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quinta-feira, 3 de março de 2016

o melhor sítio do mundo com as melhores pessoas do mundo

As madrugadas, oh as madrugadas. Agora, deito-me ansiando pelas madrugadas.
Os meninos entraram num ritmo em que vêm ter à nossa cama de madrugada. Depois dos pesadelos de Janeiro, tornou-se apenas e simplesmente na nossa rotina. Não é por nada, é porque acordaram e, os bebés, bem se sabe, quando acordam de madrugada é para irem para a cama dos pais. O emaranhado de cabelos e pés e pernas e bracitos (oh, os bracitos) e beijos ensonados que acontecem ali pelo meio são a coisa mais tremendamente ternurenta do mundo.
Sonhei tantos anos com isto. Sonhei tanto com isto. E é verdade, é bom, é tão bom.

E temos noção de que há que aproveitar o momento.
Eu sei que é horrível o que vou dizer, mas sinto tanto a efemeridade destes dias. Talvez tenha sido o desencanto provocado pelos anos a sonhar sem alcançar, ou os 13 cm (e meio) que me tenham provocado esta consciência de que este momento vai passar depressa. Que não há-de ser em muito tempo que já não apareçam no nosso quarto.

Sou assim, penso coisas destas, assim. Valha-me este ímpeto para viver e aproveitar o momento.
Tenho um álbum cheio de fotografias dos meus filhos a dormir. Adoro vê-los dormir, todas as noites vou espreitá-los, muitas dessas noites não resisto a registá-los. 

Às vezes, penso se não deveríamos fazer uma coisa destas. Para aproveitar melhor.

family bed
Fico a sonhar. Vou espreitá-los. 
Talvez tirar uma fotografia. Ansiar pela madrugada.
Para ficar suspensa no momento, no melhor sítio do mundo com as melhores pessoas do mundo.

Boa noite a todos,
Cipreste

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

gripes emocionais

O fim-de-semana chegou. O fim-de-semana voou. Nele coube tanta coisa que parece ter sido uma semana. Vimos paisagens maravilhosas, Portugal é um país tão bonito. Trabalho e lazer. Ou "trabalho que é lazer" e mais lazer. Comida gostosa (que também faz parte da felicidade). Pessoas do melhor que há, de calibre boa gente
É tão bom sentirmo-nos rodeados de gente boa. Podermo-nos despir de cuidados no que dizemos. Poder dar uma opinião sem recear ferir sensibilidades, ser interrompida ou interromper em liberdade, ser calada ou poder mandar alguém calar porque se está a dizer disparates. Discordar ou concordar, no conforto da cumplicidade. Sorrir. Rir. 
Nem sei se tinha dado conta, andava um bocadito cansada dos ambientes que se crêem subversivos e contra o  politicamente correcto mas que, vai-se a ver, e é, afinal, tudo politicamente frágil

Adiante, que eu quero é dizer que o meu fim-de-semana foi muito doce. Os meninos conviveram com amigos novos. Brincaram muito. Comemos quase sempre em restaurante e eu fico tão orgulhosa da forma como os meus filhos se comportam em público. Dormimos numa espécie de camarata, os quatro. Fomos convidados para um jantar de família de pessoas que não conhecíamos. E ali nos envolvemos. 

E fiquei doente. 

Pois. 
Sábado à noite, após o tal jantar em família, subitamente comecei a ter sensação de “anginas”. No espaço de uma hora deixei de conseguir falar e engolir saliva. Fomos para “casa”, tomei uma dose de brufen e aspegic e cama. Os meninos ficaram assustados, coitadinhos. Pus-me a (tentar) rir e tal para os tranquilizar, mas nada. O que eles queriam era aconchegar a mãe. Estive 12 horas na cama e acordei (quase) fina. Eu nunca fico doente, tenho estas ameaças, tomo doses cavalares e consigo sempre reverter o processo em cerca de 12/24 horas. Ontem, tinha sensação de cabeça oca (o Chaparro disse-me que sempre fui assim, só que às vezes não dou conta :) ). 
Hoje, estou ainda com o corpo dorido, mas a cabeça já me parece inteira. 

