segunda-feira, 8 de maio de 2017

Carpe Diem

As crianças só querem ser felizes. As crianças não querem chatear a cabeça a ninguém.

Ontem, vi um meme no facebook que era assim:

Ciclo da vida em 3 passos

1º nascemos
2º que raio é isto?
3º morremos

O meu pai disse-me, quando percebeu que já lhe restava pouco tempo de vida - olha que a vida são só 2 dias, eu pensava que eram 3, mas são mesmo só 2.

E é isto.

Nascemos, chateamo-nos e morremos. Não sei, nem me interessa explorar, se foi sempre assim, se alguma vez o Homem soube viver e se desaprendeu, etc. Acho mesmo que cada época tem as suas coisas boas e as suas coisas más e que não é possível fazer comparações. Se o mundo vai acabar um dia destes, ora porque implode, ou é invadido por marcianos ou outros, ora porque o próprio homem se aventure numa 3ª guerra mundial, também me interessa pouco.
Não hei-de ficar cá para a semente, nem me sentirei sozinha no inferno, certamente.
Uma amiga publicou um livro lindo e sereno, o ano passado. É um livro onde se vive devagar, ou antes, onde se vive. Spoiler: acaba assim “as pessoas deveriam ser deixadas em paz”.

E é isto, também.

E, também ontem, outro meme no facebook sobre a grande salganhada de competências aparentemente necessárias para se ser pai/mãe hoje em dia me fez rir de mim, de todos nós. Aquele riso de quem já está no limiar ora da loucura, ora de baixar braços e desistir.

Uff.
Estou cansada. Estamos todos cansados.

Não estou para aqui a desbaratinar como se eu fora uma carta fora deste baralho. Aliás, às vezes, penso que sou eu que estou a dar cartas neste eterno complicar da vida.
A verdade é que ainda não encontrei a solução para as coisas. A verdade é que tantas vezes ando com o coração nas mãos. A verdade é que, demasiadas vezes, me apetece fugir. Tornar-me uma espécie de auto-excluída da sociedade. Mas lá me vou lembrando que não posso fazer isso aos meus filhos.

Será que não tenho estofo para a vida? Serei uma fraca de espírito? Sim, questiono-me. Já o disse aqui várias vezes, não sou uma pessoa toda resolvida que já percebeu como é que isto funciona e só anda para a frente. Não, sou uma barata tonta, é ver-me a inverter marcha, andar para a frente, recuar, tomar outro caminho. Tudo, menos a, que me parece confortável, sensação de andar para a frente, em linha recta, tranquilamente, sem sobressaltos.

Não sei como é a vossa vida, mas a minha está sempre a mostrar-me como “oh, vês como podia ser pior do que há uma semana? Toma lá um novo sarilho e embrulha.”. Não estou a exagerar. Sendo bem certo que estou consciente de que as minhas escolhas nunca foram no sentido de uma vida despreocupada, também não era preciso exagerar. Há dias em que a dose é de tal modo violenta que ando com o estômago embrulhado.

É nesses dias que digo ao Chaparro “vamos embora”. Às vezes, ele diz “vamos”, outras vezes responde com a pergunta “para onde?”.

Chiça, mundozinho hostil, este. Quando foi que nos tornámos tão cruéis? Eu acho que a resposta a esta pergunta é a afirmação definitiva “nunca fomos bondosos”. Num sentido lato, comunitário.

Quantos fenómenos há de comunidades que tentaram e falharam? Então, se a solução também não está numa nova fórmula de comunidade, como é que poderemos viver nesta eterna investida de uns para os outros? Na defensiva? Não posso, não consigo, recuso-me.
Eu acredito nas pessoas.

Mas o que quer isto dizer - acreditar nas pessoas?
Acredito, acima de tudo, que não sou a única pessoa a querer o bem comum, para além do meu.
O bem comum, o que é isto? É viver e deixar viver.

