostava de dizer com toda a certeza que eu não sou endometriose nem a endometriose toma conta da minha vida. Mas receio não o conseguir dizer sendo totalmente honesta. A minha biografia está muito habitada por esta maldita. Tive um casamento anterior que foi muito marcado para o final devido à questão “filhos” e esta questão não pode ser separada da questão endometriose. As dores já me inibiram demasiadas vezes de socializar e de trabalhar. Após os últimos tratamentos, à procura de uma gravidez, piorou exponencialmente e agora as minhas dores não se resumem ao período menstrual. Agora não há regra, é quando lhe apetece, e onde lhe apetece. E com a intensidade que lhe apetece. E isto cansa.
E isto cansa tanto.

Já não se trata de brincar com o Síndrome Pré-menstrual, é um ciclo non-stop. Não sei com o que posso contar. Passo umas semanas sem dores, passo as semanas seguintes com dores. Faço pílula contínua mas tenho hemorragias na mesma. Vou na terceira semana. Com hemorragias e com dores. E isto cansa.

E dou por mim a calçar as sapatilhas hoje de manhã para ir para o trabalho enquanto faço contas a quantas horas faltam para regressar a casa e deitar o corpo. E dou comigo em lágrimas e a afligir o Chaparro e a pensar que merda quero sentir-me melhor, com mais força. Sem dores e com mais força. A minha cabeça está activa e não pára, quero que o meu corpo corresponda, mas ele responde-me que estou cansada e que só o quero deitar. E tudo fica tão difícil e sinto-me a perder o chão e já sei que me vão perguntar o que tenho e só me vai apetecer fugir.

E isto cansa tanto.

Porque tem o resto da vida toda à volta.
A espera pela convocatória para a cirurgia. Já vos disse que o veredico de 3 médicos para o meu pecado de endometriose foi a histerectomia radical?
A nova etapa do meu pai. Mais um tratamento, paliativo e não curativo, já sabemos senhor doutor, mas não queremos saber e repudiamos isso tudo, isso tudo, isso tudo. O meu pai está bem, muito obrigada. O meu pai está bem.
E o resto da vida toda à nossa volta.
E o nosso amigo que emigrou com uma situação incerta e dizermos uns aos outros que vai correr tudo bem. Que preocupação.
E a nossa casa a ser feliz em preparação para o nosso filho ou a nossa filha ou os nossos filhos ou as nossas filhas, para a equipa de adopções aprovar. Para a equipa de adopções aprovar. Porém a equipa nunca mais chega, porque as equipas de adopções também têm baixas no pessoal, mas nós temos tanta dificuldade em compreender como é que um processo de adopção pode ser adiado ou atrasado ou lá o que é por falta de pessoal. E não compreendemos e ficamos com medo que o nosso filho ou a nossa filha ou os nossos filhos ou as nossas filhas estejam já à nossa espera e nós que nunca mais chegamos.
E nós que nunca mais chegamos.

E o resto da vida toda à nossa volta.

E ter energia para aplicar técnicas no nosso trabalho e conseguir ter uma palavra amiga para os clientes.

E querer chegar a casa e deitar o corpo. Vemos um filme num dia e choramos. Vemos outro filme noutro dia e já sabíamos que íamos chorar. E choramos uma vez mais.

cena final do filme Monster's Ball,
em que se come gelado de chocolate  :)
e ouvimos We're gonna be alright
E chega o dia em que dizemos não. Não. Dizemos não à forma como estas dores e estas feridas estão a tomar conta de nós. E arranjamos forças e vamos a pé para casa.  E pensamos eu não sou endometriose nem a endometriose toma conta da minha vida. Fazemos os cerca de 4 km a pé e recebemos o vento no rosto e lembramo-nos que temos o fogo dentro de nós*. E sentmo-lo - ao fogo, e pensamos: we’re gonna be alright.


E depois dizemo-lo em voz alta no meio da rua e não importa quem passa. We’re gonna be alright.
Assim que entramos em casa, cai uma tromba de água e sorrimos e repetimos as palavras da nossa querida amiga: And sometimes we think we are not ok but really we are.