Nunca fico doente. A endometriose foi a minha maleita, mas já passou. Fico muito escandalizada de cada vez que se me dão estes chiliques. Porque gosto muito de me gabar de ter saúde de ferro. 

Tenho uma teoria sobre estes episódios de ameaça que acabam sempre por recuar e não se traduzem em gripes ou outros, de facto. Eu acho que, quando faço viagens emocionais muito intensas fico mais frágil e o meu corpo reage assim. Ao invés de me dar para as crises de pânico ou assim, fico com sensação de gripe. 
A semana passada foi intensa em reflexões. Culminou na sexta-feira, quando fiz aquela pequena viagem emocional assim para o intenso. Depois foi o serão de sexta-feira, copos com trabalho e muito riso. O dia maravilhoso de Sábado em que cumprimos uma agenda enorme e convivemos. A envolvência daquelas pessoas, tudo, tudo me trouxe muita comoção e acho que o corpo deu de si. 

Lembram-se desta crise que descrevi? E quando o meu pai faleceu fiquei sem voz vários dias (e não foi por ter gritado ou chorado intensamente), com queixas respiratórias que não se traduziram num diagnóstico de facto. Agora deu-me para a somatização? 
Acho que o número de vezes que isto aconteceu já me deixam confirmar a teoria, são crises agudas de gripe emocional. 

Bom, mas agora é segunda-feira e há uma semana inteirinha de muito trabalhinho pela frente. 
Vamos a isto, 
boa semana a todos, 
Cipreste

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

às vezes, não, não está tudo bem

Tenho lido tanto sobre como lidar com as contrariedades na parentalidade que já tudo me parece a mesma coisa. Neste momento, sinto que a informação está emaranhada num rolhão ali entre o meu cérebro, o meu coração e o meu botãozinho da reacção.

Educar é difícil, muito difícil.
E eu vivo com esta nuance da educação na adopção.

Muitos me dizem que ah, e tal, educar é difícil, ponto. Independentemente de o fazer num contexto de adopção. Sim, mas não.
Quando fizemos uma das formações com a equipa de adopção, tivemos um exercício sobre crenças e mitos. Lembro-me de me quedar muito tempo sobre esta questão: há diferenças entre as famílias adoptivas e as famílias biológicas. Parece fácil de entender, isto, não é? Porém a questão toca ali nas nossas convicções de tipo “ora essa, somos como qualquer outra família”. Da mesma forma como poderá reagir uma mãe a quem eu diga que acho que tem o trabalho mais facilitado por o seu filho ter vivido sempre consigo – não obstante a eventualidade de ter dificuldades próprias. Pois, são diferentes. As famílias, os filhos. A semelhança está no amor.

Quando me frustro e me zango com os meus filhos, quando arrefeço e me arrependo de morte, há uma pedrinha especialmente aguçada que me magoa a alma, a pedrinha da adopção. A pedrinha que me lembra que, não obstante estarmos todos a fazer o nosso melhor, o melhor deles é muito mais esforçado e dorido e doloroso e corajoso do que o nosso. E lembro que não detenho a informação “toda”. Que a codificação, processamento e tradução que fazem das minhas abordagens não está munida da total confiança de que sou deles, toda deles. 
Eles sofreram quebras, rupturas, interrupções no processamento, no seu desenvolvimento de competências que incluem, por exemplo, a confiança no adulto, na sua permanência.
Caramba, eu decorei isto a primeira vez que o li: a vinculação só é considerada completa aos dois anos após a adopção. Mais coisa, menos coisa, ok. Antes decorei a teoria, agora já percebi isto na prática, na pele, já o senti, já sei que é verdade, que não é um mito.

E falho na mesma,
E continuamos, ainda assim, com toda a bagagem que nos permite, pasme-se, reagir como se fôssemos pais biológicos. Os nossos botõezinhos não sabem que estes filhos não estiveram sempre connosco. Aos nossos botõezinhos só deve chegar a informação do amor, digo eu.