Voltamos ao início, não é? Então, porque não o fazemos, porque somos tão cruéis uns com os outros? Ou, será que faço parte de um grupo de pessoas tão sensiveizinhas, umas imaturas, sei lá, que deviam mais era crescer e aceitar o mundo tal como é?

Uff.

Pode ser, sim, em parte. Mas também não é a resposta definitiva, pois se é verdade que me reconheço uma beca ingénua, também é verdade que sei identificar maldadezinhas desnecessárias.
O mundo avança e não espera por nós. Quem já perdeu um ente querido sabe disto. É assim, ponto. Mas eu penso que este facto não deveria servir para justificar porque avançamos tantas vezes sem poder abrandar o passo esperando por aqueles que não são como a grande maioria no ritmo.
Existe uma grande maioria de “nós”, sim. E existem milhentos grupos de minorias que sofrem por não ter o mesmo ritmo, mas o mundo não se compadece com minorias.



Enfim, este rol de ideias que vos trago hoje é uma grande salaganhada que provavelmente não se percebe e serve para desabafar sobre as provações a que os meus filhos estão sujeitos no dia-a-dia. Não lhes bastasse a vida lhes ter sido penosa na sua primeira fase, quando se tentam pôr de pé o mundo não espera por eles e rasteira-os, atropela-os, fá-los sentir diferentes, de facto. E eles confirmam “sou diferente”. O pior é o fluxo habitual das ideias “sou diferente, de facto, por isso todo o mal que me aconteceu, a culpa é minha, não presto, não mereço ser feliz” e, vai daí, o que se faz? Mais asneira. É um ciclo bem tramado de interromper, considerando que nós pais, ainda por cima, não somos perfeitos pelo que nem sempre temos a atitude que melhor serviria ao bem-estar dos nossos filhos. Fónix, pá. (pardon my french)



Suspiro.


Haja a noção de que hoje é um novo dia. A lembrança do pequeno-almoço-banquete que a minha filha me preparou ontem de manhã, levantada com a ansiedade desde as 6h30 e a preocupação do meu filho com o mundo:

Há dias…
- já se sabe quem é o presidente da república de França?
- vai a empate
- quem e quem?
- Macron e Le Pen (já intrigada por não me lembrar de lhes falar nisto)
- podias ir a França votar no Macron para a Le Pen não ganhar

(WTF?! Onde é que o puto foi dar conta disto tudo?) expliquei-lhe a necessidade de se ser cidadão do país para votar nas suas eleições

Ontem à tarde…
- já se sabe se foi o Macron que ganhou?
(a sério? Ninguém referiu as eleições, a tv esteve desligada o dia todo excepto para o zigzag)

Hoje de manhã, ao pai…
- já se sabe se foi o Macron que ganhou?
- sim
- ainda bem, é menos mau para os refugiados
(sim, ele disse isso, ele estava preocupado com isso!)


E é isto, amigos. É isto.
Mais, só mesmo lembrarmo-nos a cada dia de que somos imperfeitos (por isso se inventou deus) e que cada pessoa que atravessa o nosso caminho trava as suas batalhas, respirar antes de responder ou reagir aos outros. Quero tanto ser melhor pessoa. Quero tanto ser melhor mãe. Sei onde falho. Sei onde deveria ser melhor para os fazer sentir mais seguros e em que, ainda assim, vou falhando. Bolas!

E, ainda assim, sou recebida assim no dia da mãe:


As crianças só querem ser felizes. As crianças não querem chatear a cabeça a ninguém.

Bom dia a todos,
que o dia vos seja limpo,

Cipreste

quarta-feira, 5 de abril de 2017

curtas do último dia de aulas e do primeiro dia de férias

Ai que bom, amanhã podemos dormir até tarde!
A hora deles acordarem em dias de aulas é às 7h30. Habitualmente encontro os dois a dormir. Ele acorda facilmente. Ela é como eu, custa-lhe muito o despertar.


 ~

A que é que os apanho a brincar?
Às escolas, claro.