* referência a A Estrada de Cormac McCarthy
Cipreste

fazer *algo*


«I’m realizing more and more that adopting really, really isn’t a replacement for doing things the normal way. It’s great, but it’s not a replacement. I feel intense joy about the family that we are going to have, but I still find myself mourning the losses of what we won’t have, too, that we won’t be, what I can’t do. I expect our child will feel the same. However joyful our lives are together, he should never have had to feel the loss of one set of parents before gaining a second. (…)
Also, I want to be doing something for this child, and I cannot. I think about people telling me that this wait is like a pregnancy wait and I know in every bone of my body that they are wrong. I know that being pregnant is difficult. But those difficulties are not these difficulties.»

p.49


Claudia Chapman in Hypothetical Future Baby - An Unsentimental Adoption Memoir


autora do blog my fascinating life

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Periodicamente, tentaremos partilhar livros que vamos lendo. Começamos com esta semana de excertos diários do "nosso primeiro livro sobre adopção".

2ª-feira - A ideia de um filho

Cipreste

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

a ideia de um filho


«“I don’t know that I can do this, Laura”, I say “Most babies I would conceive wouldn’t even survive. How could I get pregnant, knowing that my baby would probably never make it out alive?” I'm getting shrill. “And if it does survive, and it has serious special needs, how can I know for sure I would love it?” Shriller. “And what about Jay? Would this destroy our marriage? And how can I even be having these thoughts?” At this point, only dogs can hear me.
She says to me: “The problem is that you’re not thinking about an actual child, you’re just thinking about the idea of a child.”
“My hypothetical future baby,” I agree.»
p.17


Claudia Chapman in Hypothetical Future Baby - An Unsentimental Adoption Memoir


autora do blog my fascinating life

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Periodicamente, tentaremos partilhar livros que vamos lendo. Começamos com uma semana de excertos diários do "nosso primeiro livro sobre adopção".

Cipreste

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Raízes

Vocação para a poesia - sonhemos portanto.
Uma criança tem pouco a ver com poesia.
É a – única - coisa que a transcende. E também à realidade, aos dias seguidos, às consequências de algo – é vida.
A poesia pode ter a ver com a criança.
Uma árvore pode ter a ver com a criança enquanto poema. Não queremos que seja um tronco liso, transformado num toro, muito menos em pranchas ou tábuas. Queremos que tenha ramos e muitos deles serão tortos. E raízes. Muitas e fortes raízes. As raízes são mais importantes que os ramos, que as folhas, as flores, os frutos, mas deve ter isso tudo. Se não tiver, e os ramos forem menos vistosos, tem ou pode – deve - ter ninhos e buracos onde se acomodam outros seres.

 As crianças têm de comer, e os poetas também.

Chaparro

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

E tu, porque é que não adoptas?

Eu podia devolver a pergunta às pessoas, mas não o faço. Porque não devo. Porque isso não se faz. Esta é uma pergunta que só pode ser feita pelos amigos íntimos ou família chegada e muito raramente estes dão um passo à frente para fazer a pergunta, porque sabem que é uma pergunta que não se faz. É simplesmente errado perguntar a alguém porque-é-que-não-adopta. Vou mesmo dizer-vos que é uma pergunta de calibre filha-da-p*tice porque, para além de ser altamente indiscreta, tem lá dentro várias rasteiras emocionais, não se entra pela vida das pessoas adentro, assim, sem licença. Vou repetir: não se pergunta às pessoas porque-é-que-não-adoptam.
Uff.
E argh.

Já há algum tempo que era poupada a isto e no mesmo dia levo com a pergunta duas vezes.

Momento nº1, no bar com uma colega de trabalho.
Eu, inadvertidamente: não me apetece comer, nem o chá me apetece.
Ela: hmmm, se calhar está grávida…
(és tão burra, Cipreste, tinhas obrigação de saber que não tens o direito de desabafar uma indisposição sem ser abalroada pela suspeita de gravidez)
Eu: não, não estou.
Ela: oh, não sabe, pode estar. Não lhe apetece comer, pediu um chá mas nem esse lhe apetece, pode bem estar grávida.
(por favor, caia aqui um raio imediatamente; por favor, existe, deus, e castiga este ser)
Eu: Acredite, não estou grávida.
Ela: oh, mas não quer ter filhos?
(a sério deus, por favor, existe, e vem castigar esta ovelha que fala ao meu lado, juro que vou à missa)
Eu: Não posso.
(és mais burra do que eu pensava, Cipreste, abriste caminho para a pergunta, agora amanha-te)
Ela: oh, e porque é que não adopta?
(diabo, estás aí?)
Eu: logo veremos.
Mas ela insiste: a sério, porque é que não adopta, é tão giro!
Eu: logo veremos.

