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segunda-feira, 7 de março de 2016

But I believe in love

Não é para deprimir ninguém :) é só porque sim, chamemos-lhe "banda sonora para este fim de tarde".

terça-feira, 1 de março de 2016

A Vida Breve

Estou no carro com o Chaparrito à espera que a Magnólia saia da escola. São 17.50. Ouvimos rádio, como sempre. Antena 2, como quase sempre. 
O Chaparrito pergunta-me - são quase horas do teu programa, não são, mamã?
- Que programa, filho? - pergunto, espantada, para me certificar 
- Aquele da poesia
- Foi há uma hora, filho - respondo, pensando Oh, coisa mais boa da sua mamã.

Refere-se ao A Vida Breve que passa pelas 16.50.

Estas coisas dos miúdos. Estas atenções às pequenas coisas provocam-me um contentamento, uma excitação que foi muito bem explicada pelo meu pai. Quando as minhas sobrinhas se saíam com coisas deste género, ele olhava para nós com um ar simultaneamente derretido e indefeso e dizia “dá vontade de uma pessoa se atirar para o chão”. É isso. 

O meu coisa-mais-boa não foi ensinado verbalmente deste facto da mãe parar quase todos os dias por  volta dessa hora para ouvir os poetas a dizer a sua poesia. Provavelmente, já aconteceu pedir-lhe para se calar porque queria ouvir aqueles minutos que passam tão depressa, mas não tenho ideia de falar do programa.

Observou-me.
O meu filho observou-me.


Chamem-me novata nesta coisa de ser mãe, mas eu sou uma eterna espantada e estas coisas deixam-me pasmada. Não, eu não acho que o meu filho seja estúpido que não conseguisse aperceber-se de um pormenor destes, nem acho que seja preciso um génio para o fazer. Foi a forma como o verbalizou, o tom, o carinho, o reconhecimento de "uma coisa da mãe".

O meu filho observou-me em silêncio e eu acho isso absolutamente extraordinário.

Deixo-vos com a maravilhosa peça que faz o genérico deste programa perfeito em tudo menos na duração.
Bom dia,
Cipreste


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

ENDOMETRIOSE ~ Marcha Mundial

Tenho-me apercebido de uma coisa nova em mim, uma viragem na forma como lido ultimamente com as coisas: uma vez resolvida determinada questão, saio dela, faço quase como que um abandono.

Vai fazer dois anos que fui histerectomizada (com anexectomia bilateral), que vivo sem dores, que disse adeus à endometriose. Desde então, quase que abandonei a luta em grupo, o apoio, a entre-ajuda. Eu não era assim. Depois vieram os meninos e eu pensava que andava arredada do grupo apenas por causa dos meninos.

A semana passada comecei a reflectir sobre a minha cada vez maior resistência e consequente incapacidade de lidar com uma situação com a qual sou confrontada diariamente e me obriga a fazer das tripas coração porque me traz sempre com a lembrança do meu pai.

E eis que... Eureka! 

Percebi o que se passava.

Custou-me a chegar lá porque se trata de uma viragem de tipo 180º.
Eu era aquela que enfrentava todos os touros de frente, procurava pegá-los pelos cornos e não largava até os deitar ao chão. E ficava ali a escarafunchar.
Mas uma pessoa muda. Pelo cansaço, uma pessoa também muda.
Por exemplo, eu via os maiores dramas do cinema e saía ilesa. Deixei de o conseguir fazer. Escolho muito bem o que vejo porque os efeitos secundários ficam muito localizados, ficam no lugar da angústia. E eu deixei de ter a mesma resistência à angústia. O que me traz em gestão controlada da mesma.

As minhas avós chamavam à coragem para enfrentar os touros de frente de “ter estômago”. Podemos dizer que as pessoas se vão dividindo entre as que têm estômago e as que não têm estômago.
Eu fui sempre uma gaija com muito estômago. Até profissionalmente fui sempre escolhendo as “piores” áreas de trabalho no que concerne sofrimento.

Mas estou cansada. O meu coração pediu-me tréguas.
Lembrei-me agora desta passagem, rápida e aflita, d’O Fugitivo de Sérgio Godinho:
É impossível
não é possível
correr tanto
e pensar tão
lucidamente
o coração
não aguenta
a cabeça também não
porque tenta
ultrapassar os seus limites?  
(oiçam, a sério, é boa demais esta obra)

É isto. Por agora, dei os meus 5cents para determinados temas. Em muitos momentos, ultrapassei os meus limites. Foram muitos eventos de vida traumatizantes em tão poucos anos. Preciso descansar, preciso de gerir a minha energia.

Sinto forças para estar no tema da adopção, porque ainda tem muita água para passar por debaixo da ponte e sinto muito estômago para a fazer escoar.

Sou solidária com todos os que estão nesta luta da endometriose, na luta contra cada um dos sofrimentos, mas o meu estômago não aguenta estar activa nesse lugar. Concerteza perco muitos momentos de comunhão. Poderia participar com ideias, com trabalho de facto, podia ajudar, mas não consigo.  Há umas semanas, aproveitei uma oportunidade, um contacto, para passar a mensagem junto de uma pessoa "conhecida" e fi-lo, farei sempre este tipo de abordagens, mas acho que não consigo mais por agora. Importa assumir isto, acabar com o equívoco (meu e dos outros) sobre expectativas da minha eventual participação. Neste momento, não consigo. Um dia destes, quem sabe possa voltar ao grupo de apoio.