 ~

À noite, estou na cama a ler, são cerca das 11 e meia, oiço alguém a ir à casa de banho, vou espreitar. É ele. Pergunto se está tudo bem. Acena que sim. Só chichi. Beijo-o. Volto para a cama. Ele passa pelo meu quarto, dá-me um beijinho e diz "vou dormir só mais um bocadinho".


 ~

Hoje, antes das 7h30, passo para a casa de banho, do quarto dele vem uma imensa e gloriosa luz matinal. Está deitado na cama a ler.
Ai que bom, amanhã podemos dormir até tarde!
Haja uma rpé-adolescente em casa para honrar esta liberdade.






Finalmente, férias para os pequenos. Quem me dizia do desafio que é a escola (hoje em dia?), não estava a brincar. Uff. Siga, para bingo. E a procurar estar melhor com estas dimensões que não deixaremos que nos esmaguem. É curioso (e tão bom) como, da noite para o dia, se pode subitamente sentir as energias e esperanças renovadas.

Bom dia, bom dia :)

Cipreste

das limitações * das falhas * do perdão




terça-feira, 4 de abril de 2017

estamos nisto juntos: é o que quero gritar

«The experts say you are the solution but downplay the side effects. Few want to hear what the adoptees experience yet they continue to “know what’s best”. (...) You are so incredibly selfish.(...) You are still heartbreaking and sometimes it’s a struggle to have you around. You never leave. Ever.(...) Adoption, I do not love you, nor do I hate you. You are just you and we are in this together.»

Acredito que hei-de encontrar uma fórmula para estar activamente nisto com elas - as pessoas que foram adoptadas, enquanto família e enquanto comunidade. Mesmo confrontada a cada dia com as minhas limitações como mãe - vivo actualmente a maior angústia neste campo. Aos dois anos e meio de caminhada, estou ainda no início desta caminhada que será o cerne das nossas vidas. O trauma, esse mundo obscuro, não há-de tomar conta de nós. 
Ontem, chorei ao ler um texto sobre o autismo, porque é tão fácil encaixar tantas outras condições de vida nessa reflexão, condições que saiam da norma. Revi-me-nos:

proposta: troquem as expressões autismo e deficiência por adopção

« (...) começámos a transitar da disposição todas-as-crianças-têm-o-seu-tempo-próprio para o território muito mais inóspito do há-algo-de-errado-aqui (...) Rapidamente percebemos que aquela condição se manteria toda a vida e que era imperioso fazer o luto da criança idealizada para que a criança real encontrasse, na reconfiguração trituradora à qual por vezes temos de submeter os nossos melhores sonhos, o seu espaço vital. (...) Há que ter a coragem de nos despirmos de todas as explicações reconfortantes para o fenómeno da deficiência. Eu, por ser parte interessada e implicada, levei anos a fazer isso. Anos absolutamente injustos para o meu filho, que se via sempre, injusta e involuntariamente, equiparado à criança que nunca chegou a nascer, a criança perfeitinha das conversas que versam o tema da gravidez e do parto, a criança que o obrigámos a usar sobre o rosto como uma máscara de ferro. Eu levei muitos anos a abrir os olhos e o coração. Mas eu sou estúpido e lento. Vocês são melhores. Eu sei que são.»

Uau. 

Haja desconhecidos que nos escrevam. Haja honestidade, respeito, partilha e compaixão.

Bom dia a todos.
Que o dia vos seja limpo,
Cipreste

quinta-feira, 30 de março de 2017

"querida" adopção

Aqui  venho encontrar aquilo que nenhum pai deseja enfrentar. Mas tem de ser.

É urgente actuarmos - pais pela adopção e adultos que foram adoptados. Temos de caminhar lado-a-lado em prol de uma mudança.
É preciso que se inverta a marcha na forma como se encara a adopção.

Deu-se um passo quando se impôs a candidatos que encarem a adopção como "uma solução para encontrar uma família para a criança" e não uma solução para encontrar uma criança para os adultos". Mas não podemos ficar por aí.

Hoje, relembro-vos de que a adopção tem sido tratada como um fenómeno de supremacia dos adultos perante as crianças. Só porque somos mais fortes.