Momento nº2, ao almoço, sentada junto a duas colegas. Fazem juízos de valor conversam sobre outra colega que está grávida, mas tem uma menina de 2 anos que ainda dorme com o casal. O horror. Colega 1 não tem filhos e inclusive fez 3 fertilizações InVitro. Colega 2 tem uma menina de 2anitos e meio, que já dorme no seu quarto desde a idade em que as crianças devem dormir nos seus quartos. Claro. Eu estou calada, vou acenando com a cabeça quando me interpelam com o olhar.
Continua a superioridade moral e eu não me tenho: Bom, cada família encontrará a solução para si e desde que funcione é o que mais importa. Compreendo as teorias do que é mais preconizado como correcto, mas não sei nem posso dizer como faria se tivesse filhos.
(woohooo, Cipreste, boa! Estiveste tão bem sem abrir a boca até agora, mas tiveste de te enterrar mesmo quando a conversa podia acabar. Bem lançado, Cipreste, estás a ficar cada vez mais esperta)
Colega 2, que saberá da minha história de infertilidade: Porque é que não adopta, Cipreste?
(assim, a frio, sem mais nem menos, levo logo com esta xaropada)
Eu: porque não.
Colega 2: mas porque não, é uma boa solução.
(solução!, será o nome do meio dos meus filhos, é mesmo assim que encaro os meus futuros filhos. not.)
Eu: logo se verá.
E a Colega 1 caladinha que nem um rato. Ah, pois, porque é que ela nunca adoptou, hein? 

Não sei se vos consigo transmitir o desgaste que estas ofertas espontâneas de galhardetes com soluções existenciais provocam. É tão, mas tão intenso e cansativo e… errado. Isto não se faz.
E não me venham falar de boas intenções nem dizer que qualquer mágoa que a pergunta provoque é inadvertida.

Um dia destes, hei-de escrever alguns dos meus pensamentos sobre o processo de decisão para adoptar. Isso são outros quinhentos.

Para já, fica a velha questão: porque é que as pessoas fazem estas perguntas sem parar para pensar na pessoa que têm à frente, medir o nível de intimidade* e pertinência das suas perguntas/sugestões/intervenções? 
(por favor, não me digam que é só porque não conseguem controlar o impulso de dizer tudo o que lhes vem à mente)

* é importante que não se confunda uma certa abertura para se falar de processos de doença e infertilidade com abertura para se fazer mesa redonda de reflexões e decisões tão gigantes e íntimos como a adopção, por exemplo. Quando alguém nos abre uma porta da sua vida não quer dizer que nos tenha convidado a entrar em todas as divisões e acreditem que nestes assuntos infertilidade/adopção cada um tem a sua divisão bem marcada e independente da outra. Qualquer engenheiro da vida sabe isso.
[O momento de metáfora barata que acabaram de ler acima foi totalmente grátis.] You’re welcome. Perdoem-me, este assunto deixa-me com o pezinho no sarcasmo :/

Só mais uma coisa: eu gosto mesmo é da pergunta em Inglês, pelo toquezinho do just. É maravilhoso: why don't you just adopt? Sigam o link e poderão ver que não é só a mim que incomoda e invade.


Bom dia :)



Cipreste

da boca dos outros

Este texto é demasiado bom para não o lerem. 
A sério, marquem-no, façam um auto-reencaminhamento por email, registam nas vossas agendas, aproveitem durante uma pausa para o chá, etc., mas prometam-me que não vão deixar de o ler. 
É muito bom. Eu (ainda) não sou mãe e já o sinto plenamente. 
Mesmo considerando as diferenças entre o que penso que uma mãe adoptiva deve procurar saber, em comparação à “maternidade biológica”, é assim que penso e sinto as coisas da parentalidade. 
Tão real, tão palpável, tão de carne e osso e coração. 
Estou muito contente de ter ido parar ao blog da Menina :) 

Ide ide, ide lá ler o texto sobre o tipo de mãe que se é.

Cipreste

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Wishlist

Quanto a lancheiras, cara cipreste estamos conversados:
Estas são muito giras e arrumam-se bem e o termo para as bebidas é o mais porreiro de todos.
Penso que não oferece dúvidas :)


Chaparro

(compras racionais) e (será que estou a projectar blábláblá?)