Zangarmo-nos com um filho, esquecermo-nos pela milésima vez da promessa de que não voltamos a gritar é normal, é humano. No entanto, quando há uma lacuna na história da família, essa humanidade assume em nós pais uma transformação que faz pesar terrivelmente a dor da nossa falha - como uma quebra na promessa que fizemos aos nossos filhos. A promessa do amor. Nós sabemos que, não obstante o ralhete, os continuamos a amar, mas nunca temos a certeza de como fica a certeza deles.
Depois, a vozinha cá dentro grita-nos e arranjamos maneira de inserir no meio do ralhete “a mãe ama-te muito, não se trata disso, trata-se de não estar nada satisfeita com o teu comportamento”. Ah, e nem sempre a vozinha chega a tempo, e nessas vezes ficamos ainda pior. Na fossa, como se dizia quando eu era adolescente, ficamos na fossa.

Bolas, amamo-los, são os nossos filhos, queremos o melhor do mundo para eles e fazemos isto. Bolas.

E, reparem, a informação que me chega diz que não devia reagir assim, não é? Porque já sei... os actos dos nossos filhos não o são “contra nós”, nem os nossos filhos nos amam menos por não seguir as nossas ordens orientações. Também sei que ficam aflitos e que ficam angustiados (oh, céus, angustio só de escrever isto).
Tantos livros e blogs e esses modernos trainers de famílias e cursinhos e quejandos já mo repetiram. Todos. E nenhum deles o fez com um traço sequer de originalidade que o distinguisse dos outros porque estão estamos todos a falar do mesmo: da humanidade de cada lado da parentalidade, de pais e de filhos. Das expectativas dos pais, do esforço e dedicação dos pais que, muitas vezes, parece cair em saco roto, do cansaço da associação a todas as outras tarefas da vida, da necessidade de colo dos filhos e da imaturidade neuropsicológica própria da idade dos filhos e, e, e que, afinal, só queremos, todos e cada um de nós, apenas... ser amados (no meio destas vírgulas todas que não consigo anular).


Hoje (ontem, escrevo já depois da meia-noite), zanguei-me com ambos meus filhos. Não quis gritar e consegui, hoje consegui, mas nem por isso fui mais simpática. Eles ficaram tristes, eu fiquei triste. Senti um desalento enorme, senti um cansaço enorme.

Às vezes, é muito difícil conciliar o colo todo que se tenta recuperar, com o colo do dia, com as coisas “normais” das crianças, com as coisas “extra” dos nossos filhos em particular, com a sopa, com os deveres, com as nossas coisas.
Às vezes, ficamos muito longe da teoria lógica que todos os experts que referi acima compilaram sobre o que é isso de vivermos em amor e comunhão.


Nesses dias, só me sobra assumir que fiz o meu melhor*, que amanhã quero procurar ser melhor do que fui hoje. E ir espreitar os meus filhos a dormir antes de me deitar.

* o problema é esta sensação de que o nosso melhor não chega, de que o nosso melhor pode fazer mal aos nossos filhos. Oh, angústia...




Nesses dias, tenho tolerância zero a pessoas que falam à professor Eduardo Sá, porque me fica sempre a parecer que, pese embora admitam que somos todos humanos e falíveis, o tom de voz parece dizer-me “ok, eu estou a desculpar-vos por serem assim defeituosos, e só assumo que sou humano por misericórdia com todos vós - mortais”.

Nesses dias, apetece-me dirigir a minha exasperação a algo, sei lá, a alguém. Alguém que não seja os meus filhos. Por isso, mantenho esta irritaçãozinha de estimação com a voz de expert maior do professor e evoco-a. Porque representa para mim todos aqueles que falam como se tivessem a situação milagrosa para isto e eu começo a suspeitar que ela, afinal, não existe. Que temos apenas de aprender a viver com isto e com a possibilidade do dia seguinte.

Vou calar-me, vou espreitar os meus filhos a dormir. 
Estou ansiosa por abraçá-los de novo pela manhã.

Carpe Diem,
Cipreste


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

mágoas


Já ultrapassei muitas das mágoas dos últimos anos. 

Há uma que é um pau-de-dois-bicos: a minha esterilidade.

Assim mesmo, com o nome à antiga. Fui estéril. Sou um campo estéril. 
O meu ventre foi estéril, não me serviu de nada, só me serviu para sofrer física e psicologicamente.

Nem sequer o parirás com dor me calhou.

O tempo passou. Tornei-me mãe. O meu coração tem filhos. E deixei de ter as dores físicas.