Vamos ouvir aqueles que por ela passaram? PASSAM. Porque, uma vez adoptado, adoptado para sempre. É muito bonito ensinarmos aos nossos filhos "tu não ÉS adoptado, tu FOSTE adoptado". Mas talvez fosse bom revermos esta imposição. A pessoa não "é" as coisas que lhe acontecem, mas a verdade é que o evento não "foi", não está no passado, faz parte da vida da pessoa.

É preciso desconstruir tudo e reconstruir. De raíz, com os construtores mais importantes disto: as pessoas que foram adoptadas.

São estas vozes que deveríamos estar a ouvir.

São estas vozes que tento ouvir. Depois, oh, depois é toda uma outra luta. O confronto connosco próprios no meio daquilo que são as necessidades dos nossos filhos. A minha maior luta actualmente é conseguir despir-me dos meus preconceitos e lutar contra as minhas limitações - que têm sido uma outra facção muito forte nesta luta (é uma luta!) pela saúde mental dos meus filhos. Não é o coração, não é uma história cor-de-rosa. Não são meras emoções baralhadas. São os alicerces necessários à formação do eu. São questões muito sérias e vitais - de vinculação, auto-estima, auto-confiança, confiança no outro.

 E que luta solitária que esta é. Pelas exigências devidas de sigilo e protecção.

 Afinal, a adopção trata do Superior Interesse da Criança ou do Superior Interesse do Adulto?

É mesmo urgente ultrapassar isto, é que, depois deste muro transposto não há um horizonte sereno, depois de ultrapassada esta primeira barreira, há todo um mundo de dor e de medo onde residem os grandes entraves a que os nossos filhos se sintam "pessoas"... "como as outras".

Enquanto não assumirmos a coragem de dizer que a adopção não é querida - é antes uma solução complexa para problemas muito graves que acontecem na infância, enquanto não percebermos isto, vamos continuar a encarar as pessoas adoptadas como umas sortudas que, na grande maioria das vezes, diz-se "são umas ingratas". É dose.

 Bom dia,
Cipreste

terça-feira, 21 de março de 2017

dias assim

Leio "irreparably broken" num texto e não consigo tirar dali os meus olhos. Com o estômago embrulhado.

quinta-feira, 16 de março de 2017

(pois) 10 razões para limitar a exposição dos menores de 12 anos a telemóveis, tablets e afins

O pediatra Hugo Rodrigues comenta à VISÃO as 10 razões apresentadas por uma terapeuta ocupacional pediátrica americana para proibir a exposição às tecnologias a crianças menores de 12 anos
A Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Canadiana de Pediatria recomendam que crianças dos 0 aos 2 anos não sejam expostas a nenhuma tecnologia e que o seu uso seja limitado a uma hora por dia a crianças dos 3 aos 5 anos e a duas horas por dia a crianças dos 6 aos 18 anos.
Mas o que se passa na realidade é que a quantidade de tempo que as crianças passam à frente das tecnologias é muito maior do que é aconselhável e, com isso, estão a prejudicar seriamente a sua saúde. Quem o diz é Cris Rowan, uma terapeuta ocupacional pediátrica. Num artigo que escreve para o The Huffington Post, alerta todos os pais, professores e governos para a importância de regular o tempo dedicado às tecnologias.
Pedimos ao pediatra Hugo Rodrigues, que escreve para a Bolsa de Especialistas da VISÃO, um comentário às 10 razões apresentadas por Cris Rowan para banir o uso de tecnologias a menores de 12 anos.