Ontem encomendámos 2 livros pela net. Não temos muito hábito de fazer compras online, gostamos de ir à fonte, dar os bons dias a quem está atrás do balcão, palpar e cheirar as coisas antes de as comprar, beber um café pelo caminho, fazer o caminho de mãos dadas, enfim, gostamos de coisas de carne e osso. Não quer dizer que por vezes não recorramos ao clique. O que dita essas compras é geralmente o facto de não ter o produto acessível na nossa cidade ou por ter um preço que lamentavelmente nos faz abdicar dos bons dias a quem está atrás do balcão, etc. etc.
Temos lido bastante sobre adopção, sempre a partir de material disponível na net (blogs, artigos, teses), só tínhamos comprado um livro até agora. E foi uma bela compra, ambos o lemos (nota mental: a ver se deixo aqui uns excertos, um dia destes). Agora aguardamos A Aventura da Adopção de John R. Thompson e Karen J. Foli e Este Meu Filho que Eu Não Tive, A adopção e os seus problemas de João Seabra Diniz. Não são os que estavam no topo da lista mas algumas circunstâncias levaram a que cheguem primeiro. Vamos ver o que nos dizem.

Entretanto, e ainda sobre compras e mais especificamente sobre compras na net, tenho de confessar que ultimamente ando com mais dificuldade em controlar os meus cliques, mais do que alguma vez tive com o controlo do hábito do tabaco, por exemplo (e para verem o quão intenso isto é). Fica-me estranhamente difícil não comprar certas e determinadas coisas. Digo estranhamente porque nem por isso me considero uma pessoa que compra por impulso (na verdade, nem sequer sei se sou forreta, mas acho que não sou). 

Acontece que ao pesquisar a imagem de um brinquedo para o último post sobre o enxoval dei de caras com todo um mundo revivalista que me dá uns calores de felicidade no peito deixando-me sozinha e impotente com os tais impulsos para clicar no botão “comprar”.

Deixo-vos dois exemplos de coisas que os meus filhos têm-de-ter porque, convenhamos, os meus filhos têm-de-ter isto:




e esta lancheira, é absolutamente imprescindível ter uma lancheira do Curious George!

eu gostava tanto (mas tanto!) das histórias deste maluco que até deu azo a crítica da minha educadora de infância que me acusou de não ser original e escolher sempre o mesmo livro (bof!)

Percebem agora o drama de uma pobre futura mãe assalariada que tem acesso à net no trabalho e que ao invés de ir ao bar tomar um café fica a seguir link-após-link e a suspirar e a lembrar-se de quão feliz foi na sua infância?
Afinal, criar não é (também) proporcionar momentos felizes aos nossos filhos? Se estes objectos/personagens nos trouxeram tanta felicidade nas nossas infâncias, não fazemos mais do que a nossa obrigação ao transmiti-los aos nossos filhos.
Parece-me que sim, mas isso também pode ser só o impulso para clicar no botão “comprar” a falar.

Cipreste


p.s. só mais uma coisinha: será que conseguem imaginar o quanto me tive de conter para não deixar um post quilométrico e resumir-me a apenas dois (2!) objectos de desejo? Por exemplo, não postei esta sacola que qualquer mãe deve ter para transportar lanchinhos para os filhos.

pronto, já temos conta na limetree

afinal, esta é uma família de árvores :)


https://limetr.ee/br
LIMETREE, Construa uma bela história da sua família

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Adopção: as sessões de formação - sem mistério


Algumas pessoas podem pensar que é fazer formação para aprender a ser pais, mas na verdade não é isso. Quer dizer, é, mas não é. Entre outras coisas, para mim, é aprender sobre como procurar minimizar os danos da vida ou, pelo menos, aprender a não piorar coisas que já são por demais difíceis.
Façamos uma pausa no espírito crítico que está à flor das nossas convicções e deixemo-nos enredar pelas conjunturas  habituais que levam à paternidade: biologia ou adopção.

