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quinta-feira, 17 de março de 2016

a vida é bela e isto é um poema

Ontem, eu e o meu filho participámos no clube de leitura da sua turma.
Trata-se de um clube organizado pela sua professora e que teve duas sessões o ano passado e já vai na segunda deste ano. Sempre muito bem preparado, com vários meninos a fazer a apresentação, calhando a vez a todos. Muita alegria e entusiasmo dos meninos e participação da quase totalidade dos pais, sempre em dias de semana a horas em que muitas pessoas acabam por ter de sair mais cedo para poder comparecer.

Nós participamos sempre, na última sessão lemos "O Pássaro da Alma" em família, sendo que o Chaparro fez de pássaro da alma, o mais lindo que já vimos até hoje.

Ontem, a sessão era sobre poesia. Expliquei ao meu filho o exercício do Cadáver Esquisito e fizemos um.

Ei-lo aqui, para quem não conseguir ler a imagem:

Cadáver Esquisito

Hoje vim ler
O macaco não sabe ler
Antes disso é preciso escrever
Eu gosto de escrever
É na escola que esta história começa
A história é gira
Porque gostamos de rodopiar
Eu gosto do rodopiar da minha mamã
Que rima com "romã"
A romã é doce
Ou amargo, o poema não tem de rimar
Rimar é divertido
Afinal para que serve sabermos rir?
Rir é amoroso
Pois sem amor nada somos
Nós somos divertidos
Alegres ou tristes, tudo faz parte da vida

A vida é bela
E isto é um poema.



Ele escreveu a verde e eu a vermelho. Não seguimos religiosamente as regras dos surrealistas. Escrevemos sempre partilhando a última palavra do nosso verso e virávamos a folha por essa linha "para não vermos". Foi uma bela e emocionante surpresa desdobrar a folha e ler o poema pela primeira vez.

Lemos o poema no final da sessão do clube de leitura e falámos aos meninos sobre como foi escrito, ainda abordámos a questão se a poesia será mesmo para comer (como disse a Natália Correia) e partilhámos uma parte da história da nossa família: o pai e a mãe do Chaparrito conheceram-se por causa da poesia. Foi o "uuuu" geral de olhos arregalados quando partilhei este segredo em voz de sussurro com eles.

Ontem foi um dia cheio de tantas coisas, coisas boas e menos boas, coisas chatas e coisas não-chatas

"a vida é bela
e isto é um poema"

Bom dia a todos,
Cipreste

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

talvez escrever

Estou cansada de desabafar sobre os meus problemas. Estou cansada de tentar colocá-los em perspectiva, de me acusar de me queixar de “barriga cheia”. Estou cansada de olhar para o lado, para os problemas dos outros e sentir-me indigna dos meus queixumes. Às vezes, estou simplesmente cansada de mim.

Cada vez menos confidencio com amigos. Na verdade, os meus únicos confidentes têm sido mesmo o Chaparro e este blog.

Estando eu própria cansada de mim, receio cansar os outros. Aliás, penso já ter cansado algumas pessoas que claramente se afastaram de mim nos últimos meses. Nem sequer sinto legitimidade para abordar essas pessoas. Sinto que posso ter sufocado um ou outro amigo com tanta intensidade de relatos de eventos em sucessão. Deixo-me ficar no meu canto. Disse-lhes um ou dois olás, perguntei-lhes como vão, responderam-me que vão bem ou que vão indo. E ficou por ali. Confirmei de mim para mim que as suas ausências se devem ao espaço que ocupo e que precisam de libertar para si. E assim tenho vindo a ficar no meu canto.

Não exploro o assunto solidão porque não o identifico, embora reconheça que o afastamento de pessoas que habitualmente fazem parte do nosso círculo íntimo leve a uma certa solidão. Mas não creio ser essa a solidão que sinto.
Resta a saudade do que foi e a consciência de que o que se foi não volta, nunca mais. Fico com a auto-estima periclitante e falo mais baixinho com quem quer que se aproxime de mim. Desejo não ferir os ouvidos das pessoas.
Reflicto sobre o bem-querer. Reflicto sobre a efemeridade.
Recuso-me a considerar que já não se fazem amizades como antigamente porque não acredito que antigamente é que era.
Começo textos sobre a necessidade que sentimos, que sinto, de cultivar a lealdade e apago tudo. E depois recomeço outro texto.