  1. Crescimento cerebral impróprio
  1. Atraso no desenvolvimento
  1. Obesidade
  1. Privação de sono
  1. Doenças mentais
  1. Agressividade
  1. Demência digital
  1. Vício em tecnologia
  1. Emissão de radiação
  1. Insustentável

A exposição excessiva a tecnologias tem sido associada a um défice do funcionamento executivo cerebral e de atenção, a atrasos cognitivos, a uma aprendizagem debilitada, à diminuição da capacidade de autoregulação e ao aumento da impulsividade.
O desenvolvimento cerebral só termina depois dos 20 anos na maior parte das pessoas, pelo que todos os estímulos a que as crianças e adolescentes estão expostos podem condicionar esse desenvolvimento.
Relativamente à capacidade de atenção, os estímulos dos chamados “ecrãs” são múltiplos e curtos, o que não estimula corretamente o funcionamento executivo, a atenção e aprendizagem. Para além disso, a capacidade de visualização 3D e orientação viso-espacial (coordenação entre visão e orientação espacial) encontra-se comprometida nos ecrãs, pois a imagem tem apenas duas dimensões e não três.
A impulsividade e a auto-regulação podem ficar comprometidas na medida em que mesmo a socialização que se consegue através das tecnologias está sempre intermediada por um aparelho, o que diminui a capacidade de controlo pela sensação de proteção que provoca. A este facto acrescem ainda os conteúdos (vídeos e jogos, por exemplo) que muitas vezes aumentam a agressividade e a impulsividade.
Por fim, relativamente ao défice cognitivo parece-me uma afirmação um pouco exagerada, porque essa relação é extremamente controversa e difícil de provar.
Porque implicam pouco movimento, as tecnologias acabam por atrasar o desenvolvimento da criança, e, por consequência, ter um impacto negativo no seu desempenho académico.
O desenvolvimento motor encontra-se condicionado pela ausência de estimulação nesse sentido. Particularmente a motricidade fina, que é a área mais afetada. Não tem nada a ver montar um puzzle num tablet ou com peças reais! A orientação tridimensional é algo que só se consegue com peças verdadeiras… Outro exemplo são as formas 3D, que num ecrã não existem (a esfera e um círculo, o cubo um quadrado, …).
Também em termos de linguagem, o desenvolvimento se encontra afetado. A linguagem verbal e escassa na maior parte dos programas e aplicações é muitas vezes “maltratada”, com abreviaturas e ortografia sem regra. A linguagem não verbal não se aprende sem socialização, porque requer contacto face a face e nenhum ecrã o consegue.
O uso da televisão e de jogos de vídeo está relacionado com um aumento da obesidade. As crianças que têm aparelhos tecnológicos nos quartos têm 30% maior incidência de obesidade.
Completamente de acordo. A obesidade é a epidemia do século XXI e o sedentarismo um dos seus principais fatores de risco. Para além disso, o contacto permanente com os aparelhos tecnológicos estimula também a prática de “snacking”, que é o consumo pouco regrado de alimentos pouco nutritivos e muito densos do ponto de vista calórico (por exemplo, bolachas, chocolates, batatas fritas, etc).
75% das crianças com 9/10 anos têm privação de sono, o que acaba por prejudicar negativamente o desempenho académico;
Também completamente de acordo. O sono é um aspeto fundamental do dia-a-dia das crianças e adolescentes e um dos pilares do seu desenvolvimento. Os ecrãs tem um efeito nocivo na quantidade e qualidade do sono, que tem obrigatoriamente que ser “combatido”.
O uso exagerado de tecnologias é considerado um dos fatores responsáveis pelo crescimento das taxas de depressão infantil, ansiedade, defeitos de vinculação, défice de atenção, autismo, transtorno bipolar, psicose e comportamento problemático da criança.
Esta relação é controversa, mas é verdade que o isolamento social e a dependência da tecnologia que se cria podem ter interferência no humor, levando a situações de ansiedade e depressão, por exemplo. Também os conteúdos dos programas e jogos pode moldar o comportamento nesta fase tão vulnerável, levando a comportamentos problemáticos.
Quanto a relação com autismo, psicoses e doenças bipolares, as tecnologias podem ajudar a que surjam episódios de descompensação, mas não atuar como causa dessas doenças.
As crianças estão expostas, através dos media e das tecnologias, a agressão explícita, o que pode influenciá-las a ter um comportamento agressivo.
Completamente de acordo. O controlo de conteúdos tem que ser uma prioridade para todos os pais. As crianças aprendem por imitação, pelo que tem que se selecionar muito bem tudo a que elas têm acesso.
Os conteúdos mediáticos de “alta velocidade” podem contribuir para um défice de atenção e para uma diminuição das capacidades de concentração e de memória.
Já expliquei um pouco no ponto 1. Apesar das crianças poderem ficar muito tempo ligadas às novas tecnologias, isso não significa que tenham uma grande capacidade de concentração. A questão é que os estímulos são muito curtos, o que faz com que, na verdade, elas não estejam muito tempo atentas, mas sim atentas durante pequenos períodos de tempo de cada vez.
Uma em cada 11 crianças, dos 8 aos 18 anos, é viciada em tecnologia.
Completamente de acordo. Este é um problema real, com o qual nós ainda não sabemos lidar adequadamente. Vai ser um enorme desafio nos próximos tempos porque se trata de uma verdadeira dependência em grande parte dos casos.
Em maio de 2011, a Organização Mundial da Saúde classificou os telemóveis e outros dispositivos sem fio com um risco de categoria 2B (possível carcinogénico), devido à emissão de radiação. As crianças são ainda mais vulneráveis a estes perigos.
Completamente de acordo. Hoje em dia vivemos completamente rodeados por radiações (Bluetooth, Wi-Fi) e muitas delas são ainda algo desconhecidas em termos de consequências para a saúde. O que é um facto é que existe a noção de que o número de casos de cancros em idade pediátrica estão a aumentar e tem obrigatoriamente que haver fatores ambientais que o justifiquem.
A forma como as crianças são educadas não é sustentável. Não há futuro para as crianças que usam a tecnologia em excesso.
Acho demasiado negativo dizer que não há futuro. Cabe-nos a nós, adultos, fazer as escolhas certas para podermos ajudar as nossas crianças a serem adultos saudáveis, felizes e responsáveis. Para isso, é preciso usar sempre o bom-senso e tentar retirar das tecnologias o que podem ter de bom sem sofrermos o efeito negativo do seu (mau) uso.