Com um filho biológico, que surge de uma gravidez desejada e planeada em que há tempo para ver o corpo da mulher a mudar enquanto se faz o enxoval, penso que não há propriamente dúvidas sobre a origem do amor e a sua devida reciprocidade. A criança nasce e tem o amor e protecção dos pais como garantidos. Os pais têm dúvidas, naturalmente, mas isto é a vida e tudo irá fluir, no mínimo, podem mimetizar o que fizeram os seus pais e outros amigos e família que à sua volta também têm filhos. Mais ou menos, têm tudo para que a coisa corra “normalmente”, dedicando-se à puericultura sem necessidade de preocupações e diligências no que concerne a psicologia, a sociologia e até a antropologia.

Com um filho adoptado, e em consciência, não me parece que as coisas possam ser levadas de forma tão “natural”. Não digo que tenhamos de controlar tudo à nossa volta, de todo. Mas acho que será negligência da nossa parte, enquanto pais adoptivos, tentar fingir que é tudo igual, que se educam os filhos adoptados da mesma forma que se educam os filhos biológicos, que é deixar as coisas andar que tudo logo se compõe. Provavelmente num mundo ideal isso aconteceria, mas na proporção inversa do que se possa imaginar num primeiro instante.

Acontece que eu gosto da ideia de mimetizar a família e amigos, dá-me uma sensação confortável de aldeia, de comunidade, de protecção, de haver um espaço legítimo para a tentativa-erro. E, para solidificar e rematar essa prática, fazer como dizia o Professor João dos Santos: educar é fazer falhar a educação que nos deram. 
Eu quero fazer isso, é assim que vou tentar estar na educação do(s) meu(s) filho(s). 
Porém, não me safo de um processo de retaguarda a que os pais biológicos são, na sua grande maioria, poupados. Na adopção há um passado, no mínimo negligente, a ter em conta e muito provavelmente o(s) meu(s) filho(s) trarão memórias que nós teremos de ajudar a neutralizar para que possam retomar as suas meninices em segurança e com alegria.

Devo ler e receber formação e reflectir e discutir os assuntos que me são apresentados com o meu marido e com a equipa de adopções e com outros casais e com outros candidatos à adopção e com a família e com os futuros profissionais que venham a acompanhar o(s) meu(s) filho(s). Já tenho provas dadas disso, dessa necessidadade, pois já analisei situações que tenho a certeza de que eu não enfrentaria da forma mais eficaz do ponto de vista dos afectos se não tivesse lido e recebido formação e reflectido e discutido esses assuntos.

Durante os anos de infertilidade, antes de cada tratamento parei para reflectir sobre a vida, se fazia sentido ter um filho, tentar consciencializar-me para as grandes mudanças na minha vida com a vinda de um filho, etc. Agora, para a adopção, não só ponderei estas questões como se lhe acrescentaram mais algumas e uma das mais importantes é esta: a que necessidades é que eu acho que tenho capacidades para responder?

Isto é algo que tenho aprendido com a equipa de adopções, é a fazer estas reflexões que nos ensinam nas sessões de formação. Não pensem em vir de lá com respostas, vêm com mais perguntas, mas estas são as perguntas que nos ajudam a saber a cada passo mais e melhor aquilo para o que achamos que estamos preparados.
Tudo em prol de uma adopção de sucesso que é dar uma família a uma criança em que ela se sinta  amada e segura, em que saiba que aqueles pais estão ali para o que der e vier, para sempre, e que cada um tem o seu papel e o das crianças é esse… ser criança, com todos os direitos que lhe são devidos. Acrescentando-lhe mais alguns, de preferência.

E querem saber uma coisa? Tudo isto está a acontecer de forma natural na minha cabeça, a encaixar, a fazer sentido que assim seja, estou a sentir isto de forma muito intensa e a sentir a forma humanizada com que nos estão a abordar. A palavra que me surge desta construção é fraternidade, e mesmo adivinhando grandes desafios e dificuldades estou a gostar muito de estar neste sítio, lado-a-lado com o meu amor e com a minha família e amigos que estão todos a viver uma gravidez muito desejada.

Ah! Retenham estas expressões pois suspeito que as vamos usar muito por aqui: neutralizar e necessidades versus capacidades.

Cipreste



Unicef + Pedro Strecht

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Todas as crianças com mais de cinco anos têm direito a desabafar.

Todas as crianças até aos onze ou doze anos têm direito a andar grátis no Carrocel quando estão de férias.

Todas as crianças que andam na Escola têm direito a serem alegres, terem amigos e a brincarem com os outros.

Todas as crianças têm direito a ter uma Professora que não grite com elas.