Sinto agora serenidade na forma como convivo com a infertilidade e o fim dessa história com a histerectomia, mas não sinto serenidade quanto ao facto de não ter sido eu a gerar, carregar, parir e amamentar os meus filhos. 
Estes filhos. 
Os meus filhos.
Magoa-me não ter sido eu. 
Se são meus - que são, não me faz sentido não ter sido eu a gerar, carregar, parir e amamentá-los. 
É como um buraco na realidade.


Ainda não consegui solucionar isto nem sei se é um desgosto que alguma vez venha a estar arrumado e num lugar de convivência sã com os factos.

Não são só os meus filhos que têm mágoa de não ter fotografias suas de quando eram bebés, eu também tenho - especialmente de fotos destas: mãe e filho, após o nascimento.

Tenho mágoa de não poder dizer: fui eu que fiz os meus filhos.
Estão a ver estes dois seres tão maravilhosos, alegres, compassivos, divertidos, disponíveis, bondosos, generosos? Queria gritar: FUI EU QUE OS FIZ.

Não o posso dizer, não fui eu, de facto, que os fiz.

Será egoísta? Não sei.
Sou consciente de que não tem nada a ver com querer anular a existência dos seus progenitores nas suas narrativas. Não tem a ver com as pessoas do passado, tem a ver comigo e com uma lacuna que existe na biologia dos meus sentimentos. 

Às vezes, penso que, no caso de algum dos meus filhos vir a ter os seus próprios filhos, essa imagem - deles com os seus filhos recém-nascidos (embora ambos digam que quererão adoptar, mas isso são outros quinhentos) - com os meus netos, possa vir a redimir a ausência da nossa. 
Não sei explicar onde fui buscar esta ideia, é até uma ideia que mais me parece ser uma fantasia. 
E agora estou a partilhar as minhas fantasias com pessoas que nunca vi? Oh céus, acho que ao contrário do que sempre pensei, afinal a escrita tornar-nos-á inconscientes? :)

Eu avisei, isto é um pau-de-dois-bicos, não há saída racional possível para este assunto, nem forma coesa de eu o conseguir explanar. 
Pelo menos por agora, porque é uma mágoa e as mágoas são tão só isso: dor de alma, desgosto. 
E a dor de alma não me deixa falar com nexo.

Talvez passe :)

Bom dia a todos,
Cipreste

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Queremos regressar

Olá,
Estamos a tentar encontrar a forma mais confortável para regressar:
sim, já somos pais, pais muito felizes e orgulhosos.

Já cá voltamos para apresentar a nossa descendência.
Até já. Ou até logo.
Tenham paciência.
Agora fazemos tudo mais devagar.

Um abraço,
Cipreste e Chaparro


edit: ao publicar o post, percebemos que passam exactamente 8 meses desde a última vez que cá estivemos... ena!

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

[da boca dos outros]

assim vai a vida
Daqui a umas horas saio para uma semana na França.
À mesa, combino com os miúdos como se vão organizar durante estes dias sem mim para lhes apanhar as pontas. Quando se dão conta de que o pai vai ter comigo a meio da semana, começam a trocar olhares cúmplices entre eles.
- Nem pensem em fazer uma facebook party!, digo eu, alarmada.
- Não te preocupes, mãe... (e riem gargalhadas velhacas.)
- Se fizerem aqui uma party, vão ser deserdados!
- Oh, não te preocupes: se fizermos aqui uma party, não vai haver nada para herdar!
A avó intervém na conversa:
- Se não se portam bem, fico aqui a fazer de baby-sitter.
Eles não se atrapalham:
- Vais ser a nossa party queen.

E assim vai a vida. Por estes dias algumas mulheres jovens têm andado a conversar em blogues sobre os motivos para ter filhos e eu, que em tempo útil nunca me lembrei de pensar nos porquês, estava capaz de responder que rir assim com eles é um bom motivo. Entre todos os outros que me hão-de ocorrer à medida que acontecem.
Daqui a umas horas saio para França, para os Alpes perto de Grenoble. Diz que lá o Outono também está magnífico. Levo a máquina fotográfica (sim, sabe-se lá que é que vai acontecer aqui em casa...) e talvez consiga mais uma resma de "quases".

por Helena