Assim, fico-me pela adopção, onde há tanto para pensarmos e ver se fazemos algo mais concreto (na informação e apoio, por exemplo) nesta área (não sou só eu que sinto falta, pois não?).

Resta-me agradecer a quem faz da endometriose a sua causa, uma parte dos seus dias, e ajudar na sua divulgação.


Copiei integralmente a seguinte mensagem do site do site da Associação Portuguesa de Apoios às Mulheres com Endometriose:
No Sábado, dia 12 de Março de 2016, realizar-se-á, uma vez mais, uma marcha que pretende ter presente o maior número de pessoas possível, com o intuito de divulgar esta doença, que afecta tantas mulheres, mas que é ainda muito desconhecida e por isso mesmo, o seu diagnóstico é bastante tardio. Este ano o dia da Marcha não coincide em todos os países tendo sido dada a cada um a liberdade para escolher o dia que fosse mais conveniente para o seu país!
Em 2014, a nossa primeira marcha, foi um verdadeiro sucesso, contando com cerca de 200 pessoas. O ano passado ultrapassámos as 300 pessoas sendo um dos países em todo o mundo com maior adesão. Este ano queremos mais, muito mais!
Para se manterem a par de todos os preparativos para este grande evento, que este ano se realizará na cidade de Lisboa, por favor juntem-se à página do evento no facebook ou mantenham-se atentos ao nosso site!
Ajudem-nos na divulgação, ajudem-nos a ajudar. Juntem-se a nós neste dia tão importante que fará a diferença para muitas mulheres que por todo o mundo sofrem em silêncio sem um diagnóstico.
A participação no evento é gratuita mas para receber um kit de participação necessita de estar inscrito! Por favor façam as vossas INSCRIÇÕES AQUI

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

num segundo se evolam tantos anos

AVISO: não foi, nem é minha intenção, mas este post pode ser um pouco (muito? nem sei) depressivo



- - -


Eu sou muito cómica, a sério, divirto-me muito a mim própria. Devo ser simultaneamente a pessoa que mais me entedia e a pessoa que mais me entretém neste andar à roda com os assuntos - baralhar, voltar a dar e baralhar de novo.
Confesso que tão depressa é divertido (no sentido cómico) como também cansa.

Então… não é que, por causa do post abaixo, me fui lembrar da canção da Aimee Mann – Wise Up desse filme grande que é o Magnólia (oh, coincidência néscia a do nome deste filme com o nickname que arranjei para a minha filha neste blog).
E, como se não bastasse, fui ver o vídeo.

Oh, minha nossa senhora das chafurdeiras na dor, tende compaixão de mim.


Vou deixar-vos já o vídeo, para os mais corajosos.



Agora, reparem no que me aconteceu ao ver o vídeo, faço-vos acompanhar da letra da canção e da minha interpretação (podem pôr a tocar de novo se pertencerem, como eu, à congregação de nossa senhora das chafurdeiras na dor)...

Primeiro, a imagem do meu pai e eu com ele nas suas últimas horas. Que dor. Que dor!
É bem certo que guardo estas horas como um dos meus maiores tesouros.
A vida não me deu o primeiro suspiro dos meus filhos, guardou outro requinte para mim, deu-me o último suspiro do meu pai.

Estou eu a achar que a dor de consciência por me irritar com os meus filhos é um problema, vou ouvir música para lamber feridas (sou tão estúpida,  tão freudamente… estúpida) e dou de caras com esta imagem deste vídeo que já vi milhentas vezes. 

Não me posso queixar, eu é que fui à procura. Lágrimas, portanto.


Sigo com o vídeo, aquele “you’re so stupid” dito em sussurro. Outro murro.

E aparece-me a minha mãe, viúva. Dói de novo.

Depois, começamos a aparecer todos. A imagem do cheque pago pelo “superior knowledge”. Conhecimento superior my ass. Continuamos tão básicos e primitivos como desde Edgar Adão e Eva ou lá como se chamou o primeiro Homo Sapiens (sabem que quer dizer “wise man”, certo? hahaha).

Seguimos, não fazemos pausa no vídeo. Aparecem os medicamentos novamente, as drogas, o álcool. Não, nem esses nem a grande sapiência da medicina te vai trazer a resposta. Estúpidos! Pensar que pode existir uma cura para a existência, estúpidos.

Nem a água da chuva há-de lavar a tua dor.

Desde os mais acompanhados aos mais solitários, estamos sós na nossa essência, na nossa busca.
E a derradeira imagem da infância. Saber isso desde a infância (deve ser a tristesse que sentia em criança). Essa imagem da criança frente a um livro (pois não, também não está nos livros, amigo) e verbaliza: give up.

Saber, desde o início – o do mundo e o nosso, o de cada um de nós, saber que há uma parte disto que só vai começar a funcionar em plenitude quando tivermos a sensatez de parar de querer saber a solução para o mistério da vida


Por vezes, só por vezes, como disse David Mourão-Ferreira no poema, E por vezes por vezes ah por vezes/ num segundo se evolam tantos anos.


- - -

Comic reflief: quando acabei de ver o vídeo, ligou-me uma pessoa que não conheço, apresentou-se, chama-se... Dores.

A sério, acho isto bastante divertido.

Não se zanguem comigo se levarem daqui uma pontinha de angústia. Desculpem qualquer coisinha. Vou pensar nalguma coisa para vos deixar aqui à laia de melhor disposição para o fim-de-semana.

Um abraço,
Cipreste