Todas as crianças têm direito a ver o mar verdadeiro, especialmente em dia de maré vazia.

Todas as crianças têm direito a, pelo menos uma vez na vida, escolher um chocolate que lhes apeteça.

Todas as crianças têm direito a terem orgulho na sua existência.

Todas as crianças têm direito a pensar e a sentir como lhes manda o coração, até serem velhas, aí com uns vinte anos.

Todas as crianças têm direito a terem em casa o Pai e a Mãe, os irmãos, se houver, e comida. Se o Pai e Mãe não conseguirem viver juntos têm direito a que cada um deles respeite o outro.

Todas as crianças têm direito a deitarem-se no chão para ver as nuvens passar, imaginando formas de todos os bichos do Mundo combinadas com as coisas que quiserem (por exemplo, um cão a andar de patins ou uma girafa de orelhas compridas).

Todas as crianças têm direito a começarem uma colecção não interessa de quê.

Todas as crianças têm direito a chupar o dedo indicador que espetaram num bolo acabado de fazer ou então lamber a colher com que raparam a taça em que ele foi feito.

Todas as crianças têm direito a tentarem manter-se acordadas até tarde numa noite de Verão, na esperança de verem uma estrela cadente e pedirem três desejos (a justiça devia fazer acontecer sempre pelo menos um).

Todas as crianças têm direito a escrever ou a falar uma linguagem inventada por elas (ou que julgam inventada por elas), como por exemplo a «linguagem dos pês»: «apalinpingupuapagempem dospos pêspês».

Todas as crianças têm direito a imaginar o que vão querer fazer quando forem grandes (habitualmente coisas extravagantes) e a perguntar aos adultos «o que queres ser quando fores pequenino?».

Todas as crianças têm direito a dormir numa cama sua, sentindo o cheiro da roupa lavada, e a terem um espaço próprio na casa, pelo menos a partir do ano de idade.

Todas as crianças têm direito a passear na rua tentando pisar apenas o empedrado branco (ou só o preto); em opção, têm direito a fazer uma viagem contando quantos carros vermelhos passam na faixa contrária.

Todas as crianças meninos têm direito a, pelo menos uma vez na vida, perguntar a uma menina «queres ser a minha namorada?» e todas as meninas têm direito a, pelo menos uma vez na vida, responder, «sim, quero».

Todas as crianças têm direito a ouvir um adulto contar pelo menos uma destas histórias: Peter Pan, o Principezinho ou o Príncipe Feliz.

Todas as crianças têm direito a ter alegria suficiente para imaginar coisas boas antes de dormirem e depois, a sonhar com elas.

Todas as crianças têm direito a ter um boneco de peluche preferido, especialmente quando velho, já lavado e mesmo com um olho a menos.

Todas as crianças (especialmente se já adolescentes) têm direito a usar os ténis preferidos, mesmo que rotos e com cheiro tóxico.

Todas as crianças têm direito a poder tomar banho sozinhas e a experimentar mergulhar na banheira contando o tempo que aguentam sem respirar.

Todas as crianças têm direito a jogar aos polícias e ladrões, preferindo inevitavelmente serem ladrões.

Todas as crianças têm direito a ter um colo onde se possam sentar, enroscar como numa concha e receber mimos.

Todas as crianças têm direito a nascer iguais em direitos.

Todas as crianças têm direito a conhecer o sítio onde nasceram e a visitá-lo livremente.

Todas as crianças têm direito a não ficarem sozinhas a chorar.

Todas as crianças têm direito a viver num País que tenha um Ministério da Infância e Juventude, que olhe verdadeiramente pelo crescimento afectivo e bem-estar interior (sem preconceitos adultocêntricos ou hipocrisias com ares de cromo abrilhantado).

Todas as crianças têm direito a acreditar que têm um adulto que olha por elas e as ama sem condição prévia (nem que seja Nosso Senhor).

Todas as crianças têm direito a viver felizes e a ter paz nos seus pensamentos e sentimentos.