Depoimento recolhido por Sara Soares via Crianças a Torto e a Direito

quarta-feira, 15 de março de 2017

add to basket and checkout

Já havia colocado este livro várias vezes no meu "cesto de compras" da book depository, mas depois retirava-o. Ninguém quer ser confrontado com este assunto que desejamos inominável.
Não se preocupem, não comprei o livro por estar no limiar deste assunto, mas porque gosto de enfrentar os touros pelos cornos. Assim mesmo. 
Nenhum dos nossos filhos está identificado como tendo uma perturbação da vinculação. Quero apenas saber mais adiante.

Já troquei emails com este autor, este pai. Pessoa doce e gentil.

Sinto que é minha obrigação ler isto. É isso. No meu papel de mãe que tem medo do sofrimento dos filhos e no meu papel de activista na adopção. Este segundo papel há-de tomar uma forma mais concisa, para já recebo informação que tento digerir.


A rapariga por detrás da porta:

"A moving and riveting memoir about one family's love and tragedy...beautifully researched, and expressed" (Anne Lamott). Early one Tuesday morning John Brooks went to his teenage daughter's room. Casey was gone, but she had left a note: The car is parked at the Golden Gate Bridge. I'm sorry. Within hours a security video showed Casey stepping off the bridge. Brooks spent several years after Casey's suicide trying to understand what led his seventeen-year-old daughter to take her life. He examines Casey's journey from her abandonment at birth in Poland, to the orphanage where she lived for her first fourteen months, to her adoption and life with John and his wife, Erika, in Northern California. He reads. He talks to Casey's friends, teachers, doctors, therapists, and other parents. He consults adoption experts, researchers, clinicians, attachment therapists, and social workers. In The Girl Behind the Door, Brooks's "desperate search for answers and guilt for not doing the right thing without knowing what it was reveals the utter helplessness of suicide survivors" (Kirkus Reviews). Ultimately, Brooks comes to realize that Casey probably suffered an attachment disorder from her infancy--an affliction common among children who've been orphaned, neglected, and abused. She might have been helped if someone had recognized this. The Girl Behind the Door is an important book for parents, mental health professionals, and teens: "Rarely have the subjects of suicide, adoption, adolescence, and parenting been explored so openly and honestly" (John Bateson, Former Executive Director, Contra Costa County Crisis Center, and author of The Final Leap: Suicide on the Golden Gate Bridge) (aqui)