Não sou prisioneira da obrigação de se ser zen e detesto a tirania do optimismo. Apesar disso, e de reconhecer que todos temos os nossos dias, procuro fazer por contrariar o mal-estar interior. Acima de tudo, porque não gosto (mesmo nada) desta sensação de querer fugir, de fazer um sprint, ouvindo esta canção em repeat, e só parar quando chegar a um penhasco da Galiza e ficar ali em pendência com as minhas vertigens.

Há dias em que nenhuma solução se adivinha, há dias em que sentimos muito mais forte que a nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer*.
Hoje, a minha manhã foi regular, igual a tantas outras, cumpri o meu dever e fui almoçar. Não senti o sabor da comida, depois tomei um café e fui fumar um cigarro. Tenho fumado uns cigarros, ainda assim não me sinto consolada. Há pouco, voltava ao meu posto de trabalho e listava mentalmente os eventos e tarefas para os próximos tempos, sendo a ocupação mais importante a cirurgia da mãe-Chaparro, e o revolver a cabeça à procura de uma solução profissional para o Chaparro, seguem-se as ninharias que me levarão as energias: uma reunião hoje ao final do dia com outra entidade com que colaboro; retomar aquele compromisso que ficou interrompido com a minha cirurgia; preparar a formação do final da semana; preparar-me para a reunião de amanhã; preparar-me para a reunião de 5ªfeira e que levará à escrita de 3 resumos e 1 proposta de projecto que tenho de fazer até dia 25; preparar a formação de Outubro, e a de Novembro e a de Dezembro, sem falar na outra que começa no dia 22; contactar aqueles indivíduos que vêm ajudar nesta formação que começa no dia 22; (reparem que todas estas formações, excepto uma, são extra o meu emprego/horário de trabalho) inscrever-me na outra associação; pagar quotas; já agora, lembrar o Chaparro de pagar o selo do automóvel assim como da inspecção periódica; ah! e pagar aquela conta da oficina; inscrever-me no congresso profissional; planificar as 6ªs e Sábados que vou ter ocupados com formação que, essa sim, vou receber; e o sindicato (oh céus, como me deixei envolver em mais esta?!);  continuar a marimbar-me para a limpeza da casa, mas pôr roupa a lavar ur-gen-te-men-te; e decidir se sempre publico o meu livro.

O meu livro. Nunca vos contei: eu escrevo. Quero dizer, escrevo sobre outros assuntos que não só a infertilidade, a endometriose e a adopção. Escrevo uma coisa a que penso se possa chamar de prosa poética. Ando há anos (anos!) para publicar e parece que vai ser agora. São tudo textos escritos a anos-luz desta que hoje se apresenta como Cipreste. Embora este apelido venha da convivência desses dias. À distância, reli-os, e leram-mos em voz alta convencendo-me que, ok, é publicável.

Ao listar estas tarefas, pensei que não vou conseguir levar avante tudo isto. É demais, pensei. Não é um dia de cada vez, são 4 meses muito cheios. E senti o canso todo em miscelânea, senti os cansaços todos juntos dentro e fora de mim, como uma nuvem de fumo, mas de fumo indestrutível. E pensei que, uma vez que não tenho disponibilidade nem dinheiro para ir passar os próximos meses a Bora-Bora, talvez deva voltar a escrever sobre os outros assuntos que não só a infertilidade, a endometriose e a adopção. Ou, talvez, sejam  os mesmos assuntos, apenas todos juntos nesses dois que dizem obcecar os poetas: o amor e a morte.

Tenho uma vaga memória de me sentir mais perto do mundo quando escrevia sem travões. E eu que ando tão atreita a deixar-me vaguear ao deus-dará. Talvez hoje passe por um café antes de zarpar para casa e tente escrevinhar uma ou duas linhas com a alma toda lá dentro.
Em busca de me sentir mais perto de casa.

É isso: tenho saudades de casa.

Cipreste

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Sugestão do dia


Hoje comprei este livro para o filhote de uma amiga. Tenho um exemplar há cerca de 15 anos, oferecido pela minha melhor amiga. Passei a comprá-lo, de vez em quando, para adultos e crianças, indiscriminadamente. Já passavam alguns anos desde a última vez que o comprara para alguém. Emocionei-me quando o abri de novo. É bonito. Pronto. Era isso.
Deixei mais dois encomendados -  para uma adulta e para um crianço.
Achei que devia partilhar este segredo convosco. Estará certamente disponível na vossa livraria.
De nada. :)

Cipreste