Pedro Strecht via maus tratos na infância

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O enxoval

Já avançou mais um pouco, o enxoval. E a casa. Temos feito algumas mudanças: já tirámos as tralhas que estavam no futuro quarto da(s) criança(s) e mudámos o escritório para a divisão imediatamente ao lado, divisão essa que na verdade nunca tinha sido usada (era para ser um estúdio e acabou por ser um albergue de lixo espólio artístico que entretanto foi devidamente distribuído no ecoponto) ficando, assim, o antigo escritório transformado em... quarto de brincar! Yay!
Prefiro chamar-lhe "quarto de brincar" ao invés de "quarto dos brinquedos" porque me dá mais a sensação de acção :)
No quarto de dormir já vivem: alguns dos meus antigos peluches; uma boneca de trapos tipicamente canadiana - A Raggedy Ann; o mocho que a tia Ana fez; um Panda que comprámos - o primeiro brinquedo comprado pelo pai e pela mãe :) ; a Family Tree House, era minha e está em óptimo estado, pedi à minha mãe (a avó B) que a lavasse e ela assim o fez em modo ritual; e três quadros, um pintado pela minha sobrinha S (a prima S, portanto), outro que me foi oferecido pela minha avó materna e outro que me foi oferecido pela minha mãe, tinha ambos há muitos anos e só faz sentido estarem no quarto da(s) criança(s).
Entretanto, o Chaparro apareceu um dia com este livro em casa :) (um daqueles momentos tão cheios de ternura em que olhas para o teu companheiro de vida e pensas "oh céus, I Love this guy so much!").

Portanto, o enxoval, ou cesto da esperança, está a ganhar forma e nós gostamos de ir vendo a casa a ser habitada de futuro.

Também começámos a olhar para as camas nas lojas de móveis, mas essa compra ficará para quando soubermos quem serão os nossos filhos e algo mais sobre eles, para fazer uma compra mais personalizada de algo tão íntimo como o é uma cama. 

Há outras coisas que fazemos questão de adquirir em avanço porque achamos que serão apreciadas. E depois há os caprichos... eu queria tanto ter uma Sophie, the Giraffe Teether. Imagino que me vão chegar filhos com a dentição de leite já completa, mas um capricho é um capricho é um capricho. O problema é que este é um bocado* caro.

Cipreste


* bocado é eufemismo, eu sei

e um link

«Criancas a torto e a direitos é um espaço digital do Instituto de Apoio à Criança.

Sublinhando desde já que todos os nossos holofotes incidem sobre a Criança enquanto sujeito de Direitos, definimos os seguintes objectivos para este espaço:

Partilhar informações sobre eventos nacionais e internacionais, projectos, novas publicações e formação, disponíveis a nível nacional e internacional;
Disponibilizar materiais teóricos, metodológicos, científicos e pedagógicos relevantes e de referência sobre a Criança;
Divulgar de modo ágil, simples e célere as novidades, as acções e os conteúdos dos diversos sectores e serviços do IAC;
Dinamizar um espaço institucional complementar ao site do IAC e facilitador da comunicação bilateral instituição-comunidade.
Este blogue é coordenado e moderado por uma equipa do sector do IAC intitulado Centro de Estudos, Documentação e Informação sobre a Criança – CEDI (José Brito Soares, Ana Tarouca e Pedro Pires), contando com a participação de vários outros colaboradores do IAC.»

Adopção em Portugal - o bê-à-bá

Começar pelo Guia Prático da Adopção do Instituto de Segurança Social.

E um cheirinho do que são as sessões de formação. Um dia destes falo disto.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A vida é chorar e rir a vida inteira*

Tenho muito para vos dizer, muitos assuntos sobre os quais quero falar. Uns mais imediatos, outros mais generalistas. Mas os dias têm andado tão a vida é chorar e rir a vida inteira que me sinto francamente avassalada. Eu chego lá, eu sei que chego a um patamar mais funcional de novo, agora é preciso chorar e rir, tudo ao mesmo tempo e afincadamente, para depois continuar a chorar e a rir o resto da vida, da vida inteira.
Imagino que vos pareça incompreensível este recado, mas é o melhor que consigo neste momento.
Hoje é dia dos namorados - St. Valentine's Day, e não vou ser uma hater, vou ser canadiana de tipo "dia Hallmark" e dedicar isto ao meu amor, o meu querido (querido!) Chaparro. Não poderia imaginar amor maior na minha vida. Não poderia imaginar sentimento maior de paixão  e conforto, tudo ao mesmo tempo, de verdade, de uma verdade incondicional. Obrigada, meu amor.

Will you be my Valentine, Chaparro? 

Da tua,
Cipreste

Isto, com as devidas adaptações ;-)