Aviso à navegação

Republiquei grande parte dos posts do passado (os que foram para dentro da gaveta em 2016, durante a nossa pausa)  ;)

(dias difíceis)

Por vezes, os dias não são fáceis. Aliás, por vezes, são mesmo difíceis. Há alturas em que olhamos a própria intuição com desconfiança, de tanto tropeçar nos dias. Há alturas em que a única coisa que resta é  procurar compreender melhor o que se diz, o que se estuda, o que se escreve sobre isto.
Queremos fazer melhor do que fazemos. Mesmo reconhecendo as nossas limitações e falhas, queremos fazer melhor. Queremos redimir-nos das falhas, queremos ensinar o perdão e, para isso, temos de começar por olhar as situações por outra perspectiva. 

No meio disto: o sofrimento duma família em que os membros se amam entre si.

Não esperamos uma cura da vida, mas desejávamo-la, temos de admitir isso. Procuramos levá-la para um lugar seguro e eu acho que o nosso amor não tem sido isso. Temos de (re)começar daí.
Vamos indo e vamos vendo. Queremos o melhor para que todos se sintam seguros e possam sentir alegria nos seus corações.

Transcrevo um excerto:

“Sometimes the road to loving your adopted daughter is long and twisted and scary. You know something is wrong – but is it her? Is it you? You drown in shame and confusion, hiding your feelings from the world. (…)My husband and I banded together to read everything we could on the syndrome. We made a dogged effort and a conscious commitment to help our daughter and make ourselves into a family. It was our daily work. We learned that parenting a child who has trouble bonding requires counter-intuitive parenting instincts – some that disturbed and surprised family and friends. (…) With the help of research and case studies, we had a tool box. Some advice was invaluable, some failed. Some techniques worked for a while. We were living inside a laboratory. I knew how lucky I was to have a partner like Ricky because so many marriages and homes are ravaged by the challenge of adopting difficult children.(…) She became more capable of showing anger rather than indifference. As her verbal skills developed, we had the advantage of being able to explain to her that we loved her and would never leave her. That we understood how scary it was for her to be loved by an adult and that she was safe.Progress took time – and the work of staying bonded with a wounded child is a life-time endeavor. That’s okay though because Julia has stepped out of the danger zone. She’s taken off her helmet and armor. She has let me become her mother. And I honor that trust by remembering, each and every day, how she struggles with subconscious demons and how mighty her battle is and will always be”.(aqui

Troquem ideias connosco, sentimo-nos sós. 


Cipreste

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

internet e informação não tratada

Bom dia, pais de filhos com smartphones, tablets e computadores,

Digam-me como lidam com o acesso ilimitado (não nos iludamos) dos vossos filhos ao mundo?
Falo de crianças com 10, 11, 12 anos que, não nos iludamos, mesmo que não tenham dispositivos destes, acedem a elas ora através dos amigos, ora simplesmente através dos computadores das escolas.

Os nossos filhos têm o mundo nas suas mãos e eu acho que não têm maturidade para lidar com a grande parte da informação que lhes chega através de um clique.

Ajudai-me a lidar com este facto, por favor.

Grata,
Cipreste

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

O Grito

Cada pessoa pensa os seus assuntos como as urgências do mundo, eu sei. É urgente tratar a questão dos transgénicos e da eutanásia, é urgente o reconhecimento do direito à sexualidade das pessoas com deficiência e que todos aprendamos língua gestual, era urgente que se salvasse aquela espécie que foi declarada extinta o ano passado. O meu assunto também é urgente, porque os meus filhos estão a crescer. E estão a crescer tão depressa.

Em breve, a minha filha será adolescente. Sinto esta gravidez da adolescência com um temor maior que o do parto que nunca fiz. Dizem-me que não reconhecerei a minha filha. Mas eu quero reconhecer a minha filha. Sempre. Quero que ela se reconheça e não sei como fazê-lo. Passo dias e noites a tentar engendrar uma fórmula para solucionar este enigma, para lá do amor. E fico cheia de medo, com vontade de gritar.

O meu filho escreveu-me uma carta que é uma declaração de amor, lá pelo meio escondeu esta pergunta “mãe, eu confio em ti, por isso gostava de saber a tua opinião sobre mim”. Um dos seres mais maravilhosos que existem à face da terra, e não sabe disso. Como posso fazer para que saiba? Como o posso amar ainda mais? Quis gritar.

Saio de casa e chego ao mundo. Quero encurtar a distância, quero que a nossa casa seja o mundo. Mas não está a ser, a nossa casa está a ser um refúgio, um bunker. Entramos aqui, fechamos a porta e enroscamo-nos uns nos outros. Como se tivera sido ontem a retirada dos meus filhos aos seus progenitores e estejamos a consolá-los do que aconteceu ontem. E sinto esta bola, esta esfera na garganta. É o mundo todo dentro da minha voz.

Penso: será que estamos a dar um tom trágico ao desenvolvimento normal de uma criança? Decido que era isso. Descanso dois dias. Acontece algo impensável. Novo susto. Ficamos interrompidos novamente. Revemos actos e omissões a tentar analisar a origem do mal. Questionamos-nos: será isto uma interrupção? Às vezes, chegamos à conclusão de que não era - estávamos a sobrevalorizar um evento, outras vezes, dói tanto de ter a certeza de que é o resultado de se ser abandonado.

Demos o nome às coisas: os nossos filhos foram abandonados numa casa estranha cheia de estranhos.
Ninguém sai incólume disto.
Ninguém.


Quando o meu pai morreu eu estava lá. Vivi um momento major. Estive próxima da origem da vida.
Passado algum tempo, talvez um mês, fui à praia com eles. Fomos os quatro. Era Inverno. Éramos só nós. E o mar. E o vento. Gritei. Gritei de verdade, de dentro de mim. Gritei um adeus que tive pudor de gritar de madrugada no hospital.


Convidei-os a gritar. Mas eles não têm coragem, ainda. Mas eu queria tanto que eles conseguissem gritar.


Eles também perderam o pai. E a mãe. Se é que os chegaram a ter. mas receiam gritar. Os meus bichinhos receiam o que possa haver para lá do grito. E a minha missão é mostrar-lhes que o que existe para lá do grito não é mágico nem instantâneo, mas é libertador.





E eu, eu queria subir a um palanque e gritar ao mundo o bê-á-bá sobre o medo das pessoas abandonadas. Não é um medo igual ao meu, ao nosso. Mas isso é todo um outro assunto: como fazer “os outros” perceberem “isto” sem expor os meus filhos?

E é aqui que reside o motivo da minha ausência neste blog que tanta falta me tem feito: a privacidade da minha família.
Ando a tentar encontrar a fórmula para estar publicamente neste assunto que é não só privado, mas isso mesmo: público.

A adopção é um assunto de saúde pública. Saúde mental.

Como a língua gestual que todos deveríamos saber, a sociedade deveria estar sensível para estes assuntos da adopção e do abandono, para lá da lágrima fácil que estes assuntos induzem.
Um dia destes, hei-de encontrar um lugar seguro. Um lugar que me permita usar a minha voz em prol de pais e filhos - e restante sociedade. O meu contributo. Sem gritar.
Porque há aqui muitas falhas, e todos sabemos disso. Pois então, farei disto o meu activismo.
Em busca de novas auroras.

Bom dia a todos,
que o dia vos seja limpo,
Cipreste